O vampiro é soturno. Avesso à claridade e à exposição de sua verdadeira natureza, vive nas sombras, oculto. Tira desse estratagema seu alimento, o sangue das vítimas.
Intrigante que esse ser mitológico esteja tão em alta em uma sociedade na qual se tornou imperativo aparecer e ter 15 minutos de fama. Filmes, séries de televisão e livros sobre vampiros têm tido grande sucesso. O mundo do flash se curvou ao misterioso senhor da escuridão.
Os acadêmicos da literatura lusófona também acabam de reverenciar um vampiro metafórico: Dalton Trevisan, que ganhou no fim do mês passado o Prêmio Camões, o mais importante da língua portuguesa. Recluso e recusando-se a virar celebridade, o escritor tornou-se o Vampiro de Curitiba. Não bebe sangue. Mas sorve, anônimo nas ruas, a essência que corre nas veias de seus contos: personagens ocultados por uma cidade de aparências.
Talvez o magnetismo que Dalton Trevisan e os demais vampiros exerçam seja tão somente uma reação inconsciente ao exagerado mundo do exibicionismo que criamos. Aparecer virou gênero de primeira necessidade. É assim com coisas e mercadorias a propaganda é, afinal, a alma do negócio. É assim com gente. Em grande medida, as redes sociais na internet tornaram-se sintoma desse fenômeno. Costumam ser cenário de publicidade pessoal. Criam-se perfis virtuais para se mostrar não o que se é, mas o que se quer parecer. É um mundo de aparências.
Mas o que não é um vampiro senão um monstro que aparenta ser humano para enganar sua presa? Talvez daí venha o fascínio que o personagem inspira em nós. Por vezes nos transmutamos em vampiros amadores, tentando parecer o que não somos para obter algum benefício.
Quem ainda sabe se a aparência no mundo dos flashes não seja um paradoxal ardil vampiresco da contemporaneidade: usar a luz para obter sombras. O flash é luz, reconheçamos. Mas luz artificial e efêmera. É também luz intensa. Tão forte que chega a cegar por um instante.
Infeliz daquele que não percebe isso e, iludido pelo clarão fugaz, deixa-se cair na escuridão do que aparenta ser, mas que não é. Este se torna, então, vítima potencial dos verdadeiros vampiros, os profissionais. Aqueles que manipulam tão habilmente as aparências a ponto de seduzir os outros para lhes tirar o que têm de bom. Cuidado! Eles estão por todos os lados: na política, no entretenimento, no trabalho, nas relações afetivas.
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