Vila Barigui culpa obras por enchente inédita
Moradores da Vila Barigui e da Vila Nova Barigui, na Cidade Industrial de Curitiba (CIC), foram surpreendidos pelas fortes chuvas que castigaram a capital nos últimos dias. Vários deles reclamam que foi a primeira vez que o Rio Barigui transbordou a ponto de invadir as casas em até 1,5 metro de altura. Uma das duas pontes que fazem a travessia entre as vilas que ficam em meio às ruas Desembargador Cid Campelo e Arthur Martins de Franco desabou no sábado à tarde.
Há pouco mais de um ano, a prefeitura faz obras de perfilamento do rio para melhorar a vazão, incluindo limpeza das margens e desassoreamento, com o objetivo de facilitar o escoamento e evitar alagamentos. "Antes das obras, quando tinha o barranco, a água chegava ao máximo até o portão", conta Vilmara Jacinto, moradora da Vila Barigui. A família perdeu todo o mobiliário e também as televisões do pai, Vilson Jacinto, que utilizava a garagem como oficina para consertá-las.
Carlos Ricardo de Jesus, morador há 33 anos na vila da outra margem do rio, diz que essa foi a primeira enchente dessas proporções no local. "Depois do que aconteceu, não tem mais como ficar aqui", afirma. A casa às margens do rio foi uma das mais atingidas e praticamente tudo foi perdido. "Graças a Deus tenho a coragem de trabalhar para recuperar o pouco que tinha", finaliza.
Segundo o secretário do Meio Ambiente, Renato Lima, as ações feitas no Rio Barigui amenizaram os estragos causados pelas chuvas. "Foi feito o alargamento e aprofundamento do leito. O volume da calha do rio aumentou em 80%", afirma.
As obras no trecho sul do rio Barigüi (da Fazendinha até o limite com Araucária) foram praticamente concluídas e fazem parte do projeto para amenizar o problema das enchentes. Elas contam com R$ 798 milhões de recursos do município e do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC 2), do governo federal, e vão se estender para as bacias dos rios Belém, Atuba e Ribeirão dos Padilhas.
As fortes chuvas que atingiram Curitiba no fim de semana deram uma trégua ontem, quando diversas famílias ainda limpavam suas casas e contabilizavam os prejuízos. Ao todo, 16.204 pessoas e 4.851 casas foram atingidas na capital, principalmente nos bairros Boqueirão, Cidade Industrial (CIC), Caximba, Uberaba, Cajuru e Atuba, em decorrência da cheia dos rios Barigui e Belém. As 174 pessoas que estavam em abrigos da prefeitura voltaram para casa no domingo.
O CIC foi o bairro com o maior número de afetados, metade do total. Praticamente todos os moradores da Rua Aracy de Carvalho Guimarães Rosa perderam seus bens ao terem as casas invadidas pela água no sábado. A aposentada Sônia Moraes, que mora há 24 anos no local, perdeu cama, móveis e televisão. "Só sobrou a geladeira e a máquina de lavar. Dormi na casa de uma amiga anteontem [sábado] e agora estou com o colchão emprestado", revela.
A proprietária de uma loja de rodas, Célia Loubach, além dos prejuízos em casa e no comércio, procurava documentos em meio ao entulho espalhado pelo canteiro da rua. "Ainda tenho condições melhores que outras famílias. Estou repassando a ajuda que chegou", conta.
Até o começo da tarde de ontem, equipes de limpeza pública haviam recolhido perto de 300 toneladas de entulho pela cidade, mais de 35 só na CIC, onde a previsão era de que chegasse a 80 toneladas. A operação de varrição e carregamento dos entulhos no bairro mobilizou 70 dos mais de 200 homens e 27 dos 70 caminhões usados em Curitiba.
Caximba na lama
Ontem, todas as vias perpendiculares à Rua Francisca Beralde Paolini, no Caximba, estavam tomadas pela lama e por inúmeras poças dágua. O mestre de obras Acir dos Santos foi uma exceção entre os que perderam tudo. "Não perdi nada de valor, mas fiquei ilhado com minha esposa durante o fim de semana."
A maioria das famílias perdeu tudo. "Não sobrou nada, temos que recomeçar do zero", diz Rose Maria de Fátima que carregava com mais três filhos colchões, cobertas, roupas e alimentos doados. O auxiliar de construção Hilário Vitório estava na mesma situação, mas ainda não havia ido ao CRAS buscar doações.
A escola municipal Joana Raksa, no Caximba, acolheu 160 pessoas no sábado. "As 14 salas ficaram lotadas, mas ontem [domingo] já organizamos tudo e estamos funcionando normalmente", diz a diretora Roceli Maria Batista.
No CRAS do Caximba, havia fila pela manhã. Até o meio-dia, mais de 200 famílias receberam cestas básicas, roupas, colchões e cobertas. "Temos 150 pessoas trabalhando aqui no Caximba. A vulnerabilidade dessas famílias é muito grande", diz Edgar Otto, administrador da regional do Pinheirinho.
Escolas
Cinco escolas municipais de Curitiba atingidas pelas chuvas permanecerão fechadas amanhã. Estão sem condições de funcionamento a Escola Municipal Professor Dario Persiano de Castro Vellozo, Centro Municipal de Educação Infantil (CMEI) Barigui I e a Gibiteca Alceu Chichorro no CIC e Centro Municipal de Educação Infantil (CMEI) Meia Lua e a Unidade de Educação Integral da Escola Municipal Wenceslau Braz, no Boqueirão. São quase mil crianças sem atendimento. As crianças dos CMEIs poderão ser remanejadas para unidades próximas caso a família não tenha alternativa. A prefeitura trabalha na limpeza e reposição de materiais e equipamentos danificados para que as atividades possam ser retomadas o quanto antes.
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