A entrada da Força Nacional de Segurança nos conflitos agrários no Pará não vai acontecer, pelo menos por enquanto. Com 210 homens atuando em Belém desde o Fórum Social Mundial, no final de janeiro, a Força terá de se limitar a atender a segurança urbana. Em nota, o governo paraense diz possuir tropa especializada para atuar no campo e fazer reintegrações de posse em fazendas invadidas por sem terra. No sábado (18), um confronto armado entre integrantes do MST e seguranças da fazenda Castanhais, no complexo Espírito Santo, entre os municípios de Eldorado dos Carajás e Xinguara, resultou em oito feridos.

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Segundo a nota, o governo "não tem medido esforços para diminuir a violência agrária". E aponta como uma das medidas a criação de Delegacias de Conflitos Agrários (Deca) em Marabá, Redenção e Paragominas. A Deca de Marabá tem apenas um delegado e seis policiais para cuidar de 'conflitos em 14 municípios da região. No caso da fazenda onde houve o confronto, a nota do governo observa não existir, até o momento, qualquer mandado de reintegração em favor da Agropecuária Santa Bárbara, uma das empresas do banqueiro Daniel Dantas. O MST continua dentro da área com 200 famílias e afirma que não pretende deixar o local, alegando ser "terra pública".

Policiais fortemente armados percorreram durante todo o dia de hoje várias estradas da região em busca de homens armados, mas até o final da tarde não havia qualquer informação oficial sobre prisões. Um grupo de policiais militares e civis recebeu informações de que no assentamento São José, vizinho ao complexo Espírito Santo, agricultores ligados ao MST teriam escondido uma grande quantidade de armas. A polícia não conseguiu checar a informação, porque foi avisada por vaqueiros que a estrada de acesso ao assentamento é perigosa devido à facilidade de emboscadas. A PM deve entrar no assentamento na manhã desta quarta-feira.

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O cinegrafista amador Elbem Mezack contou ao Grupo Estado ter sido usado como escudo humano pelos sem-terra durante o confronto com seguranças da fazenda. "Eu estava filmando e caí na besteira de ir com os outros jornalistas tentar intermediar uma negociação e impedir que houvesse mortes, mas o MST mandou que a imprensa ficasse na frente de seus homens armados. Temi por minha vida. Foi um momento de terror que nunca mais quero viver", disse Mezack. Ele fez imagens do sem-terra Waldecir Wilson Nunes de Castro, conhecido por Índio, um dos feridos, no momento em que o integrante do MST era transportado no avião da Santa Bárbara, juntamente com um segurança da empresa Marca que recebeu um tiro no olho. "O Índio dizia: não me deixa morrer", completou o cinegrafista.

O ferido, de acordo com o MST, teria uma bala alojada no peito e seria transferido, ainda hoje, para Belém. Ele deve ser operado no Hospital de Clínicas Gaspar Viana.