A Bíblia nos conta que o primeiro casal foi expulso do Paraíso ao comer o fruto proibido da Árvore da Ciência do Bem e do Mal. Uma interpretação possível do mito de Adão e Eva é que eles foram punidos por sua sede de conhecimento, por querer saber tanto quanto Deus. Milênios após a história bíblica ter sido escrita, a humanidade continua sua incansável busca pelo saber.

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Hoje, a ciência assumiu o papel que já foi dos xamãs, pitonisas, alquimistas, filósofos. Mas quanto mais conhecemos, mais as grandes descobertas científicas nos legam a permanente sensação de incerteza diante da existência.

Nicolau Copérnico (1473-1543) descobriu que a Terra girava ao redor do Sol. Com isso, não tirou apenas o planeta do centro do universo, mas também o homem. Charles Darwin (1809-1882), ao mostrar que humanos e macacos têm um mesmo ancestral comum, feriu nosso ego. Do ponto de vista biológico, não temos nada de especial. Somos tão-somente primos de chimpanzés e orangotangos.

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Albert Einstein (1879-1955) revelou que o tempo é relativo, que corre de forma diferente para dois observadores em posições distintas. Isso permitiria, teoricamente, um encontro entre dois irmãos gêmeos estando um deles velho e o outro jovem. A Teoria da Relatividade mostrou que o tempo – a principal referência da passagem de nossas vidas – não é absoluto, embora pareça sempre o mesmo para todos e tudo.

Mas a relatividade, ao destronar o tempo, nos deixou de consolo outro conceito pretensamente absoluto: a luz. Ou melhor, a velocidade da luz. Segundo Einstein, nada no universo pode se mover mais rápido do que ela.

Nada podia... Na semana passada, cientistas da Organização Europeia para Pesquisa Nuclear (Cern, na sigla em inglês) publicaram a descoberta de que há sim uma partícula subatômica – o neutrino – que corre mais veloz do que a luz. A pesquisa ainda precisa ser confirmada por experimentos independentes. Mas desde já causa alvoroço na comunidade científica porque pode ensejar uma completa reavaliação das teorias da composição do cosmos. Ou seja, de tudo.

Novamente fomos jogados ao mar revolto da incerteza. Não somos o centro do universo, tampouco muito diferentes dos animais. O tempo – senhor de nossas existências – não é como pensamos ser. A luz que vemos nas estrelas do firmamento não é a rainha invencível dos céus, como mostrou a pesquisa europeia. Será que nos resta algo absoluto? O homem sempre correrá em busca dessa resposta. Mas a inquietude diante de uma realidade incerta parece ser a punição por termos comido o fruto proibido do saber.

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