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Fernando Martins

As históricas casas de madeira

 | Antonio Costa / Gazeta do Povo
(Foto: Antonio Costa / Gazeta do Povo)

Há alguns anos, um primo se mudou para Curitiba em busca de trabalho. Depois que se estabeleceu, resolveu trazer a mulher e os filhos. Por um tempo, eles ficaram abrigados em minha casa. Passados alguns meses, tirei férias e fui a Santos visitar parentes. Fui até a casa de uma prima, irmã deste que havia se mudado para Curitiba. A família estava preocupada. A notícia era de que meu primo havia alugado uma casa de madeira para morar com a família. A primeira pergunta que me fizeram foi se ele estava morando numa favela.

Acima da Região Sul, é raro enxergar uma casa de madeira que não sejam as construídas de forma precária nas favelas. Para os meus parentes paulistas, meu primo estava morando em alguma área de invasão. Expliquei que as casas de madeira ao estilo das construídas por imigrantes europeus ainda eram comuns no Paraná. Que se bem preservadas, eram confortáveis, com vários cômodos e até quintal. Não sei se ficaram convencidos. Meu primo logo encerrou sua aventura por terras curitibanas e retornou a Santos.

As casas de madeira são um marco na história do Paraná. Lembram os tempos da colonização do estado. Agora, essas edificações tombam para dar lugar a sobrados conjugados. Onde havia uma casa térrea são erguidos três, quatro sobrados geminados de dois, três pavimentos. Saem os amplos quintais, entram as áreas de serviço diminutas. É estranha essa movimentação num país tão extenso. Alguns diriam que são coisas da modernidade. Da especulação imobiliária. Outros, do desejo das pessoas de morarem em uma casa e não num apartamento. Para fugir do alto custo da taxa de um condomínio.

Em uma cidade fria e úmida, as casas de madeira, muitas construídas com paredes duplas e suspensas, eram exemplos de como lidar com o clima. Quem projeta os novos sobrados parece se esquecer de onde ele está construindo. Não se lembra do frio e da umidade. Aposta nos pisos frios, mais fáceis de serem limpos, mas que não ajudam no conforto térmico. Talvez uma dessas incongruências globais que padronizam costumes e nos obrigam a viver do mesmo modo em qualquer lugar do planeta.

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