A Secretaria Estadual de Saúde do Rio determinou nesta terça-feira (19) o afastamento da coordenadora da Central Estadual de Transplantes, Ellen Barroso, por falha administrativa. Uma sindicância concluiu que ela teve responsabilidade no caso de um rim transplantado por engano, em março deste ano. Além dela, uma outra funcionária foi afastada em regime cautelar. Elas terão dez dias para apresentarem suas defesas. Ellen sucedeu no cargo o cirurgião Joaquim Ribeiro Filho, preso na operação Fura-Fila sob a acusação de desrespeitar a fila de transplantes de fígado.

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O erro em março se deu quando foi captado um rim que deveria beneficiar a empregada doméstica aposentada Maria das Graças de Jesus, de 60 anos. O órgão foi transplantado em outra pessoa, de nome parecido, Maria das Graças de Jesus Araújo, de 51 anos, no Hospital Universitário Clementino Fraga Filho. Ela acabou morrendo, dois meses depois.

O subsecretário jurídico e de corregedoria da Secretaria de Saúde, Pedro Henrique Di Masi, disse que o relatório do médico que realizou o transplante informou que a paciente morreu de causas infecciosas. "Se fosse por rejeição, provavelmente a morte teria acontecido mais rápido", avaliou a superintendente de Atenção Especializada, Hellen Miyamoto, que substituirá Ellen interinamente na Central de Transplantes.

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Em nota, a Coordenação de Transplante Renal do Hospital Universitário informou que o hospital agiu como órgão executor. "A Central de Transplante foi quem determinou a realização do procedimento na paciente, que antes havia sido avaliada no Hospital Geral de Bonsucesso (HGB)".

De acordo com a sindicância, a paciente Maria das Graças de Jesus foi selecionada como a mais compatível para receber o rim. Mas a funcionária da central telefonou para a Maria das Graças de Jesus Araújo. O Hospital Geral de Bonsucesso (HGB), que realizou exames pré-operatórios, não percebeu que se tratava de outra paciente, e o Hospital do Fundão transplantou uma paciente com o prontuário da outra. "Ninguém confirmou documento, nome e CPF. Houve falha na checagem, o que não quer dizer que houve má-fé" , disse Di Masi, lembrando que uma paciente tem 60 anos e a outra tinha 51.

Maria das Graças de Jesus, que ocupava a 11ª posição na lista de espera por rim, foi selecionada com outras nove pessoas Após exames em todas, foi a mais compatível. Hoje (19), ela passou o dia fazendo hemodiálise, procedimento que realiza três vezes por semana, há cerca de três anos, desde que foi inscrita na fila. Um de seus rins não funciona e o outro filtra menos de 10% do que deveria.

"Achei uma covardia muito grande o que fizeram com ela, que está esperando e sofrendo só Deus sabe o quanto", disse a irmã de Maria das Graças, Rita Guilherme Amaro.

Para o defensor da União, André Ordacgy, a paciente que deveria receber o transplante foi prejudicada e pode entrar com pedido de indenização por danos morais na Justiça Estadual. "O erro não foi da equipe médica que operou, mas de quem organiza a fila, que é a Central de Transplantes, subordinada à Secretaria Estadual".

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RECADASTRAMENTO

Dos 1.057 pacientes inscritos na lista de espera por um fígado, apenas cerca de 650 continuam ativos após o recadastramento realizado pela Secretaria Estadual de Saúde. A medida foi anunciada depois da prisão do médico Joaquim Ribeiro Filho, sob a acusação de desrespeitar a fila.

A partir de na quarta-feira (20), a ordem dos pacientes na fila será divulgada na internet. Até o final do ano, também será feito o recadastramento das filas de rim e de córnea.

O resultado do novo levantamento, divulgado nesta terça, mostra como a lista estava desatualizada. Do total, 117 pacientes já morreram, 377 não estavam com seus contatos atualizados no cadastro, 20 não tinham mais indicação médica para o transplante e oito haviam realizado o transplante.

Em todos esses casos listados acima, a responsabilidade de comunicar a Central Estadual de Transplante é da equipe médica. No Rio, apenas duas equipes estão habilitadas a operar em quatro hospitais, dois federais - Hospital Geral de Bonsucesso e Hospital Universitário Clementino Fraga Filho - e dois particulares - São José do Avaí e Clínica São Vicente.

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Muitos pacientes estavam com os exames de sangue desatualizados. A partir deles é que se calcula o índice de Meld - que mede a gravidade e determina a ordem da fila. Os pacientes mais graves, com o Meld acima de 26, devem refazer o exame mensalmente; os que têm o índice abaixo desse valor precisam refazê-lo a cada três meses.

"A lista na internet vai dar transparência ao processo. Os pacientes não sabiam quando seus exames venciam, porque estavam na lista e qual a sua posição na fila", disse a superintendente de Atenção Especializada da Secretaria de Estado de Saúde e Defesa Civil (Sesdec), Hellen Miyamoto.