São Paulo durante o blecaute da última terça-feira| Foto: Paulo Whitaker/Reuters

Tecnologia aumentaria a segurança

Ainda não se sabe com exatidão qual foi o problema que provocou o apagão de terça-feira, e a resposta será importante para estabelecer melhorias no sistema, mas especialistas ouvidos pela Gazeta do Povo apontam vários caminhos para aumentar a segurança da rede elétrica e reduzir a probabilidade de novos apagões.

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Apagão assombra Copa do Mundo e Olimpíada

Além de todo o transtorno que causou, o mal-explicado apagão também reacendeu o debate sobre a capacidade do Brasil de abrigar os dois maiores eventos esportivos do planeta. Das 12 subsedes da Copa do Mundo de 2014, cinco passaram algumas horas na penumbra entre terça e quarta-feira – e a cidade do Rio de Janeiro, que em 2016 receberá os Jogos Olímpicos, esteve entre as mais prejudicadas pela falta de luz.

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Se o sistema brasileiro de energia fosse uma construção, Itaipu seria sua viga mestre. A usina em Foz do Iguaçu representa 16% de todo o potencial de geração do Sistema Interligado Nacional (SIN), e na prática responde por 20% da geração de energia do país. Com linhas de transmissão que vão diretamente para o Sudeste, maior mercado consumidor do país, a energia gerada em Itaipu não é substituída com facilidade pelas outras 150 hidrelétricas, 49 termelétricas e duas usinas nucleares do SIN. Como mostrou o apagão que começou às 22h13 da última terça-feira, uma queda abrupta no fluxo de energia da usina faz com que o resto do sistema sofra uma sobrecarga e entre em parafuso. Em outras palavras, Itaipu é grande demais para falhar.

Quando as três linhas de transmissão de corrente alternada de Itaipu caíram – segundo o governo, por causa de um raio –, outras usinas tentaram suprir a oferta perdida. Como a demanda tornou-se grande demais, elas também caíram. Iniciou-se então um efeito dominó que acabou tirando da tomada 18 estados e 70% do PIB brasileiro. Esse processo em cascata deveria ter sido evitado com o "ilhamento" — um mecanismo de segurança da rede que isola determinadas áreas, equilibrando a oferta e a demanda de energia sem riscos para as linhas de transmissão. Por que o "ilhamento" não funcionou é uma das perguntas ainda sem respostas.

Uma possibilidade é que o sistema simplesmente não possui proteção para a queda de energia na quantidade gerada em Itaipu. "O sistema é inteligente, mas é o homem quem programa e diz como ele deve se comportar na ocorrência de um determinado evento. É preciso investigar se havia uma programação para um evento como o que ocorreu na terça-feira", afirma Rafael Schechtman, sócio-diretor do Centro Brasileiro de Infra-estrutura (CBIE).

Sistema interligado

O Brasil tem o maior sistema interligado de transmissão de eletricidade do mundo. A escolha deriva das características do parque gerador, com cerca de 85% da oferta vindo de hidrelétricas que guardam a energia em forma de água armazenada em seus lagos. Como no país os ciclos de chuvas das regiões ocor­­rem em épocas diferentes, a interligação aumenta a segurança de que não haverá racionamento – quando os reservatórios do Nordeste e Sudeste estão cheios, é época de estiagem no Sul, que importa energia; quando chove no Sul é o período de seca em parte do Sudeste e no Nordeste, que usam o excedente de outras regiões. A fraqueza desse sistema, porém, é que a grande distância entre as usinas e os principais centros consumidores aumenta a probabilidade de falhas e acidentes.

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Para diminuir esse risco e depender menos de Itaipu, o país pode diversificar as matrizes energéticas, aumentar o número de linhas de transmissão e tornar o sistema mais inteligente, com investimento em tecnologia da informação.