Para apoiar motoristas do Uber ameaçados por taxistas, a empresa dona do aplicativo criou um telefone 0800 para os profissionais chamarem em caso de emergência. Uma central de segurança do serviço alertará a polícia imediatamente.
Nos últimos dias, episódios de violência envolvendo o serviço foram registrados em São Paulo, onde um motorista chegou a ser sequestrado e agredido, e em Belo Horizonte.
Na madrugada de sábado (8), o músico Marcel Telles, 34, que usa o Uber desde fevereiro deste ano, foi agredido na capital mineira por três taxistas após entrar num carro solicitado por meio do aplicativo. Ele estava acompanhado da mulher, Luciana Machado, jornalista do canal SporTV.
O casal saía de um aniversário na rua Alberto Cintra, em Belo Horizonte, quando Telles solicitou um veículo pelo serviço. Ao deixar o local, o carro do Uber foi fechado por um táxi, segundo o músico. “O motorista conseguiu desviar e seguir viagem. Quando a gente entrou na avenida Cristiano Machado, apareceram três táxis, que cercaram a gente. Um veio seguindo a gente”, conta.
Segundo ele, os taxistas disseram que ninguém sairia dali enquanto a polícia não chegasse ao local. “Comecei a questionar o meu direito de ir e vir e me disseram que eu estava usando transporte clandestino. Eu respondi que não era”, afirma Telles. Ao reconhecerem Luciana como jornalista do SporTV, os taxistas começaram a filmá-la com o celular e acusaram a Rede Globo (empresa dona do canal esportivo) de ser favorável ao transporte irregular, de acordo com a versão do músico.
Sobre a briga, Telles conta que colocaram o telefone no rosto de Luciana e que, por isso, a jornalista empurrou o taxista. “Eu filmei essa reação dele. Ele meteu a mão no meu celular e disse: ‘Tira essa câmera daqui’. Quando o cara me empurrou, um deles veio por trás e me deu uma gravata. Por nossa sorte, estava passando um carro de polícia. Minha mulher conseguiu parar o carro, e os caras fugiram”, relata.
Uber, tecnologia e sociedade
Nenhuma tecnologia permeia a sociedade sem que seja moldada por forças de estruturas sociais e tecnológicas existentes, tais como valores morais, culturais, leis e outras tecnologias. Veja o artigo de Rafael Milani Medeiros, designer, mestre e doutorando em Gestão Urbana pela PUCPR e pela Universidade Técnica de Berlim.
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Ele diz já ter tido problemas ao usar o aplicativo anteriormente. Em maio, ao esperar um Uber num ponto de táxi, vários taxistas começaram a fechar a via para impedir que o veículo chegasse até o cliente.
“Anotaram a placa do carro e ameaçaram o motorista. Falei: ‘Ninguém vai bater nele aqui, eu que escolhi, eu que estou pagando e a gente vai embora’. E eles deixaram a gente sair”, lembra.
Telles afirma que prefere o serviço por ser mais barato e seguro. “Um cara da Uber não anda a mais de 60 km/h, não desrespeita as leis de trânsito. Um dia eu e minha mulher estávamos dentro de um táxi e quase um ônibus passa em cima da gente. O cara é um taxista e não respeita a placa de ‘pare’. No Uber posso escolher a temperatura do ar-condicionado, a estação de rádio. Você viaja com mais conforto e mais segurança”, diz.
O músico conta ainda que já deixou de usar o serviço em alguns pontos de Belo Horizonte para evitar confusão. “Fui fazer um show na semana passada e tive que andar com meu equipamento na mão um quarteirão e meio para que um motorista me pegasse em outro lugar.”
Mesmo após a agressão, ele diz que não vai parar de usar o serviço. “Quando disserem que é ilegal, aí eu vou parar. Eu não quero abrir mão de um serviço melhor porque os caras querem tirar o meu direito de escolha”, diz.
Por nota, o aplicativo Uber afirmou ser “inaceitável o uso de violência para tolher o direito de escolha do cidadão”. A empresa ofereceu auxílio jurídico e concedeu R$ 50 de bônus ao músico.
Regulamentação
Nesta segunda (10), em uma audiência pública na Câmara Municipal de Belo Horizonte, foi criada uma comissão para achar uma solução para o impasse. O prazo é de 40 dias.
“A gente tem feito um apelo aos taxistas pela não violência e para que aguardem a tramitação dos projetos nas próximas semanas”, afirma o vereador Professor Wendel (PSB), autor de um projeto de lei para regulamentar o uso dos aplicativos na cidade.
Segundo sua proposta, todos os aplicativos terão de ter a situação regularizada junto à empresa de trânsito municipal, ter empresa com sede na cidade e seguir as legislações municipal, estadual e federal. Também serão multados estabelecimentos comerciais, como hotéis e boates, que incentivarem o uso de aplicativos irregulares.
“O Uber vai ter que se adequar, vai ter que virar Ubertáxi. Não sou contra nenhuma tecnologia e nenhum aplicativo. Uso aplicativo de táxi. Mas o que o Uber está fazendo é ilegal. Ele faz a intermediação de um transporte particular com a máscara da carona paga. Tem que seguir as regras que regem o transporte do passageiro individual”, defende o vereador.
A reportagem procurou o sindicato dos taxistas de Belo Horizonte, que não respondeu aos pedidos de entrevista com seu presidente.
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