Um dia antes da fala da estudante Ana Júlia Ribeiro, que viralizou na internet, o também estudante Patrick Ignaszevski, porta-voz do movimento Desocupa Paraná, já havia discursado na Assembleia Legislativa sobre o movimento de ocupação das escolas. Contrário ao protesto realizado há cerca de um mês pelos secundaristas do estado, o manifesto apresentado por Patrick na sessão da última terça-feira (25) parece não ter encontrado a mesma ressonância que o proferido pela colega, que participou nesta segunda-feira (31) de uma audiência pública sobre a PEC do teto dos gastos, no Senado.
Conheça a aluna que discursou na Assembleia Legislativa em defesa da ocupação das escolas
Leia a matéria completaPatrick contou em entrevista por telefone à Gazeta do Povo que tem recebido manifestações de apoio à sua fala em páginas nas redes sociais e que também foi convidado por um deputado federal (ele não divulgou o nome do parlamentar) para ir a Brasília, o que deve ocorrer até a semana que vem.
“Recebi o convite para falar sobre o movimento Desocupa Paraná e sobre tudo o que está acontecendo nas invasões das escolas. Vamos para Brasília em um grupo de cinco pessoas para colocar nosso ponto”, ressalta o estudante, de 18 anos, que já concluiu o ensino médio, no Colégio Estadual Alfredo Chaves, em Colombo, e hoje cursa Jornalismo na Universidade Tuiuti do Paraná (UTP), com bolsa do Fies (Fundo de Financiamento Estudantil).
“Invasões”
Participante ativo de manifestações de rua desde 2013 e integrante do Desocupa Paraná há cerca de três semanas, Patrick definiu as ocupações realizadas pelos estudantes como “ridículas” no discurso que proferiu na Assembleia. Assista abaixo. Segundo ele, tal adjetivo se deve ao fato de os alunos estarem lutando pela educação com as escolas fechadas e sem diálogo, o que não trouxe nenhum resultado além dos transtornos causados aos estudantes, que tiveram o ano letivo comprometido.
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“Não somos contra o direito [de os estudantes] se manifestarem, mas a rua está aí para isso. O movimento não é a favor nem contra a PEC [241] e da MP do ensino médio. Acreditamos que deve haver um debate para se construir uma reforma de qualidade, que possa abranger todos os estudantes e não prejudique ninguém. Mas esse debate não [deve ser realizado] com as escolas fechadas, pois já vimos que isso não trouxe resultado”, avalia.
A sugestão do jovem, que foi filiado ao PMDB por cerca de seis meses, em 2014, é a de que essas manifestações ocorressem fora da escola, sem tirar dos estudantes (dos colégios e das universidades) o direito de ir e vir e de frequentar as aulas.
Contrariando a fala da colega Ana Júlia, que acusou os deputados de estarem com as “mãos sujas de sangue” pela morte do estudante assassinado há uma semana, Patrick responsabilizou os organizadores do movimento de ocupação, os integrantes da APP-Sindicato e das entidades estudantis pelo crime, que ocorreu dentro de uma escola ocupada.
“Um estudante morreu por causa das invasões. Quando ela [Ana Júlia] fala que ‘as mãos dos deputados estão cheias de sangue’ está mentindo, pois quem está com sangue nas mãos são os líderes dos movimentos que promoveram as ocupações das escolas. Ao invés de ocupar, nós fomos conversar com a Secretaria de Educação, com o [deputado] Ademar Traiano, fomos buscar soluções”, aponta.
Partidarismo
Filho de uma professora da rede municipal e de um auxiliar de serviços gerais, o jovem também não acredita na versão dos estudantes que definem como apartidário o movimento de ocupação das escolas. Para ele, muitos dos alunos que estão dentro dos colégios lutam pela educação e não percebem que, muitas vezes, estão sendo “doutrinados” pelo sindicato dos professores e por pessoas ligadas a partidos políticos que tiram proveito da causa.
Em seu discurso, inclusive, Patrick lançou uma provocação à APP-Sindicato pedindo a instauração de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) na instituição. A justificativa, segundo ele, seria o fato de a entidade tornar transparente o destino dos recursos que recebe dos contribuintes. “Será que este dinheiro está sendo usado para financiar as ocupações nas escolas?”, questiona.
Em relação a uma possível antipatia por parte dos colegas, o jovem diz não ter medo de expor sua opinião e avalia de forma positiva a repercussão de ambos os discursos. “Deu para mostrar os dois lados. Eu respeito o discurso dela [Ana Júlia], mesmo não concordando com ele”, resume Patrick.
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