Apesar de ser uma doença cuja origem é presumida há 5, 6 mil, a sífilis ainda custa a ser erradicada no Brasil. Na semana passada, o Ministério da Saúde, ao anunciar um novo programa de combate à enfermidade, admitiu que o país vive uma epidemia da doença. Segundo a pasta, somente entre as gestantes, o grupo mais delicado, os casos de sífilis cresceram de 151 em 2014, para 1.869 no ano passado. Já o número de bebês com menos de 1 ano com sífilis congênita passou de 29 para 650 no mesmo período. Em 2015, oito crianças morreram em decorrência de sífilis.
Quando o assunto são os adultos, o Brasil, ainda conforme o Ministério da Saúde, tem 42,7 casos da doença para cada 100 mil habitantes. No Paraná, a taxa é mais elevada – são 48,3 casos para cada 100 mil pessoas.
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Na avaliação do chefe da Divisão de DST, HIV, Aids, Hepatites Virais e Tuberculose, da Secretaria de Estado de Saúde (Sesa), Francisco Carlos dos Santos, a implementação dos testes rápidos na rede pública de saúde, em 2012, contribuiu para a ampliação da detecção da doença e, logo, de um maior número de registros. No caso dos testes rápidos, o resultado sai em até 20 minutos. “Hoje, há uma disponibilidade maior em fazer o teste, as pessoas não precisam esperar muito tempo para ter o resultado”, diz Santos.
Para se ter uma ideia, a Sesa registrou no ano passado um aumento de 80% nos casos de sífilis adquirida, a sífilis em adultos. O número de notificações saltou de 2.148 em 2014, para 3.876, em 2015. Já os casos de sífilis em bebês, os congênitos, quando a transmissão ocorre pela mãe infectada, cresceram 40%, passando de 560 em 2014, para 782 no ano passado. Os registros de sífilis em gestantes permaneceram estáveis – eram 1.189 casos em 2014 e foram contabilizadas 1.136 situações ano passado.
Em Curitiba, o cenário não é muito diferente. Os casos, relata o coordenador da Carteira de Serviços da Secretaria Municipal de Saúde, Marcelo Kolling, têm apresentado crescimento, sobretudo, entre grávidas. São 34% a mais de casos de sífilis neste público. Eram 327 gestantes infectadas em 2014. No ano passado, o número subiu para 440. “Percebemos que isso acontece muito porque as gestantes passam por uma testagem maior que o restante da população. Fazem o exame ao menos duas vezes durante a gravidez”, explica Kolling. As notificações de bebês com sífilis congênita aumentaram 16%, passando de 133 em 2014, para 155 em 2015.
Diagnóstico e tratamento
As pastas de saúde do município e estado têm atuado em duas frentes – diagnóstico e tratamento. A primeira tarefa é importante tanto para crianças como para adultos, já que a doença pode causar problemas neurológicos em estágios avançados e má formação em se tratando de bebês.
Em Curitiba, os testes rápidos estão disponíveis em maternidades e consultórios de rua. Nas Unidades Básicas de Saúde, é possível fazer o exame convencional, que leva 48 horas para ficar pronto. Quando o resultado é positivo, há um alerta para que a unidade de saúde do paciente faça uma busca ativa para orientação. “É preciso que as pessoas superem o desconforto de fazer um teste de sífilis ou HIV. Se não mudarmos isso, vamos continuar perdendo para a doença”, pondera o coordenador.
Como os exames de sífilis não apontam há quanto tempo o paciente está infectado, a doença, assinala Kolling, é tratada como se já estivesse em fase tardia. O tratamento consiste na aplicação de três injeções de penicilina benzatina ou tomada de comprimidos de antibióticos a cada 12 horas, por 28 dias. “ Também é importante continuar o tratamento até o fim. Muita gente, depois da segunda injeção, deixa porque já não está sentindo mais nada”, comenta.
A Secretaria Municipal de Saúde estima que, dos companheiros das grávidas infectadas com sífilis, somente cerca de 60% também sigam o tratamento da doença.