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      Pergunta certa que recebo quando encontro algum conhecido no começo da semana: o que vai sair domingo? Obviamente a indagação se refere a esta página e, sinceramente, às vezes nem eu sei. Toda quinta-feira devo entregar o material devidamente elaborado para a diagramação, como adianto das matérias para o jornal de domingo.

      Pois é. Nesta quinta-feira, embatuquei. Vieram à cabeça as explosões que aconteceram em Curitiba, em razão de estar sendo noticiada na televisão a detonação de um depósito de fogos de artifício na cidade de Santo André, em São Paulo. Aqui, em 1913, tivemos a famosa explosão ocorrida na Estação da Estrada de Ferro, em abril daquele ano, assim como a do Café Paiva, na Rua Comendador Araújo, em 1936. Na Estação explodiu uma carga de "fulminato" do Exército, fazendo várias mortes. No estabelecimento da Comendador, havia um depósito oculto de fogos que explodiu matando muita gente, a maioria da família Paiva.

      Na hora de preparar o assunto, lembrei-me de uma velhinha que me abordou na rua, há alguns anos, dizendo: "Olha! Eu gosto da Nostalgia porque me lembra o passado, a juventude e, depois, por não trazer notícia ruim como está cheio em tudo que é jornal". Realmente notícia ruim aqui neste espaço não é notícia, é história. Mas vamos deixar pra lá. O material do acervo fo­­tográfico é amplo e cheio de an­­tigos fantasmas. Resolvo, portanto, me dirigir aonde mais se concentra tais espectros aqui em Curi­­tiba: a velha e tradicional Praça Tiradentes, o Coração da Cidade.

      Estamos chegando à praça subindo pela Rua 1.º de Março. Começo de primavera de 1928, a rua tinha esse nome em consagração ao dia que terminou a Guerra do Paraguai. Dois anos depois, em 1930, falecia o Monsenhor Celso. Houve-se, por bem, em dar o nome do venerável sacerdote para a dita rua. A foto nos mostra a Praça Tiradentes envolta pela bruma matinal, onde se destaca o vulto da altiva Catedral. Pequenas carroças e o bonde elétrico, assim como a figura descendo a rua, indicam que aquele dia estava apenas começando, há noventa e um anos passados.

      Agora temos a Catedral bem à nossa frente, e pela iluminação podemos perceber que também era uma manhã e que bem indica a entrada do verão, em meados da década de 1920. O lírico bonde, dos primeiros elétricos que circularam pela cidade, passa quase rente à escadaria do templo. Curitiba ainda não precisava do tal "Dia sem Automóvel". Afi­­nal não vemos nem um; agora carroças notamos várias.

      Vamos chegar mais para perto no tempo, as fotografias que se seguem são do início da década de 1940. Que tal fazer um passeio de ônibus até o bairro do Juvevê? Os passageiros estão todos sentados, esperando a hora da partida. Mas, como ainda tem lugar, o motorista e o cobrador ficam do lado de fora e aproveitam para fazer uma pose para a fotografia. O "confortável" calhambeque com as devidas marcas do tempo da Tiradentes. Agora se chegava era uma incógnita. Como vemos, o transporte coletivo de Curitiba tem uma tradição histórica de longo tempo.

      O dia era 11 de junho de 1940. A carruagem fúnebre, em frente da Catedral, vinha transportando os restos mortais do ex-presidente do Paraná Carlos Cavalcanti de Albuquerque, falecido no Rio de Janeiro em 1935. No cortejo estavam presentes, além das autoridades, as figuras pertencentes ao antigo Partido Republicano. Na frente da multidão, logo ao lado do coche e com a mão no peito, apa­­rece o defunteiro "Pé Espa­­lhado", figura folclórica de Curi­­tiba que não perdia enterro por nada deste mundo.

      O grupo se encontra reunido no pedestal que faria parte do futuro monumento à República, o dia era 28 de outubro de 1940. Ali estavam, além do comandante da 5.ª Região Militar e oficiais e mais dois civis, o ervateiro, professor e historiador David Carneiro, que patrocinou do próprio bolso a construção daquele conjunto de estátuas, cuja obra se deve ao escultor João Turin. O professor David Carneiro foi um mecenas na história do Paraná. Hoje, infelizmente, é apenas mais um dos nossos esquecidos fantasmas.

      Vamos terminando a nossa visita à vetusta Praça Tiradentes de antanho, não sem antes mostrar uma vista parcial da mesma em fotografia feita em 1941. A reforma, entre as muitas que passou, aconteceu em 1934-35, e ainda podemos ver à esquerda a antiga estação de bondes, o harmonioso desenho dos canteiros, os ipês ainda novos com apenas 6 anos de existência. O destaque para quatro edifícios de maior porte e que já começavam a encobrir a vista da cidade ao fundo.

      Terminamos aqui mais uma visita à velha Praça Tiradentes, ber­­ço onde Curitiba se embalou pa­­ra o futuro a nossa atualidade. Cen­­túrias de fantasmas vagam pela sua história – vamos respeitá-los.

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