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Fernando Martins

A revolução digital e a nova tribo – Final

Eventos tão díspares como a primavera árabe e a pressão de ONGs internacionais contra o desmatamento da Amazônia podem ter uma mesma causa? Se o pensador canadense Marshall McLuhan (1911-1980) estivesse vivo, talvez afirmasse que sim. E, quem sabe, fosse além. Diria que são acontecimentos possíveis devido à revolução digital.

McLuhan, cujo centenário de nascimento foi comemorado no último dia 21, desenvolveu a teoria de que os meios de comunicação, independentemente das mensagens, têm o poder de mudar a forma como o homem pensa e se relaciona com o mundo. Assim, a própria organização social seria resultado da mídia de seu tempo. McLuhan dizia ainda que as atuais tecnologias da informação estão abrindo as portas de um novo grande ciclo histórico – uma revolução que pode ter implicações políticas tão amplas como o aprofundamento da democracia e o enfraquecimento do Estado-Nação.

Para McLuhan, o Estado moderno é consequência da tipografia de Gutenberg, um invento do século 15. A fácil reprodução do conhecimento permitiu a realização dos projetos nacionais. A palavra impressa nos livros – a "primeira máquina de ensinar", na expressão de McLuhan – uniu comunidades de dialetos assemelhados, fragmentadas politicamente, sob o manto simbólico de uma mesma língua-mãe, padronizada nas gramáticas. Essas comunidades tornavam-se, assim, um único povo, submetido a um governo centralizado e regido por leis escritas.

Esse Estado, inicialmente absolutista, logo teve de se abrir. As pessoas passaram a ter acesso a mais informação, por meio de impressos. Diversos autores apontam que a democracia, nesse sentido, é "filha" da imprensa de Gutenberg.

Mas tecnologias como o rádio, a televisão e o telefone mudam novamente a forma como o homem se comunica. E a revolução digital da internet amplifica ainda mais as potencialidades de conexões humanas. A informação se pulveriza – fato que tende a resultar num aprofundamento da democracia (onde ela já existe) ou em sua adoção (onde inexiste). Os protestos da primavera árabe, agendados pelas redes sociais on-line, parecem corroborar esse entendimento.

McLuhan ainda observava que as novas mídias têm o poder de recriar, numa escala planetária, as condições de comunicação das tribos primitivas, iletradas, nas quais só existia a comunicação oral e todos podiam falar com todos. Seria a "retribalização" humana, a emergência de uma aldeia global.

Talvez essa comunidade mundial nunca venha a existir. Mas já é possível falar em diversas "tribos" digitais que, passando por cima de nacionalidades e fronteiras, se articulam em torno de interesses comuns transnacionais: ecologia, pacifismo, direitos humanos. Essa força centrípeta fragmenta a soberania do Estado-Nação. O peso político de entidades internacionais ou supranacionais, tais como algumas ONGs e a ONU, é indício dessa tendência.

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Na semana passada abordei as implicações psicossociais das novas mídias. O artigo poder ser acessado em www.gazetadopovo.com.br/colunistas, clicando em Fernando Martins.

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