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 | Marcelo Elias /Gazeta do Povo
| Foto: Marcelo Elias /Gazeta do Povo

Os servidores do Hospital de Clínicas (HC) da Universidade Federal do Paraná (UFPR) poderão ajudar a Polícia Federal (PF) a aprofundar as investigações sobre os chamados “médicos fantasmas” – que recebiam salário sem cumprir a carga horária para a qual foram contratados. Os funcionários poderão selar acordos de deleção premiada para detalhar o que sabem. Até agora, dez médicos foram indiciados, entre eles o presidente de um hospital particular e o diretor de hemobancos.

Os funcionários serão levados à PF pelo Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Terceiro Grau Público de Curitiba, Região Metropolitana e Litoral (Sindistest), que representa a categoria. A entidade publicou uma nota dizendo que os trabalhadores que estiverem dispostos a colaborar com as investigações podem se apresentar ao sindicato até o dia 9 de junho. O sigilo em torno do nome dos trabalhadores será mantido.

Há informações de que servidores do HC, subordinados a “médicos fantasmas”, foram coagidos a fraudar as folhas-ponto, fazendo constar que estes compareciam regularmente ao trabalho. Com o acordo de delação premiada, estes servidores poderiam ficar isentos de responsabilizações penais.

“Os servidores são hierarquicamente inferiores aos médicos, por isso, ficavam receosos de confrontá-los. Eles acabam fazendo [o que os médicos mandavam]. Então, diante dessa possibilidade de ter havido coações, os delegados responsáveis pelo caso abriram essa possibilidade [de se fecharem acordos de delação premiada]”, disse a advogada do Sindistest, Josemery Matos Paixão.

Na última semana, a Gazeta do Povo ouviu servidores que apontaram que a prática de receber sem cumprir horário não se restringe aos dez médicos indiciados. Outros setores, além dos apontados pela PF, também sofreriam com o mesmo problema. “Se for pegar todo mundo, vai ter muita gente enrolada”, apontou uma servidora ouvida pela reportagem. “Tem setor em que a gente nunca viu o médico”, afirmou outra funcionária.

Por meio de sua assessoria de imprensa, a PF disse que não se manifesta sobre investigações que estão em curso.

Investigações

Apesar de já ter indiciado dez médicos pelos crimes de estelionato, abandono de função pública, falsidade ideológica e prevaricação, a PF continua com as investigações para apurar se mais funcionários recebiam sem trabalhar.

As apurações começaram a partir de um pente-fino realizado pela Controladoria-Geral da União (CGU), que analisou a produtividade dos médicos do HC. Os dez indiciados eram os casos mais evidentes. A PF e a CGU cruzaram as folhas-ponto dos investigados com os registros das catracas do HC e com informações do Serviço de Informações Hospitalares (SIH), desde 2010. Os dados foram, ainda, confrontados com registros das clínicas particulares onde os médicos trabalham.

As investigações apontaram que alguns dos indiciados sequer compareciam ao HC. Outros chegavam a se apresentar ao hospital, mas não cumpriam o expediente. A média de comparecimento deles, segundo a PF e a CGU, era de 7%. Posteriormente, dizem as autoridades, os médicos fraudavam as folhas-ponto, indicando que cumpriam a carga horária integralmente.

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