O acampamento Guaviry, da etnia indígena guarani-caiuá, atacado por um grupo armado na manhã da última sexta-feira, recebeu, no fim de semana, a adesão de cerca de 70 índios da mesma etnia, também procedentes de aldeias de Amambai, a 342 quilômetros de Campo Grande (MS), na fronteira com o Paraguai. Segundo o coordenador estadual do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), Flávio Vicente Machado, os índios afirmam que não vão deixar a área e prometem resistir, apesar da ação recente de 40 pistoleiros, que teria resultado em uma morte e três sequestros.
Machado contou que o clima no local, alvo de conflitos entre fazendeiros e índios, voltou a ficar tenso no fim da tarde de sábado, quando, segundo relato dos índios, os dois ônibus que os transportavam para o acampamento foram interceptados por fazendeiros.
"Tentaram impedir que eles passassem. Houve uma escolta ostensiva dos ônibus. A intimidação só não se concretizou porque havia policiais na região, mas o risco de novos ataques ao acampamento indígena é iminente e real", afirmou Machado.
Áreas estão em processode demarcação
Durante o ataque ao acampamento, o cacique Nísio Gomes foi morto a tiros. E dois adolescentes e uma criança teriam sido sequestrados. Segundo o coordenador do Cimi, cerca de 200 índios estão no acampamento Guaviry, aguardando a localização do corpo do cacique, para que ele seja enterrado conforme a tradição dos guarani-caiuá.
Segundo Machado, os índios estão mobilizados para a retomada da área de onde foram expulsos no fim da década de 1970. O acampamento fica próximo a fazendas, que seriam áreas indígenas e estão em processo de demarcação.
"Desde o início da ocupação, eles sempre diziam que só saem de lá mortos. O Nísio dizia isso sempre."
Antes de morrer, segundo Egon Heck, do Cimi de Dourados, Nísio teria falado para o filho, Valmir Cabreira: "Não deixem esse lugar. Cuidem com coragem dessa terra. Essa terra é nossa".
Machado revelou ainda que, além da investigação para descobrir onde está o corpo do cacique, o paradeiro dos sequestrados e os autores do massacre, há uma outra questão que causa preocupação: a segurança dos índios que estão no acampamento. Para ele, esse trabalho deve ser feito por policiais de fora do Estado, preferencialmente, pela Força Nacional.
"Os policiais daqui também podem sofrer intimidações. Afinal, estão mexendo com o grande capital", afirmou o coordenador do Cimi no Mato Grosso do Sul.
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