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Seqüestro no ABC

"Colocaria meu filho no lugar de Nayara", diz chefe do resgate

O coronel Eduardo José Félix, do Batalhão de Choque da Polícia Militar de São Paulo, comandante da operação em Santo André que acabou com as duas reféns baleadas, disse, na manhã deste sábado (18), que foi certa a decisão de colocar Nayara para participar da negociação, mesmo depois de ela ter sido libertada. "Eu colocaria meu filho no lugar da Nayara", afirmou. Segundo o coronel, apesar de ter apenas 15 anos, a menina "tem uma cabeça muito boa", por isso a polícia acreditou que a ajuda dela seria necessária.

O coronel também confirmou que Lindemberg Alves, de 22 anos, bateu na ex-namorada Eloá Cristina Pimentel, de 15 anos, durante as 100 horas que ele a manteve refém em um apartamento em Santo André, no ABC. "Ele batia nela", disse durante entrevista coletiva.

Nayara Silva, de 15 anos, amiga da jovem, também foi mantida refém pelo rapaz. As duas acabaram baleadas e estão internadas no Centro Hospitalar do município. Eloá levou dois tiros, sendo um deles na cabeça, está em estado grave e corre risco de morte.

O coronel explicou que havia sido combinado que Nayara e o irmão de Eloá, que era o melhor amigo de Lindemberg, iriam até um determinado ponto para conversar com ele. Sem que as equipes esperassem, no entanto, a menina teria decidido seguir até a porta do apartamento. "Ninguém esperava que ela entrasse novamente", afirmou.

Segundo o coronel, que comandou a operação em Santo André, a menina servia como "fiel da balança" no local, porque o seqüestrador e a ex-namorada não conseguiam conversar e brigavam constantemente. Neste momento, ele declarou que Lindemberg batia em Eloá.

Entre as agressões, segundo o coronel, houve chutes, tapas e puxões de cabelo, direcionados somente à ex-namorada. Nayara informou à polícia que, apesar disso, Eloá ainda discutia com Lindemberg e às vezes "até o provocava". Armado, ele encostava o revólver na cabeça da menina de vez em quando, ainda de acordo com informações do comandante da operação.

Invasão

O coronel reafirmou que um tiro ouvido no apartamento motivou a invasão. Um móvel colocado em frente à porta principal dificultou, segundo ele, a entrada dos policiais. O comandante explicou que o rack impediu que a porta abrisse "de uma vez só". Ele acredita que, caso a entrada fosse mais fácil, o resultado da operação poderia ter sido melhor.

O comandante disse que os policiais que monitoravam o apartamento ouviram um tiro no período da manhã. Mas, depois disso, eles conversaram com o rapaz, que garantiu que o disparo havia sido acidental. Os policiais falaram com as jovens, que confirmaram estar bem. A decisão de invadir o local após um novo disparo ocorreu por causa do humor do seqüestrador que, segundo o coronel, havia mudado. Ele estava mais depressivo durante a tarde.

"O resultado ruim dessa ocorrência não foi produzida pela ação do Gate [Grupo de Ações Táticas Especiais], mas sim pela ação de Lindemberg. Como se tratava de um rapaz de 22 anos que estava sofrendo de uma decepção amorosa por uma adolescente de 15 anos, a política foi a preservação da vida e a negociação", justificou o comandante.

O coronel afirmou que a negociação com o seqüestrador sempre foi muito difícil. "Ele queria provar que tinha domínio da situação. Queria provar para alguém que estava conseguindo movimentar todo aquele aparato policial", disse. Félix falou novamente que a idéia inicial não era invadir o apartamento. "A decisão não era de entrar, o fato nos pegou de surpresa", afirmou.

Ordem de saída

Após a invasão, ocorrida pouco depois das 18h de sexta, a primeira pessoa a ser retirada do apartamento foi Nayara Silva, a amiga de Eloá que retornou ao local depois de ser libertada. Ela estava com o rosto sangrando, mas desceu as escadas caminhando, amparada por um policial. Ao chegar ao térreo, ela foi deitada no chão para ser imobilizada em uma maca.

O seqüestrador foi retirado do apartamento logo em seguida e levado para o corredor do prédio. A ex-namorada dele, Eloá Pimentel, foi retirada logo depois. A adolescente estava enrolada em um lençol e saiu carregada por um policial.

Um médico que estava de plantão acompanhou Eloá, mas a garota foi imediatamente levada em uma maca para a ambulância. Nesse momento, um carro da policia já estava posicionado na porta do condomínio com o porta-malas aberto. Lindemberg Alves foi colocado dentro do carro e levado para o 6º Distrito Policial de Santo André.

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