Há algo que parece muito errado na futura elite pensante do país. Pesquisa divulgada na semana passada revelou que o líder brasileiro que os universitários e recém-formados mais admiram é Eike Batista o dono das empresas X que se tornou símbolo de um Brasil que dá certo só na propaganda. O levantamento realizado pela Cia de Talentos em parceria com a Nextview People ouviu 52 mil jovens de 17 a 26 anos que estão na faculdade ou acabaram de conseguir o diploma. As questões foram respondidas entre março e abril, quando já havia certa fartura de notícias indicando que a fortuna de Eike era feita mais de promessas e marketing que da produção de bens reais.
O resultado da pesquisa indica que os jovens universitários estão profundamente desinformados, inclusive sobre assuntos que lhes interessam. As atitudes de uma personalidade que se admira, em tese, deveriam despertar atenção de quem a considera admirável. Mas não é isso que parece ter ocorrido.
Em fevereiro deste ano (antes de a pesquisa ser iniciada, portanto), Eike já não estava nem sequer na lista dos 100 maiores bilionários do planeta em março de 2012, era o 8.º mais rico. O declínio no ranking ocorreu devido à queda do valor de suas ações em bolsa diante da frustração do mercado em relação ao desempenho das empresas do grupo EBX. Ele havia inflado as expectativas de produção e não entregou o que prometera. A bolha, então, estourou. À mesma época, já se especulava que Eike pretendia recorrer ao governo federal para salvar seu conglomerado industrial um velho vício do empresariado brasileiro nada digno de se admirar. A despeito de tudo isso, foi eleito o líder mais popular entre os universitários.
Além da desinformação dos jovens, a pesquisa traz ainda outro dado preocupante. Pouco mais da metade dos entrevistados (54%) disse não admirar nenhum líder. Há obviamente uma falta de referências pessoais numa parcela muito significativa dos universitários. E, sem modelos em quem se espelhar, corre-se o risco de restar apenas o individualismo aos futuros dirigentes do país.
O levantamento ainda indica algo que há algum tempo já era evidente: a descrença dos jovens na política. Apenas dois políticos eleitos estão na lista dos dez líderes brasileiros mais admirados.
Em tempo, o ranking, pela ordem de mais citados, é o seguinte: Eike Batista; o publicitário e apresentador de tevê Roberto Justus; a presidente Dilma Rousseff; o ministro do STF Joaquim Barbosa; o ex-presidente Lula; o empresário e apresentador de tevê Silvio Santos; o investidor Jorge Paulo Lemann (maior acionista da Ambev); o técnico de vôlei Bernardinho; a presidente da Petrobras, Graça Foster; e Flávio Augusto da Silva (criador da escola de inglês Wise Up).