Queimaduras, chicotadas, humilhação. Os trotes entre estudantes continuam violentos, absurdos, e impunes. Dez anos atrás, o estudante Edson Hshueh morria na faculdade de medicina da Universidade de São Paulo.

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"Ela falou se eu não te pegar hoje, te pego amanhã". Essa foi a recepção de Priscila, 18 anos, grávida de três meses, em seu primeiro dia de aula na faculdade de Santa Fé do Sul, no interior de São Paulo.

"Ela chegou com o líquido na mão, tacando. Pegou nas minhas pernas, continuou tacando líquido e pegou nas minhas costas, relembra a estudante.

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O líquido deixou queimaduras de segundo grau na caloura de informática. "Fiz ultrassom ontem, graças a Deus não aconteceu nada com o bebê".

Priscila não foi a única vítima. Jéssica, de 17 anos, foi atacada dentro da mesma faculdade. "Eu estava descendo a rampa da faculdade quando a gente estava na fila do elefantinho".

Um vídeo, do trote de outra faculdade, mostra como é a tal "fila do elefantinho". "A gente tem que ficar agachado, um dando a mão para o outro entre as pernas".

No meio da fila, Jéssica sentiu as costas queimarem. "O que sei é que na hora que tacaram líquido em mim eu perguntei para uma moça, que disse ‘foi uma moça que tacou’".

Quatro alunos tiveram ferimentos semelhantes no primeiro dia de aula. Todos atingidos por uma mistura de produtos químicos, normalmente usados para limpeza de estábulos.

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A jovem que, segundo as vítimas, comprou esses produtos e usou contra os calouros, é Layane Cristina da Silva, de 20 anos, estudante de pedagogia. Depois da agressão, Layannne foi para a casa da mãe dela, em Santana da Ponte Pensa. Em seguida, com medo, fugiu para um sítio, por causa das ameaças que vem recebendo por telefone. O "Fantástico" localizou e conversou com a mãe da estudante acusada de participar do trote violento.

"Ela contou que foi uma brincadeira, que ela não tinha intenção de machucar ninguém. Sinto muito pela menina que aconteceu isso, sinto muito pelas pessoas, e peço a Deus que tenha misericórdia, para Layanne e nunca mais ela participe de nada disso", diz a mãe.

Layane será expulsa da faculdade e deverá responder por crime de lesão corporal.

Estes não foram os únicos casos de violência em trotes no interior de São Paulo.

Chicote "Até então achava que ia ser um trote normal. Ia raspar minha cabeça, me pintar e acabar nisso. Mas não foi bem assim". Bruno e outros calouros foram levados para fora da Faculdade de Leme.

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"Os calouros tiveram que passar por uma mistura de esterco, fezes de vários animais. Tinha animais em decomposição. Eles colocavam a lona no chão e faziam os bixos passarem uns nos outros", conta o estudante. "Me amarraram num poste. Me deixaram lá amarrado".

"Estava sentado numa cadeira, veio um veterano, chutou a cadeira, derrubou no chão, batendo a cabeça"

O trote de Bruno acabou no pronto-socorro. O "Fantástico" conversou com o pai na hora em que Bruno saía do hospital. "Não foi brincadeira, foi agressividade. Ele tem lesão corporal, apanhou com chicote. É horrível ver como ele está".

Fotos mostram o início do trote. Dá para ver um veterano com um chicote, que depois teria sido usado em Bruno.

Priscila, Jéssica e Bruno entraram na lista dos calouros que sobreviveram a trotes violentos. Trotes que há dez anos mataram o estudante de medicina da USP Edson Hsueh.

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Ele foi obrigado pelos veteranos a pular numa piscina, mesmo depois de avisar que não sabia nadar. Foi encontrado morto no dia seguinte.

"Os alunos foram impedidos de sair da piscina, porque os veteranos pisavam nas mãos e batiam com baquetas na cabeça dos calouros que tentavam sair da piscina", lembra a promotora Maria Amélia Pereira.

Quatro veteranos foram acusados, mas nunca foram julgados. Em setembro do ano passado, o caso chegou até a instância máxima da Justiça brasileira - e lá aguarda um desfecho.

Para evitar que outros casos como este se repitam, a Câmara Municipal de São Paulo promove um concurso que tem o nome do estudante morto, Edson Hsueh, e incentiva as faculdades a fazerem um outro tipo de trote, o solidário.

A recepção dos alunos de medicina da Santa Casa de São Paulo aos calouros foi um dia no hospital ajudando crianças doentes. Um exemplo a ser seguido.

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