Rua Barão do Rio Branco: fila para trigo racionado, em 1945| Foto:
Elementos da família Queirolo na Praça Santos Andrade, 1945
Rua Mariano Torres e Rio Belém,em 1939
Enchente na Rua Barão do Rio Branco, em janeiro de 1944
Quartel da Guarda-Civil, em 1950
Poste de linha de bonde acidentado na Praça Rui Barbosa, 1914
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A Nostalgia de hoje aborda um problema realmente sério quanto a nossa memória visual, ligado a fotografias antigas e a outras não tão antigas: a identificação das mesmas. Quantas vezes não pegamos fotos interessantes e sem anotação alguma que identifique o que ali está re­­tratado. Álbuns de famílias muitas vezes acabam vendidos para algum sebo, sem constar uma mínima informação sobre as imagens ali contidas. Muitas ve­­zes é relaxamento; outras vezes, é porque tem alguém que conhece tudo que está contido no tal álbum. Quando esse alguém de­saparece, vão junto as informações.

Muita gente colabora com o meu trabalho de reunir a nossa memória visual. As fotos antigas da cidade, e mesmo de outras localidades, não são tão difíceis de identificar. Já os retratos de pessoas, de acontecimentos so­­ciais, esportivos, e de outros episódios onde não exista pista al­­gu­­ma, somente por pura sorte serão reconhecidos. O acervo de imagens históricas consiste de centenas de milhares de negativos e fotos em papel devidamente identificadas. Em contrapartida, as fotografias sem identificações somam uma quantia simplesmente incontável – preservadas, ainda na esperança de se poder ter conhecimento do que elas representam.

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Muitos leitores, os mais antigos, gostam de ver as fotos tampando as legendas para ver se conseguem matar o lugar que aparece na imagem. Não deixa de ser um bom exercício de me­­mória, isto para quem viveu a época, ou apenas curioso em testar seus conhecimentos, sem maio­­res compromissos em saber se está certo ou não. Lembro que há alguns anos houve uma exposição de fotos de Curitiba antiga no Museu Paranaense, e nas le­­gendas das mesmas muitas datas estavam erradas, com diferenças até de duas décadas. Curioso, quis saber de onde tiraram tais informações. Indicada a fonte, não po­­dia ser outra, um mascate co­­lecionador de postais identificou as datas na base do chute.

As fotografias que aparecem hoje nesta página foram identificadas depois de queimar muito bestunto. Por exemplo, a que aparece o poste torto e os trilhos foi difícil de localizar como sendo a Praça Rui Barbosa, em frente da Igreja do Bom Jesus, pois não existe registro que alguma linha de bondes elétricos passasse por ali. Entretanto, a foto é daquele local e por volta de 1914. E que tal o grupo de pessoas sentadas ao chão portando bandeiras, inclusive comunistas; quem seriam? Onde estariam? O que estava acontecendo? Depois de desvendada, a imagem ficou óbvia em sua informação: era o Dia da Vi­­tória, 8 de maio de 1945. O grupo com as bandeiras era o pessoal do Circo Queirolo, acomodado esperando as comemorações na Praça Santos Andrade, em frente da Universidade.

E a foto do sobrado? O que se­­ria? Era o quartel da Guarda Ci­­vil, no início de 1950 – ficava na Avenida Visconde de Guarapua­­va, mais tarde instalou-se aí o quar­­tel do Corpo de Bombeiros, nos idos de 1952 – onde está até hoje, com o prédio principal na Rua Nunes Ma­­chado. E a enchente? Fotografia noturna, um grupo de pessoas com as mãos levantadas estão segurando um bote que mal aparece na escuridão. É na Rua Barão do Rio Branco, pois no fundo aparecem duas janelas iluminadas do Hotel Jonscher. No fundo ainda, apenas uma anotação (44) deu o resto da pista. A en­­chente foi causada pelo temporal que se abateu sobre Curitiba no fim da tarde e início de noite do dia 1.º de janeiro de 1944.

A foto do Rio Belém foi fácil inclusive determinar a data, mais ou menos como 1939. Ago­­ra a enorme fila que aparece na Rua Barão do Rio Branco, qual se­­ria o motivo da mesma? O povo abaixo de chuva estaria esperando o quê? Na parte de trás da foto, uma anotação a lápis: Fila do trigo. Muito bem, estava ocorrendo o racionamento de farinha de trigo e, nesse dia, na Secretaria da Agricul­­tura, que ficava na Rua André de Barros com a Tra­­vessa da La­­pa, estava sendo fornecido um pacote de cinco quilos de farinha por pessoa. Era o ano de 1945, em plena guerra. Agora é de se imaginar o volume de pessoas que es­­tão na fila, pois a mesma está dobrando o quarteirão, também lá na Rua Pedro Ivo.

Agora o amigo leitor pode crer: pesquisar o que as imagens antigas registram é um trabalho demorado. Ás vezes leva muito tempo para dar aquele estalo: Ele­­mentar, meu caro Watson! Quando isso acontece à satisfação de ter matado mais uma é a grande re­­compensa.

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