Sob grande assédio da imprensa indonésia, o corpo do brasileiro Rodrigo Muxfeldt Gularte, 42, chegou no início da tarde desta quarta-feira (29), hora local, ao hospital São Carolus, em Jacarta, capital do país.
A ambulância com o caixão branco que carregava o corpo veio direto da ilha de Nusakambangan, onde o brasileiro foi fuzilado por volta de 0h30, tarde desta terça-feira (28) no Brasil.
Ele foi condenado à morte por tráfico de drogas, depois de ter entrado no país com seis quilos de cocaína escondidos em pranchas de surfe.
Repórteres e cinegrafistas cercaram a ambulância. Prima de Gularte, Angelita Muxfeldt, 49, afirmou à imprensa local, em inglês, que o brasileiro “está em um lugar melhor”.
A prima estava no comboio que trouxe o corpo. Com ela estava Leonardo Monteiro, encarregado de negócios da Embaixada do Brasil em Jacarta. Às 19h (9h de Brasília), uma missa de corpo presente será realizada na capela do hospital.
O corpo de Gularte será preparado nos próximos dias para ser levado ao Brasil, para ser enterrado em Curitiba, onde mora a mãe de Gularte. Num último encontro antes da morte, ele pediu à prima que fosse enterrado no Brasil. Em razão da burocracia, a liberação do corpo deve levar ainda algumas semanas.
Um estampido alto e seco à meia-noite e meia (horário local) assustou diplomatas e familiares de prisioneiros na ilha de Nusakambangan, em Cilacap, no interior da Indonésia.
Era o som do fuzilamento de oito condenados à morte, entre eles o brasileiro Rodrigo Muxfeldt Gularte, 42. Segundo o protocolo de execuções, Gularte ficou preso a uma estaca com as mãos amarradas para trás e vestia uma camiseta branca com um “X” preto na altura do peito, para facilitar a mira dos atiradores -são 12 militares perfilados para cada condenado.
Médicos, religiosos e policiais acompanharam de perto as execuções, num campo aberto. Aos médicos coube apenas constatar as mortes.
Além do brasileiro, foram executados um indonésio, dois cidadãos da Austrália e quatro da Nigéria. Uma filipina, que também estava na lista, escapou da execução minutos antes.
Recrutado por um traficante de drogas, o paranaense foi preso em 2004 ao tentar entrar no aeroporto do país com seis quilos de cocaína escondidos em pranchas de surfe.
Na ocasião, ele estava com dois brasileiros. Mas Gularte assumiu que a droga era toda dele, e os amigos foram liberados pelos indonésios. No ano seguinte veio a condenação à pena de morte, da qual fracassaram todos os recursos e pedidos por clemência, tanto da família dele como do governo brasileiro.
Gularte foi o segundo brasileiro executado no exterior em tempos de paz. Em janeiro deste ano, o traficante Marco Archer Cardoso Moreira, 53, também foi fuzilado nessa mesma ilha indonésia, a 400 km da capital Jacarta.
No momento do fuzilamento, somente dois brasileiros puderam permanecer na ilha: o diplomata Leonardo Monteiro, da Embaixada do Brasil em Jacarta, e Angelita Muxfeldt, que há três meses chegou à Indonésia para ficar próxima ao primo.
Os dois não puderam acompanhar a execução, mas estavam próximos o suficiente (a cerca de 1 km) para escutar a ação dos atiradores.
Horas antes, na última conversa com o diplomata, o brasileiro alternou momentos de delírio e lucidez e afirmou que, após a morte, iria para o céu. “Daqui irei para o céu e ficarei na porta esperando por vocês”, disse Gularte, segundo relato do diplomata à reportagem da BBC Brasil.
A mãe dele, Clarisse, soube da execução na capital paranaense, Estado onde nasceu. A família preferiu que ela não viajasse à Indonésia, por medo do seu estado de saúde. Ela o viu pela última vez em fevereiro passado.
A família de Gularte e o governo brasileiro reagiram logo após a morte. Em nota, familiares disseram que o fuzilamento dele será uma “lembrança de que a luta para abolir a pena de morte é uma longa estrada a seguir”.
Os parentes também criticaram a Indonésia por ter ignorado a doença do brasileiro -ele teve a esquizofrenia constatada em dois laudos.
Já o governo brasileiro afirmou em nota que a execução configura um “fato grave” nas relações com o país asiático.
Em entrevista em Brasília, o embaixador Sérgio França Danese relembrou os apelos ignorados pelos indonésios. “Estamos precedendo essa avaliação sobre qual será a atitude a adotar em relação a esse país a partir de agora”.
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