Banhos de ofurô relaxantes e demorados, usados para deixar o estresse e a ansiedade para trás, com direito a hidratantes, sais de banho perfumados, e até pétalas de rosas viraram parte do passado em alguns spas de São Paulo. A crise hídrica que atinge São Paulo desde o início de 2014 chegou também a esses espaços, que se dedicam a oferecer serviços personalizados a um público disposto a pagar entre R$ 90 e R$ 200 por banho.
Embora o governo do estado negue a existência de um sistema de rodízio de fornecimento, esses estabelecimentos têm sofrido com as torneiras secas, situação que, em alguns casos, pode se estender por dias. Desde então, os spas têm que se virar para criar alternativas eficientes e não ver a clientela ir embora.
O Buddha Spa é um dos que tem sido atingidos pela crise. Nas unidades localizadas no Jardim América, zona oeste, e no Paraíso, zona sul, ambos bairros nobres da capital, as atendentes admitem que o banho de imersão, tratamento que inicia o day spa, está suspenso “há uns 3 ou 4 meses por causa do racionamento de água”. O serviço, informam, é substituído por uma massagem.
“A recomendação dada às franquias foi que conscientizassem os clientes da crise no momento da escolha do serviços de ofurô a fim de que trocassem por um outro. Caso o cliente fizesse questão de realizar a terapia, a unidade poderia fazê-la, deixando isto ao bom senso do cliente. Mas algumas unidades optaram por eliminar temporariamente o serviço”, afirma Gustavo Albanesi, diretor da rede.
Tatiana Matsuda, diretora operacional do Olimpia Spa, com unidades em diferentes pontos da cidade, afirma que cogitou vetar o uso dos ofurôs no início das primeiras notícias sobre a possibilidade de rodízio, cujos intervalos poderiam chegar a cinco dias sem fornecimento de água. Mas ficou com medo de os clientes que já haviam comprado os pacotes não entenderem a postura da empresa. Decidiu, por fim, adotar políticas de reutilização da água.
“Além disso, paramos de divulgar os ofurôs e passamos a divulgar mais as terapias que não utilizam água. Também percebemos que as pessoas, em geral, estavam preocupadas com a situação hídrica do estado, pois as compras dos banhos diminuíram. Só adotando essas medidas conseguimos reduzir o custo da conta”, afirma.
No Spa Urbano, que fica na Vila Mariana, zona Sul da cidade, houve uma redução de quase 70% dos banhos de ofurô. A medida, segundo a proprietária Mariluce Meirelles, partiu do próprio estabelecimento, para evitar as multas. O governo pune desde o início do ano consumidores gastões com aumentos nas contas que variam entre 40 e 100% . A proprietária afirma, sem revelar números, que o orçamento foi “severamente afetado” por causa da diminuição do serviço, queridinho dos clientes.
“Na hora de vender o pacote, recomendamos outro tipo de serviço. Antes da crise, tínhamos 15 banhos aos sábados; hoje, a média é de 3. Fui obrigada a reduzir porque faltou água. Uma vez, chegamos a encher o ofurô com balde. Aqui atendo público classe A, não queria mais correr esse risco, passar por uma situação dessa. Também passamos a aproveitar a água dos banhos para, depois, lavar o quintal, regar as plantas”.
Com medo de ficar na mão novamente, Mariluce estuda agora implantar três caixas d’água de mil litros cada com águas termais da França para abastecer os ofurôs.
“Além de ser um diferencial, o pessoal não vai mais precisar se sentir culpado de recorrer ao serviço por causa da crise”, conta.
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