Londres, na Inglaterra, foi considerada, pela segunda vez consecutiva, a cidade mais congestionada do mundo neste ano, segundo uma pesquisa da Inrix, empresa que é uma das líderes em conectividade e mobilidade no mundo. Mas como uma cidade com transporte coletivo de qualidade e medidas de restrição à circulação de carros ocupa essa posição? A Inrix foi atrás dessa pergunta e descobriu, olhando os dados dos últimos quatro anos, que o principal fator que causa tráfego lento em Londres são as interrupções de vias, principalmente aquelas causadas pelos investimentos bilionários da cidade em infraestrutura de transporte. O crescimento nos serviços de entrega do comércio eletrônico também chamaram a atenção.
Como eles chegaram a essa conclusão? Ao olhar de 2012 para cá, os pesquisadores constataram que a população de Londres aumentou 2,8% somente entre 2012 e 2014. A economia do Reino Unido como um todo cresceu 8,2% entre 2012 e 2015, acompanhada de uma queda na taxa de desemprego de 4%. Além disso, o preço do combustível, nesse mesmo período, caiu 22,8%. Tais fatores juntos poderiam influenciar no fluxo de veículos, na presença de mais automóveis nas ruas. “Como sangue correndo nas artérias dos nossos corpos, o tráfego é o fluxo de pessoas e empregos dentro de um país. Mais tráfego significa que há mais pessoas, mais empregos e mais prosperidade, resultando em pessoas comprando veículos, viajando mais por trabalho e por prazer e comprando mais coisas que necessitam ser entregues”, explica o economista-chefe da Inrix, Graham Cookson, no blog da empresa.
O “custo do sucesso” de Londres, porém, lembra Cookson, é o congestionamento. “Nós descobrimos, por exemplo,que o tempo médio das viagens de carro em uma distância de 5 milhas [cerca de 8 quilômetros] aumentaram quase 50% na região central de Londres desde 2012. Lá atrás, a mesma viagem levava praticamente 20 minutos, agora leva 30”, conta Cookson. “Alguns culparam os veículos de serviço privado [Uber e outros] devido a sua popularidade crescente. Mas antes de tirarmos conclusões precipitadas e tomarmos decisões superficiais é importante coletar e analisar os dados”.
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Foi o que os pesquisadores da Inrix fizeram. No mesmo período analisado perceberam, por exemplo, que todo o crescimento econômico da cidade também levou a população a usar mais o transporte público do que na época das Olimpíadas, em 2012 – 6% mais passageiros nos ônibus e 15,2%, no metrô. Também houve uma explosão no uso de bicicletas, com um crescimento de 17% no uso diário desse modal. Os pesquisadores viram, ainda, que o fluxo de carros diminuiu, exceto nas regiões mais periféricas de Londres – embora serviços de transporte privado tenham crescido, eles representam apenas 2% dos veículos registrados na cidade. Todos esses fatores levariam a um trânsito mais dinâmico, com menos gente usando automóveis. Então qual é o problema?
Ainda olhando para o crescimento da economia, a equipe de Cookson descobriu que a presença de vans aumentou 8% no centro de Londres no período estudado, devido, provavelmente, ao crescimento de 48,4% no número de vendas on-line no Reino Unido. O fluxo de caminhões também aumentou, 8%.
“Ainda assim, a maior parte dos congestionamentos não é causada pela aumento da demanda por espaço nas ruas, mas pela oferta limitada disso”, adverte Cookson. Bingo! Desde 2012, o número de horas de ruas paradas em razão de interrupções nas vias, motivadas por obras, cresceu 362%. “Algumas dessas horas, sem dúvida, vêm projetos de construções como a requalificação de um dos maiores shoppings e área financeira de uma das maiores estações de transporte de Londres, a London Victoria. Mas a grande maioria dessas interrupções vem mesmo é de melhorias na infraestrutura de transporte da cidade”, revela Cookson.
Saiba mais
Leia o artigo do economista-chefe da Inrix, Graham Cookson, sobre a pesquisa e também veja o estudo completo aqui.
São projetos bilionários, que somam 19 bilhões de libras (ou R$ 98 bilhões) e incluem a nova rede de metrô de Londres e um conjunto enorme de modernização de vias da cidade, incluindo a implantação de uma nova rede de ciclovias que ligarão os subúrbios de Londres até a região central e também entre eles e um sistema moderno de controle de tráfego, entre outras melhorias. Todos esses projetos, estima a Inrix, resultarão, mais tarde, em uma redução de cerca de 20% nos congestionamentos atuais de Londres. “É uma dor de curto prazo para um ganho de longo prazo”, resume Cookson. “A mensagem é clara. O custo do crescimento econômico e do enorme investimento na rede de transportes é, temporariamente, mais ruas congestionada; um preço que vale a pena pagar”, conclui o especialista.