Uma oficial da Justiça Federal está na Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) na manhã desta terça-feira (22) para notificar, pela segunda vez, os alunos que invadiram a instituição na última sexta (18) sobre a reintegração de posse do local. Os alunos que estão na ocupação já haviam sido notificados no sábado (19), mas alegaram que só saíram do local com a presença de força policial. Eles temem ser agredidos por outros estudantes contrários ao movimento.
Por volta das 9h10 da manhã, a oficial da Justiça Federal Marília Machado estava no local. “Vamos tentar mais uma entrega e estabelecer um novo diálogo. Caso não haja acordo, vamos tomar as medidas cabíveis, com orientação da PF e PM [Polícia Federal e Polícia Militar] e também conselho tutelar, porque não sabemos a idade das pessoas”, disse. O mandado deve ser cumprido ao longo desta terça-feira (22).
Vitor de Carvalho Paes Leme, o advogado que representa os estudantes, recebeu a notificação às 9h30. Ele entrou no câmpus para conversar com os alunos. Uma assembleia será realizada para eles decidirem se desocupam o prédio ou não. “Vou avisá-los da possibilidade do uso da força. Minha orientação é jurídica. A questão política é com os alunos. Tudo será deliberado por eles”, diz.
A decisão judicial determina multa de R$ 10 mil por dia de descumprimento da ordem. Segundo Marília, os alunos estão ‘pagando’ essa multa desde o sábado (19), primeiro dia em que descumpriram a ordem judicial. Já Leme contesta a informação. Ele alega que foram duas notificações e é a segunda, entregue hoje, que estabeleceria a multa. Portanto, para ele a multa não seria aplicada ainda.
Por volta de 12h, o advogado deixou o prédio da UTFPR. Ele disse que os alunos ainda estavam em assembleia e serão eles que comunicarão a decisão da assembleia.
Clima mais tranquilo
A movimentação em frente ao câmpus é menor nesta terça (220 em comparação aos dias anteriores. Hoje, não há alunos contrários à ocupação. Foram colocados lençóis em frente ao portão para proteger as pessoas que formam o ‘cordão de isolamento’ do portão.
Uma professora que está no local, e não quis ser identificada, considera “muito grave” a multa diária de R$ 10 mil. “O objetivo dos professores é preservar a integridade dos alunos. Nós temos pedido para eles manterem os rostos cobertos porque está igual Big Brother”, disse.
Assim como na segunda-feira, as atividades acadêmicas e administrativas no câmpus Centro desta terça-feira (22) também foram adiadas.
Cooperação entre as polícias
Uma decisão da Justiça determinou que equipes das polícias Militar e Civil apoiem a Polícia Federal na reintegração de posse da UTFPR. A PF alega não ter número suficiente de agentes disponíveis para cumprir o mandado, autorizado no último sábado (19). A força policial seria uma maneira de garantir a integridade física dos alunos, que temem represálias dos grupos contrários à ocupação.
Essa chegou a ser uma das exigências dos estudantes, que diziam que sairiam pacificamente caso houvesse agentes para garantir a segurança de todos.
Entenda o caso
Cerca de 70 pessoas tomaram o campus Curitiba da UTFPR,na Avenida Sete de Setembro, por volta das 23 horas de sexta-feira (18). O ato ocorreu logo depois do último horário de aulas. Discutida em assembleias internas em dois momentos, a ocupação do campus Centro da UTFPR havia sido descartada pela maioria dos estudantes.
Uma foto publicada pela página “Ocupa UFPR”, no Facebook, mostra duas pessoas com rosto coberto usando blocos de concreto para obstruir uma porta do prédio. Parte do grupo que participou da tomada do campus usava máscaras.
Em outra página do Facebook, “Ocupa UTFPR - CWB”, foi apresentado um manifesto que seria do grupo que tomou o prédio da universidade, dizendo ser “parte do movimento estudantil da UTFPR”. A presidente do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da UTFPR, Ana Carolina Spreizner, disse à Gazeta do Povo que o grupo é composto por estudantes ligados a movimentos independentes. Ou seja, sem ligação a centros acadêmicos ou ao diretório.
Na noite de 4 de novembro, a direção da UTFPR chegou a determinar a evacuação do campus Curitiba para evitar que o prédio fosse invadido. A medida foi tomada para garantir a realização no local do Enem, que ocorreria nos dois dias seguintes. A prova foi aplicada sem problemas.