Desafiados pela Ford a pensar uma solução para a hora do rush nas cidades, os alunos da escola de design Parsons, em Nova York, imaginaram a mobilidade como algo completamente diferente do que se conhece hoje. Eles usaram o chamado design especulativo – método no qual os designers se permitem pensar “fora da casinha” – e perguntaram a si mesmos várias questões no estilo “E se?”. Ao todo, seis especulações sobre o futuro da mobilidade surgiram. O estudo completo está num hotsite. A seguir, saiba um pouco sobre cada ideia:
1) Interzonas
“É possível ‘fatiar’ o tempo dentro de uma cidade?”. É com essa provocação que os alunos Andrea Karina Burgueño, Ricardo Dutra e Stephanie Lukito começam a a sua apresentação. A proposta deles consiste na eliminação da ideia da hora do rush ao se criar três zonas do tempo dentro da cidade de Nova York: a primeira delas funcionaria duas horas antes do horário local (ou seja, do horário padrão da costa leste dos Estados Unidos), e a terceira duas horas depois. Dessa maneira, a concentração de pessoas se deslocando ao mesmo tempo diminuiria e, consequentemente, os congestionamentos e a lotação no transporte público.
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2) O espaço urbano como um jogo
E se os usuários de transporte deixassem de ser vistos como uma multidão de pessoas para serem vistos como pequenos grupos, que competem entre si para ver quem faz o melhor uso do espaço urbano? Para deixar tudo mais sofisticado, o jogo, batizado de Blue Challenge e controlado pela cidade via apps e sensores, teria como objetivo final fazer as pessoas pensarem juntas em como se deslocar e usar os espaços urbanos. Tudo numa espécie de sistema de compensação que funcionaria por meio do acúmulo de pontos. O prêmio? Benefícios que iriam da permissão para usar vagas de estacionamento de graça a descontos em serviços públicos e coletivos. Essa foi a proposta de Isabella Brandalise, Laura Dusi, Aya Jaffar.
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3) Dirigir como um privilégio
“E se dirigir fosse privilégio, concedido por mérito? Pode o governo controla a liberdade de movimento da população?” . Essas duas premissas são o ponto de partida do trabalho de Sarah Abiya, Sungmy Kim, Mei-Ling Lu. A ideia aqui seria dividir a cidade em ‘zonas de movimento’, com diferentes volumes de tráfego de veículos permitidos e também um número determinado de pessoas por carro. Se na zona 1 é possível circular sozinho, na zona, provavelmente na área central da cidade, isso só é permitido com quatro pessoas no carro, ou seja, compartilhando um mesmo veículo. Se não for possível compartilhar o veículo com mais pessoas, então o condutor teria que estacionar o carro na zona 1 e ir a pé, de bicicleta ou transporte público até a zona 2. Para funcionar bem, isso teria de ser controlado em tempo real, via sensores e apps. Num domingo, por exemplo, não haveria problema em veículos com apenas uma pessoa circularem na tal zona 2. Placas, letreiros eletrônicos etc espalhados pela cidade também ajudariam a comunicar as mudanças dinâmicas do sistema à população.
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4) Carro como um clube de benefícios
E se ao invés de vender o objeto, as lojas e fabricantes de carro vendessem o serviço, como numa espécie de clube de benefícios ou assinaturas, em que o carro faz parte do pacote mas não uma propriedade do cidadão/consumidor? Essa a ideia não é de Alix Gerber, Sam Haddix, Kate McEntee. Montadoras como a Chevrolet já lançaram um serviço de concierge, o OnStar, e também um projeto de car-sharing em alguns países, incluindo o Brasil. O passo seguinte, dentro da ideia dos alunos da Parsons, seria passar a oferecer todos os benefícios mais sem o carro. Além do carro, as empresas poderiam funcionar como agências de viagem para deslocamento urbanos, ou seja, orientando e ajudando o cliente a achar as melhores soluções de mobilidade conforme necessidades específicas e infraestrutura oferecida em cada cidade.
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5) Responsabilidade coletiva: mobilidade + gestão de resíduos
A proposta de Katie Edmonds, Andrea Morales, Sneha Srinivasan é um tanto ousada: unir gestão coletiva de resíduos e mobilidade. Afinal de contas, as cidades não transportam só pessoas mas também o lixo produzido por elas, e isso custa caro. Em Nova York, 68% dos resíduos são transportados por caminhões. Mudando o modo como serviços, mercadorias e resíduos se movimentam pela cidade, é possível também pensar mobilidade de uma nova forma. A proposta delas se divide em três ideias. A primeira seria instalar canos ligando imóveis entre si e também com estações de tratamento e aterros. Assim os resíduos não seriam mais transportados por veículos automotores, mas por vácuo ou algo parecido. O problema aqui seria como instalar toda essa infraestrutura de canos e que consequências isso traria na paisagem e na organização social das cidades; além do controle de ratos e pragas.
A segunda ideia da proposta seria instalar receptores de lixo orgânico já “compostado” nos ônibus. Ao entrar no veículos, as pessoas deixariam ali o seu lixo e ainda receberiam como contrapartida um desconto no valor da passagem. Mais: se já houver tecnologia para isso, o lixo serviria de combustível para os próprios ônibus. A mesma lógica serviria para a terceira ideia da proposta: pessoas levariam o lixo até estações de tratamento localizadas em estações de metrô perto de casa. O resíduo seria, então, transformado em energia para o funcionamento dos trens. Essa proposta tem vídeo (em inglês), assista:
6) Ônibus = um microcosmo da cidade
A proposta de Janson Chang, Gui Curi e Cameron Hanson é a mais maluca da escola de Nova York. Não porque não contenha ideias factíveis – elas são –, mas porque parte de um ponto de vista muito particular: vê o ônibus como um microcosmo da complexidade social das cidades. Assim sendo, eles propõem, por exemplo, que você possa comercializar o seu espaço dentro do veículo. Na era da economia compartilhada, por que não? Se pensarmos bem, o brasileiro já faz algo parecido: na unidade do centro do INSS de Curitiba, por exemplo, tem uma pessoa que ganha para pegar senhas e aguardar na fila no lugar de outras pessoas.
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