Flávio Sibrim Nassar, arquiteto e urbanista que leciona na Universidade Federal do Pará (UFPA) e também coordena o Fórum Landi, que lutou pela revitalização do centro histórico de Belém, defende que as cidades também são feitas dos saberes que nelas circulam. “Tenho até hoje umas caixinhas de madeira entalhadas de Curitiba que ganhei da minha avó quando ela visitou a cidade. Não sei se esse tipo de artesanato ainda é algo comum por aí, mas com certeza está ligado à identidade da cidade e merecia ser preservado. Em Florença, por exemplo, os artesãos que trabalham com o couro fazendo aquelas capas para livros e outros artigos tão típicos de lá ganham uma espécie de ‘bolsa’ como incentivo para continuarem produzindo e vendendo algo que é parte da identidade da cidade”.
Entre os comércios recentemente protegidos em Lisboa e Barcelona estão camisarias, chapelarias e lojas de tecido – essas últimas também faziam parte da identidade do centro de Curitiba, mas praticamente desapareceram. As que sobreviveram tiveram de se reinventar, focando nos tecidos para festa e decoração. “Nós vivemos um momento de grande valorização de saberes e fazeres brasileiros, especialmente na área de gastronomia, e muita coisa merece ser ‘salvaguardada’ de alguma forma”, observa Nassar. E isso pode ser feito de maneira mais local, além do exemplo da cachaça, bebida que é considerada patrimônio nacional. A nova lei do patrimônio, aprovada neste ano, poderá dar essa possibilidade a Curitiba.
Cidades dão status de patrimônio a comércio para ‘protegê-lo’ de turistas
Leia a matéria completaÉ claro que para cada negócio e produtos que desaparecem, razões culturais, econômicas e sociais podem ser levantadas, mas quando eles fazem parte da identidade de um lugar devem ser vistos também como patrimônio. Angela Rosch Rodrigues , mestre e doutoranda pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (USP) e que teve papel particularmente relevante no estudo do patrimônio industrial da capital paulista, lembra que há uma tendência no país para que o valor da paisagem cultural de uma cidade seja cada vez mais reconhecido e esse conceito engloba não somente os dados naturais como os dados antrópicos, ou seja a ação do homem naquela determinada paisagem. “É o caso da cidade do Rio de Janeiro, que entrou para a lista da Unesco em 2012 como ‘paisagem cultural’”. Ela também cita outra tendência, a de considerar não um monumento ou prédio isolado, mas o conjunto urbano formado por uma mesma teia de relações econômicas e sociais. “É o caso do conjunto de edifícios industriais que foram tombados na Mooca, em São Paulo, pelo Conpresp, o órgão municipal de preservação patrimonial, em 2007”.
Para ela, um projeto como o de Lisboa traz consigo uma certa controvérsia, já que tende a criar atritos entre a visão do que precisa ser preservado e a visão da propriedade privada. Mas se tomados os devidos cuidados – com incentivos e direitos para proprietários, mas também deveres que garantam a preservação dos bens– a ideia tem tudo para dar certo. “O fato é que a partir do momento em que o bem é reconhecido por seu valor cultural, a prioridade é a sua preservação para as gerações futuras. A restrição de uso e de obras visam justamente essa conservação”, avalia ela.
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