Estou acostumado com a curiosidade do público quando fica me conhecendo pessoalmente, sempre acaba em bate-papo sobre o passado de Curitiba. Principalmente com a ala jovem, que se interessa em saber como eram antigamente os ambientes e os usos e costumes. Alguns jovens chegam ressabiados perguntando se eu sou eu mesmo, o das fotos antigas que saem aos domingos na Gazeta do Povo.
Confirmado. Eles começam, como quem não quer nada, a bateria de perguntas, em que os detalhes são esmiuçados: o que tinha antes aqui? Como era esta rua? Conheceu os bondes? A chuva de perguntas às vezes até estonteia, mas é com prazer que vai rolando o que se sabe, principalmente se os ouvintes são jovens com os olhos brilhando de curiosidade. Senta que lá vem história!
Se havia drogas no meu tempo? Havia. A pior delas o alcoolismo. A cachaça era o flagelo, matava principalmente os mais humildes. Na minha vizinhança existia um engenho de erva-mate, cujos operários se reuniam no fim da tarde no botequim da frente para beber pinga misturada com capilé. Muitos deles iam para casa cambaleando. A juventude era mais arredia, alguns só tomariam alguma bebida quente após a maioridade.
O cigarro era a tragédia da época, era bonito fazer pose com um entre os dedos. Nos filmes americanos os artistas fumavam a miguelão: o amigo do mocinho estava morrendo, mas não batia as botas sem antes dar uma tragada no cigarro que lhe era oferecido. As companhias exploradoras dos produtos do tabaco procuravam viciar a juventude nas mais diversas formas. Lembro de um cigarro da marca Negritos cujo papel achocolatado era impregnado com alcaçuz, em que o sabor doce atraía a piazada.
Crianças de tenra idade faziam pose com cigarrinhos de chocolate, fingindo que fumavam como os adultos. Uma das fábricas fazia pequenos cigarros com tabaco imitando os de chocolate, eram conhecidos como Castelõezinhos. Fumava-se em qualquer lugar, dentro dos bondes, nos cinemas e onde mais desse. Menos nas igrejas, obviamente. Não havia campanha contra o tabaco, grande maioria dos médicos fumava. As mulheres eram mais recatadas, não pitavam em público. Os filhos não fumavam perante os pais, somente quando estes permitiam, era uma questão de respeito.
Outra pergunta: existiam crimes como hoje? Evidentemente existiam, esporadicamente. Aconteciam alguns crimes passionais, os tais ditos para lavar a honra. Latrocínios eram raríssimos. O que realmente era, quase por dizer, moda eram os suicídios. Desgostos amorosos proporcionavam dramas com donzelas tomando formicida, ou então homens se enforcando em galhos de árvores pelos capões de matos de Curitiba. No Bigorrilho existia um que era chamado Mato dos Enforcados.
Tiroteios só eram vistos nos cinemas, em filmes de farwest ou de gângsteres de Al Capone. Atualmente, o Rio de Janeiro e até alguns bairros da periferia de Curitiba deixam Chicago no chinelo. Lá, o banditismo foi atuante na época da Lei Seca. Aqui a maconha, o craque e a cocaína infernizam a sociedade e a ordem pública nos tempos modernos.
Não vamos nos espichar em outras comparações com as coisas do passado, vamos nos ater em ilustrar esta página com imagens de Curitiba de antigamente, como de costume.
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