O mineiro Honório Hermeto Carneiro Leão ganhou o título de Marquês do Paraná sem nunca ter pisado no território paranaense. Incestuoso , a favor da pena de morte e da escravidão, ainda pairava sobre ele a suspeita de enriquecimento ilícito. Grande parte de sua vida pública foi construída na sede da Corte imperial brasileira, no Rio de Janeiro. Membro do Partido Conservador, ocupou cargos como o de “primeiro-ministro”, ministro da Justiça e da Fazenda, senador vitalício e presidente provincial.
Em quase 30 anos de vida pública, que durou de 1829 até sua morte em 1856, ele jamais fez qualquer pronunciamento favorável ao fim da escravidão. Pudera, tinha quase 200 escravos trabalhando em sua fazenda com mais de 190 mil pés de cafés na região onde hoje é a cidade de Além Paraíba, em Minas Gerais. Durante esse período, o debate abolicionista ganhava força no Brasil – em 1850 foi aprovada a Lei Eusébio de Queiroz que proibia o tráfico de escravos para o país.
Incesto
Leão se casou com uma prima de primeiro grau em 1826 para que a família não tivesse que dividir as heranças. “Era uma prática comum nessa época no Brasil”, pondera Werneck. Graças ao dinheiro do “tio-sogro”, Leão conseguiu estudar na Universidade de Coimbra, onde se formou bacharel em Direito. “Os pais deles eram mais humildes e não tinham como bancar os estudos lá em Coimbra”, diz o pesquisador.
O enriquecimento de sua família dependia da força de trabalho dos escravos. “Leão se beneficiava dos escravos. Ele costumava falar que eram os escravos que faziam a riqueza da nação”, afirma o pesquisador Eduardo César Werneck, que escreveu o livro O Marquês do Paraná – A vida pública e privada de ‘El Rei’ Honório Hermeto Carneiro Leão.
No Brasil imperial, a pena de morte estava diretamente relacionada à escravidão. Pelo código criminal, três eram os crimes capitais: a insurreição de escravos, o homicídio qualificado e o homicídio com roubo. “Leão sempre fez vistas grossas a essa questão”, comenta o pesquisador. A pena de morte só deixou de existir nas leis brasileiras em 1891, com a aprovação da Constituição da República.
Morte sem diagnóstico
Segundo o pesquisador Eduardo Werneck, Marquês do Paraná morreu aos 55 anos, quando ocupava o cargo de presidente do Conselhos dos Ministros. Werneck, que pesquisou a vida política e privada de Carneiro Leão por quatro anos, afirma que há ausência de diagnóstico no óbito do marquês. “O que conclui é que ele foi internado com pneumonia que evoluiu e foi mal tratada. Não há um diagnóstico oficial conclusivo.”
Além disso, já ocupando um dos mais elevados cargos do Brasil Imperial, o de presidente do Conselhos dos Ministros, equivalente a um primeiro-ministro (entre os anos de 1853 e 1856), foi convocado a explicar aos membros da Assembleia a surpreendente evolução patrimonial. O Marquês não pestanejou ao afirmar com a maior naturalidade que sua esposa ganhara duas vezes na loteria. “É muito difícil que a história que ele contou fosse verdadeira. Mas mesmo que tenha essa suspeita, nunca se provou o suposto desvio de dinheiro público”, conta Werneck.
O título de visconde e, posteriormente, marquês do Paraná veio como dupla homenagem pela sua luta para que o Paraná se emancipasse de São Paulo em 1853. Também deve o título ao êxito na sua missão ao Rio da Prata em 1851. “Ele era favorável à divisão do território brasileiro”. Mas, pelos relatos da história, Leão nunca se interessou em conhecer a província que ajudou a criar.
Lançamento do livro
O livro O Marquês do Paraná – A vida pública e privada de ‘El Rei’ Honório Hermeto Carneiro Leão Eduardo, de Eduardo Werneck será lançado em Curitiba no próximo dia 21, às 19h30, na sede do Museu Paranaense, na Rua Kellers, 289, São Francisco, Curitiba. O preço da obra é R$ 80.
Carneiro Leão participou de importantes episódios da história brasileira
Nascido em 1801, o início da carreira política de Carneiro Leão se deu aos 28 anos quando foi eleito deputado por Minas Gerais. O pesquisador Eduardo Werneck destaca que o político participou de importantes episódios da história brasileira. Uma delas ocorreu durante seu mandato como presidente da Província de Pernambuco, em 1849, quando se deparou com a Revolução da Praieira.
O movimento, em síntese, ocorreu de 1848 a 1850 e foi uma manifestação popular contra a monarquia e os poderosos proprietários rurais locais. Com habilidade, Paraná apaziguou a situação.
Além disso, durante um surto de febre amarela em Pernambuco, o marquês montou uma espécie de Saúde da Família, quando nem se cogitava algo parecido no país. “Para controlar o surto, ele, que tinha uma visão administrativa avançada para a época, dividiu o estado em distritos para que médicos visitassem de casa em casa a população”, diz o pesquisador.
Segundo Werneck, a administração em Pernambuco contribuiu para que o Império confiasse a ele a missão do Rio da Prata em 1851. “Paraná era um diplomata duro, que conseguiu êxito na missão”, conta o pesquisador. O marquês assinou um tratado de aliança com o Uruguai para combater o ditador argentino Juan Manuel de Rosas. O conflito envolveu o Brasil, o Uruguai e a Argentina pela hegemonia na região do Rio da Prata.
Rosas ainda fez uma intervenção no Uruguai, já que o porto de Montevidéu concorria com o de Buenos Aires e se negava abrir as vias fluviais do interior do país para os navios mercantes estrangeiros, o que afetava diretamente o Brasil. No fim da guerra, em 1852, Rosas foi derrotado pelas forças imperiais do Brasil.
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