A Universidade Colúmbia (EUA) divulgou na última quinta-feira um estudo mostrando que a facilidade em encontrar dados na internet enfraquece a capacidade humana de memorizar. O Google virou uma memória coletiva on-line e isso, segundo a pesquisa, pode modificar o modo como o cérebro processa informações.
Coincidentemente, o estudo saiu exatamente uma semana antes da data em que se comemora o centenário de nascimento do pensador canadense Marshall McLuhan (1911-1980). O cerne da teoria de McLuhan corrobora as conclusões da pesquisa: o homem cria as ferramentas e as ferramentas recriam o homem. Ou seja, diferentes mídias estimulam o cérebro de forma diferenciada, independentemente do conteúdo da mensagem. Novos meios de comunicação, portanto, fazem com que as pessoas mudem o modo como percebem e se relacionam com o mundo. Em uma época de revolução digital, retomar as ideias de Mcluhan é refletir sobre as profundas implicações psicossociais e políticas das novas mídias.
Para ele, a história da humanidade é a história da comunicação. Até a invenção da escrita, diz McLuhan, a língua era a única forma de comunicação e o conhecimento tinha necessariamente de ser transmitido oralmente de geração para geração. A memória era coletiva, da tribo inteira. O sentido enfatizado era a audição que, para McLuhan, estimulava o sentimento de pertencer ao grupo.
Porém, a invenção do alfabeto, há 4 mil anos, mudou tudo. A escrita um sistema de comunicação visual composto pela sucessão linear de pequenas partes, as sílabas tirou do ouvido e concedeu aos olhos a hegemonia de percepção. Isso mudou a forma de entender o mundo. O pensamento místico da tribo cedeu espaço para a lógica fruto da capacidade de absorver e organizar o conhecimento linearmente. A civilização, a filosofia e a ciência são consequências do alfabeto, assim como o homem racional, dissociado de suas emoções, diz McLuhan.
O aprendizado também não exigia mais que se recorresse aos anciãos, à coletividade. Afinal, a informação estava armazenada no papel. O homem não precisava mais de sua tribo. O clã, a grande família, se desfazia e o individualismo crescia algo que se acentuou com a invenção da tipografia de Gutenberg, em 1439.
Mas McLuhan observa que o império da escrita começa a ruir no fim do século 19, com o surgimento do rádio, que resgata a audição como forma de perceber a realidade. Para ele, as novas tecnologias da comunicação (televisão, telefone e computador), com suas amplas possibilidades de estímulos sensoriais, embutem a possibilidade de o homem reconciliar-se com suas emoções.
As mídias eletrônicas recriam ainda um ambiente análogo à experiência oral de troca de conhecimento típico das sociedades tribais. McLuhan diz que isso provocará uma "retribalização" da humanidade formando uma imensa aldeia global. Possíveis consequências das novas mídias seriam menos individualismo e menos racionalidade; mais religiosidade, misticismo e comunitarismo.
Na próxima quarta-feira, abordarei as implicações políticas da revolução digital.
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