No começo da minha vida de jornalista, como repórter fotográfico, muitas vezes corria pela cidade à cata de notícias. Um dos pontos preferidos era a visita ao circo dos irmãos Queirolo, que vivia percorrendo os bairros de Curitiba. Com total liberdade, fui fotografando partes dos espetáculos com as caracterizações mais diversas do elenco. Astro principal, o palhaço Chic-Chic, representado pela excelente figura humana de Otelo Queirolo, do qual fiz inúmeras fotos, incluindo uma sequência dele se maquiando no camarim.
Curitiba, como toda a cidade do interior do Brasil, recebia frequentes visitas de circos que eram montados em praças mais centrais, como a Rui Barbosa e a Ouvidor Pardinho. Nessa última, em fins de 1934, instalou-se o que era considerado o maior circo do mundo, o Sarrasani, uma empresa faraônica que surgiu na Alemanha no alvorecer do século 20. Era uma verdadeira Arca de Noé, tal o volume de animais que possuía, assim como a variedade de artistas provenientes de todas as partes do mundo. Somente em iluminação elétrica possuía 28.000 lustres de luzes coloridas.
A abertura dos espetáculos era grandiosa. O proprietário do circo, Hans Stosch-Sarrasani, entrava no picadeiro principal vestido luxuosamente, como um marajá indiano, seguido por catorze elefantes. O Circo Sarrasani tomou, com sua lona, a totalidade da Praça Ouvidor Pardinho, também conhecida como o Campo da Cruz. Em 1950 na Argentina, através de proposta de Eva Perón tornou-se o Circo Nacional Argentino. Entretanto, sem mais a sua grandeza e pompa de vinte anos passados.
Em agosto de 1942, o prefeito de Curitiba concede alvará a Esperândio Domingos Foggiatto para armar pavilhão de circo num terreno pertencente a Victor do Amaral, na esquina da Rua Marechal Floriano com Pedro Ivo. Não foi o maior circo que passou por Curitiba, mas foi o melhor que ficou na cidade por quase uma década. O Pavilhão Carlos Gomes, como foi denominado, pertencia ao empresário Adolfo Bianchi e apresentava espetáculos de variedades, em razão da cidade não estar provida de teatros: o Guayra estava desativado assim como o Teatro Hauer, este em razão da guerra.
Por volta de 1946, a trupe dos irmãos Queirolo é contratada para se apresentar naquele pavilhão. Ficando ali por mais de três anos com seus números circenses. Chic-Chic, como líder da família, ao encerrar as atividades no pavilhão, tornou a erguer sua própria lona ficando a girar pelos bairros curitibanos. No Circo Queirolo, existiam as famosas touradas, quando numa jaula que tomava o picadeiro era introduzido um touro com uma estrela grudada na cabeça e era oferecido um prêmio para alguém da plateia que descolasse a dita estrela. Normalmente, eram pequenos grupos de rapazes que se apresentavam para realizar a proeza, sempre sob vibrante torcida da plateia.
Os touros não seriam os únicos animais que faziam parte do espetáculo. Havia outro que acompanhava o Chic-Chic durante o espetáculo era uma cadela de pano denominada Violeta, sempre puxada por uma corda em que, de vez em quando, o palhaço dava um puxão apanhando-a em seu colo ao mesmo tempo em que gritava: Pula Violeta!