O ex-advogado de defesa dos quatro suspeitos apontados inicialmente como autores do assassinato de Tayná Adriane da Silva, 14 anos, disse que foi hostilizado por policiais durante o interrogatório aos seus clientes no último sábado (13). Roberto Rolim de Moura Junior classificou a maneira como o processo de sua destituição foi conduzido como irresponsável e disse que vai entrar com pedidos de providências à Secretaria da Segurança Pública do Paraná (Sesp-PR), além de uma representação na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-PR) contra dois advogados da seccional Paraná da entidade.
Ele disse que, depois de ter sido destituído, foi obrigado a ficar em uma parte escura do prédio da Sesp, sendo "vigiado" por um policial que usava uma lanterna. "Fomos conduzidos eu, e meu irmão, para fora do prédio por nove policiais, entre eles mulheres, homens da PM e alguns investigadores. Esperaram a gente sair, para ver se não íamos dar entrevista à imprensa. Fui hostilizado, fui mantido fora da sala para aguardar uma cópia do documento de destituição e não me forneceram sequer uma cópia do vídeo do depoimento", disse o ex-defensor dos quatro presos.
O advogado disse ainda que o fato de os quatro terem sido ouvidos novamente, no sábado, foi contra a estratégia de defesa que ele tinha traçado. "O silêncio não prejudica o acusado. O inquérito é dispensável no processo crime. Eles [os quatro] deveriam ser ouvidos apenas na presença do juiz, não novamente na presença de dois delegados prepotentes", acusou.
O grupo, que permanece preso, tinha sido ouvido na sexta, na Casa de Custódia, em Araucária. O defensor disse que este segundo interrogatório, na Sesp, foi conduzido de maneira equivocada desde o início. "Ligaram cerca de dez minutos antes do interrogatório para me avisar do procedimento, cheguei lá um deles já tinha sido ouvido por 20 ou 30 minutos. Isso não pode acontecer, é cerceamento do trabalho do advogado", disse o defensor.
Ele relatou ainda que o fato de ter sido destituído como defensor pelos quatro envolvidos ocorreu porque policiais militares e civis que estavam no local convenceram os seus ex-clientes a tomar essa atitude. "Enquanto eu estava na sala acompanhando, os policiais que estavam lá ficaram falando com eles, influenciando na decisão. É tudo uma farsa para deixar esses meninos desprotegidos. Espero estar errado, mas espero, infelizmente, uma coisa muito trágica para esses meninos quando eles saírem da prisão", afirmou.
Outro lado
Paulo Sergio Markowicz de Lima, promotor de justiça do Ministério Público, negou que Rolim tenha sido hostilizado. A declaração foi feita durante entrevista coletiva na manhã desta segunda-feira (15). "O fato é que quando os acusados chegaram na Sesp, eles estavam absolutamente a vontade e se dispunham a esclarecer os fatos. A partir do momento que o advogado chegou, ele falou que eles não falariam nada", disse.
Segundo Lima, o silêncio é um direito, mas os quatro, de acordo com ele, manifestaram a intenção de falar. "Efetivamente, se falou que o advogado tinha o dever de orienta-los, e que não se estava desautorizando o advogado de modo algum eu estava lá e presenciei isso. Um dos réus falou que na verdade ele queria falar e que já não confiava mais no advogado. Então, a iniciativa de desconstituir o advogado partiu dos próprios réus", defendeu o promotor.
A reportagem busca contato com o delegado Guilherme Rangel, que conduz as investigações, para que emita opinião sobre o assunto, mas, até as 10h30, ele não atendeu às ligações. Já a Sesp não forneceu um meio de contato com Rafael Vianna, assessor civil da pasta e que foi indicado para supervisionar as investigações do caso.
OAB-PR
Rolim disse que vai entrar com pedido de representação na OAB contra Edward Carvalho, presidente da Comissão de Prerrogativas; e Priscilla Placha Sá, presidente da Comissão da Advocacia Criminal. O ex-defensor dos quatro presos diz que ambos os advogados interferiram indevidamente no seu trabalho. "Quem elaborou a tese de defesa fui eu. A ordem não pode interferir dessa maneira. A tese de defesa é do advogado de defesa, não da Comissão de Prerrogativas da Ordem", disse.
Em nota divulgada neste domingo (14), a OAB informou que tanto Priscila quanto Edward relataram que os depoimentos "transcorreram em clima de absoluta tranquilidade e de respeito aos seus direitos e garantias constitucionais, sem nenhuma forma de pressão ou coação de parte das autoridades ali presentes." O documento diz ainda que "os acusados manifestaram de forma livre o direito de renunciar ao Advogado Roberto Rolim de Moura Júnior e constituíram como seu advogado Andrey Salmazo Poubel."
Entenda o caso
A adolescente Tayná Adriane da Silva, de 14 anos, desapareceu no dia 25 de junho quando voltava da casa de uma amiga, nas proximidades de um parque de diversões, em Colombo, na Região Metropolitana de Curitiba. O corpo da menina foi encontrado no dia 28 de junho. Três dos quatro suspeitos, presos no dia anterior, confessaram ter estuprado e matado Tayná. Um deles não teria participado diretamente do crime. No mesmo dia, o parque de diversões foi depredado e incendiado por moradores da região.
No dia 2 de julho, a perita do Instituto de Criminalística, Jussara Joeckel, afirmou que a adolescente poderia não ter sido violentada, contrariando a tese inicial das investigações. Mesmo com as contradições, a Polícia Civil finaliza o inquérito no dia 5 de julho com a conclusão de que os quatro suspeitos estupraram e estrangularam a adolescente. Porém, no dia 9 de julho o resultado de exame de DNA indicou que o sêmen encontrado na calcinha da garota não é compatível com o material genético de nenhum dos quatro acusados.
Este laudo gerou uma mudança no comando da investigação policial do crime, que já contava, desde a conclusão do inquérito pela delegacia do Alto Maracanã, em Colombo, com a participação do Ministério Público. O laudo também motivou uma visita da Comissão de Direitos Humanos da OAB-PR aos suspeitos, que relatavam que foram torturados pela polícia para confessar os crimes.
Na sexta-feira (12), o MP afirmou que os indícios coletados relacionam os suspeitos presos ao crime. Mas, neste domingo, o promotor Paulo de Lima se manifestou em sentido contrário, afirmando que as provas presentes no inquérito não sustentam uma denúncia e pedindo a soltura dos suspeitos pelo crime.