Não é de hoje que Natureza Morta acompanha o trabalho do Idam – Instituto Desembargador Alceu Conceição Machado. Fundado em 2004, trata de "simplificar" o Judiciário e aproximá-lo da população, começando pelas crianças e adolescentes. E recorre, inclusive, a histórias em quadrinhos, caso da Cartilha da Justiça. O importante é passar lições da maneira mais assimilável possível. Vai daí que Natureza lembrou do CD Canções Curiosas, que também leva coisas preciosas para a garotada. Três exemplos (pena que esta coluna seja em preto e branco e muda): Gramática, de Sandra Peres e Luiz Tatit:

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O substantivo/É o substituto do conteúdo/O adjetivo/É a nossa impressão sobre quase tudo/O diminutivo/É o que aperta o mundo/E deixa miúdo/O imperativo/É o que aperta os outros e deixa mudo/Um homem de letras/Dizendo ideias/Sempre se inflama/Um homem de ideias/Nem usa letras/Faz ideograma/Se altera as letras/E esconde o nome/Faz anagrama/

Mas se mostra o nome/Com poucas letras/É um telegrama/ Nosso verbo ser/É uma identidade/Mas sem projeto/E se temos verbo/Com objeto/É bem mais direto/No entanto falta/Ter um sujeito/Pra ter afeto/Mas se é um sujeito/Que se sujeita/Ainda é objeto/Todo barbarismo/É o português/Que se repeliu/O neologismo/É uma palavra/Que não se ouviu/ Já o idiotismo/É tudo que a língua/Não traduziu/Mas tem idiotismo/Também na fala/De um imbecil.

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Cultura, de Arnaldo Antunes:

O girino é o peixinho do sapo/O silêncio é o começo do papo/O bigode é a antena do gato/O cavalo é pasto do carrapato/O cabrito é o cordeiro da cabra/O pescoço é a barriga da cobra/O leitão é um porquinho mais novo/A galinha é um pouquinho do ovo/O desejo é o começo do corpo/Engordar é a tarefa do porco/A cegonha é a girafa do ganso/O cachorro é um lobo mais manso/O escuro é a metade da zebra/As raízes são as veias da seiva/O camelo é um cavalo sem sede/Tartaruga por dentro é parede/O potrinho é o bezerro da égua/A batalha é o começo da trégua/Papagaio é um dragão miniatura/Bactérias num meio é cultura.

E tem Pelé, de Paulo Tatit/Zé Tatit. Trechos:

– (...) Era um moleque negro/Que brilhava nos campos/Tão pobres lá de Três Corações/Foi contratado pra jogar no time do Santos/E convocado para a seleção/Com dezessete anos era um craque/Como nunca ninguém viu/Foi campeão do mundo (...) Quando ele entrava em campo/O outro time tremia/Só de ver o rei se aquecer/Porque nesse momento/Todo mundo sabia/Que com ele era pra valer/Tinha goleiro que até rezava/Para ele não se aproximar/Tinha zagueiro mau que quando entrava/Era pra machucar (...) Se ele decidia ir sozinho/Não dava para segurar/Mas era generoso e dava a bola/Pr’um companheiro marcar (...) Ele marcou mil e tantos gols/E foram todos de arrasar/E pra comemorar ele saia correndo/Com todo o time dele atrás/No auge da alegria ele vibrava pulando/No alto dava um soco no ar/Um soco da glória da vitória/De quem sabia ganhar/E pra ganhar tem que saber perder/Para poder se superar/ Ele é ele é ele é/O nosso rei da bola, o rei Pelé/Ele é ele é ele é/Rei de toda Terra/Que conquistou a coroa/Pelo toque de seu pé.

Francisco Camargo é jornalista.

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