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Francisco Camargo

A conurbação do Doutor Silvana

Você anda reclamando do trânsito de Curitiba? Acha que tem motorista que deveria pagar IPVA duplo por ocupar duas pistas ao mesmo tempo? Ou que pior do que dirigir atrás de um carro de autoescola é dirigir atrás de dois carros de autoescola?

Pois jogue fora o cinto, mude de cidade – de preferência vá morar na Avenida Beira-Mar sem número. Se as coisas vão mal hoje, dentro de uma década, pelo andar da carruagem (bons tempos), estarão bem piores. A frota vai dobrar. Saltaremos (saltar lembra cavalo, o que também nos remete a uma possível solução: "Todos a cavalo, hombres!") de 1.097.030 unidades para 2,1 milhões. O ritmo de crescimento nos últimos cinco anos foi de 38,63%.

Com 1.828.092 habitantes, Curitiba já é a capital mais motorizada do país. Um veículo automotor para 1,63 habitante, como mostrou a reportagem dos nossos amigos João Natal Bertotti e Aline Peres.

Natureza Morta costuma dizer que o sistema viário de Curitiba é como terno de primeira comunhão. O piá vai crescendo, espichando, faz o alistamento militar, vira reservista de segunda categoria, tira título de eleitor e ele, o terninho azul-marinho, continua do mesmo tamanho. Só dá para descer as barras da calça e espichar as mangas, mas a folga, é claro, dura pouco. Até porque o rapaz, no nosso caso, também cresceu para os lados, foi engordando, engordando e virou cliente da Varca.

Sair em busca da tranquilidade perdida indo para as cidades da região metropolitana igualmente não resolve. No período, dobrou a frota em Almirante Tamandaré e quase dobrou em Colombo, Fazenda Rio Grande e São José dos Pinhais. Juntas, essas e outras cinco cidades vizinhas podem despejar mais 366.884 veículos no formigueiro da capital. Culpa da conurbação urbana.

– Hein? Conurbação? Olha o nível, olha o nível, aconselha Beronha.

Calma, trata-se de uma espécie de "unificação" de vizinhas.

Há quem defenda a bicicleta, quem opte pela melhoria do transporte coletivo ou metrô.

Beronha, no entanto, defende outras "solucionáticas": 1) implantar o rodízio de placas, como em São Paulo, mas com detalhes realmente inovadores. A turma das placas de final com número par circula um dia e fica parada durante os três meses seguintes, quando será aplicada a mesma dose no pessoal das placas de final ímpar. Segundo o nosso anti-herói, muita gente vai desistir do carro.

2) Exigir um curso completo de boas maneiras da Socila para a revalidação da carteira de motorista.

3) Implantar rotatórias também no meio das quadras, de preferência em frente à entrada dos grandes prédios de condomínio, supermercados e shoppings.

4) Liberar operações de carga e descarga apenas uma vez por quinquênio.

5) Desencadear massiva e maciça campanha "esvazia pneu" dentro das garagens de prédios, casas e estacionamentos.

– Se não der certo, pelo menos renovaremos os motivos para criticar o caos. Um caos digno do Doutor Silvana, o cientista maluco inimigo número 1 do Capitão Marvel, que, aliás, ao contrário do Batman, não usava carro. Voava.

Francisco Camargo é jornalista.

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