Além de todo o transtorno que causou, o mal-explicado apagão também reacendeu o debate sobre a capacidade do Brasil de abrigar os dois maiores eventos esportivos do planeta. Das 12 subsedes da Copa do Mundo de 2014, cinco passaram algumas horas na penumbra entre terça e quarta-feira e a cidade do Rio de Janeiro, que em 2016 receberá os Jogos Olímpicos, esteve entre as mais prejudicadas pela falta de luz.
"A Fifa exige que haja fornecimento primário e secundário de energia, além de geradores nos estádios. Se falharem o primário e o secundário, sobram os geradores, que devem garantir o mínimo dos mínimos, ou seja, a realização do jogo e sua transmissão", explica Robson Calil Chaar, sócio responsável pelo tema Copa do Mundo na consultoria Deloitte. "Mas imagine o que será uma multidão de estrangeiros saindo do estádio e se deparando com a completa escuridão. Será o caos, que provocará danos irreparáveis à imagem do país."
Assim como a maioria dos especialistas, a Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib) defende que não faltaram recursos para o sistema de transmissão. "Nos últimos dez anos foram licitados mais de 32 mil quilômetros de linhas de transmissão, o equivalente a 35% de toda a estrutura atual", disse, em nota, o presidente da Abdib, Paulo Godoy. "Um sistema robusto, no entanto, não é absolutamente seguro e imune a falhas", lembrou.
A solução para minimizar a chance de transtornos não estaria, portanto, em expandir o sistema, e sim em adotar mecanismos que permitam prever dificuldades. É o que diz o analista José Ricardo de Oliveira, da consultoria Ernst & Young. "Se a origem do último apagão estava em Itaipu, em Itaberá, no clima, não é o que importa. Todos os fatores apresentam algum risco, e o que precisamos é de um sistema inteligente, capaz de monitorá-los."
Walter de Vitto, analista de energia da Tendências Consultoria, concorda com a necessidade de reforçar a fiscalização e o monitoramento. Mas pondera: "É inviável cercar completamente o sistema, o custo seria proibitivo". Se o país quiser "risco quase zero" durante a Copa, afirma, uma solução seria inverter temporariamente a lógica do sistema atual. "Por um mês, as termelétricas, situadas mais perto do consumo, seriam a fonte principal nas cidades-sede, e as hidrelétricas atenderiam o resto do país. Fica mais caro, mas garante o evento."
Nenhuma das estimativas para os custos da Copa e da Olimpíada que variam de R$ 80 bilhões a R$ 150 bilhões inclui a construção de novas termelétricas ou o uso intensivo das existentes. E ambas as opções são dispendiosas. Além disso, a Fifa impõe metas de sustentabilidade ("green goals") que dificilmente seriam atingidas por uma Copa "movida" a combustíveis fósseis.
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