Três dias após um fim de semana de conflitos entre taxistas e motorista do aplicativo Uber, o prefeito Gustavo Fruet (PDT-PR) disse que a regulamentação do serviço não é uma prioridade para Curitiba. “Primeiro, o sistema de táxi em Curitiba já está regulamentado e todos que conhecem a cidade, que acompanharam, sabem o processo que foi realizado e os obstáculos que foram superados para isso. Segundo, ao contrário de outras cidades, o sistema de táxi de Curitiba é muito bem avaliado pelo usuário e o custo-benefício daqui é, incomparavelmente, o melhor do Brasil. Terceiro, a maioria da população não tem o hábito de usar esse tipo de transporte todo dia: enquanto 2 milhões de pessoas usam o ônibus diariamente, menos de 10 mil pessoas usam o sistema de táxi todo o dia. Isso significa que esse tema não é prioritário nem pauta número um da cidade.”
Leia nosso editorial: Omissão acabará encorajando mais hostilidade entre taxistas e motoristas do Uber
Atualmente, um quarto projeto de lei para a regulamentação do Uber, que conta com o apoio de 17 vereadores, aguarda um parecer técnico da Urbs para voltar a tramitar na Câmara Municipal. Ainda nessa semana, o diretor de transportes da Urbs, Daniel Andreatta, explicou que a análise a ser feita pelo órgão não é apenas legal, mas de demanda socioeconômica pelo serviço. Apesar dos recentes episódios de violência entre taxistas e motoristas que trabalham com o Uber, o prazo regimental para devolução do texto pelo executivo se esgota apenas no final da próxima semana, quando o legislativo já estará em recesso.
Para Fruet, a administração municipal e a Câmara de Vereadores estão hoje comprando uma pauta que não é da cidade, mas que é de interesse econômico e que gera conflitos porque o momento é de crise. “Eu entendo esses motoristas. Muitos perderam o emprego, muitos eram colaboradores nos táxis, e têm um carro ou são contratados para dirigir um carro e procuram trabalhar principalmente nos horários de pico e nos locais de maior movimento [como alternativa de renda]. Isso, num momento de crise, gera conflitos, como tantos outros com que estamos tendo de lidar e que envolvem serviços e produtos mais baratos, como o caso do comércio ambulante e dos food trucks.”
Uber cresce onde se instala, mas deixa rastro de polêmicas
Leia a matéria completaO prefeito também criticou o discurso de “concorrência” que tomou conta da disputa entre taxistas e Uber. “Uma empresa que não é instalada no Brasil recebe, sem risco, no cartão de crédito e transfere uma parte para o motorista que não tem vínculo e nem garantia nenhuma, e acaba sendo a parte mais frágil dessa relação. O risco de compra e do seguro do carro é dele, e simplesmente ele recebe um porcentual pequeno de uma empresa que tem operação mundial e que, portanto, pode bancar prejuízos, mas que também teve a competência de colocar esse tema como se fosse a maior prioridade dos centros urbanos. Não é!”
Um dos autores do projeto, o vereador Jonny Stica disse que a projeto de regulamentação do aplicativo só deve ser colocado em votação depois de retornar com a análise da Urbs. “Como temos 17 assinaturas, temos a opção do regime de urgência. Mas entendemos que o projeto deve seguir o seu trâmite. De qualquer forma, é muito importante que ele seja votado ainda neste ano por que essa é uma pauta que a câmara tem que vencer”.
O cenário de guerra iniciado no última sexta-feira ( 24) próximo ao Aeroporto Afonso Pena, seguido de cenas violentas em ruas do centro e do Batel, quase teve um desfecho mais traumático na manhã de segunda-feira (27). Na ocasião, cerca de 300 taxistas e 50 motoristas do Uber se encontraram em um protesto em frente ao prédio da Câmara Municipal. A Guarda Municipal interveio, isolou os dois grupos e os taxistas seguiram em carreata até a sede da prefeitura e depois para o prédio da Justiça Federal, onde inclusive chegaram a pedir apoio do juiz Sérgio Moro.
Bolsonaro e mais 36 indiciados por suposto golpe de Estado: quais são os próximos passos do caso
Bolsonaro e aliados criticam indiciamento pela PF; esquerda pede punição por “ataques à democracia”
A gestão pública, um pouco menos engessada
Projeto petista para criminalizar “fake news” é similar à Lei de Imprensa da ditadura