O crime
Glauco e Raoni foram mortos a tiros durante a madrugada de sexta-feira (12), na residência do cartunista, em Osasco. No local, também funciona a Igreja Céu de Maria, do Santo Daime, da qual as vítimas eram adeptas. Nunes, o suspeito, também chegou a frequentar os cultos e era conhecido da família do cartunista.
Na manhã de sábado (13), os corpos Glauco e seu filho foram enterrados no Cemitério Gethsemâni de São Paulo. O caixão do cartunista foi coberto por uma bandeira do Corinthians e o do filho com uma bandeira do São Paulo e um berimbau.
Bandeiras com símbolos religiosos também foram colocadas nos caixões. No sepultamento, muitas pessoas estavam vestidas de branco, como determina a Igreja Céu de Maria. Tristeza e até mesmo indignação marcaram a cerimônia.
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O jovem Felipe Iasi, 23 anos, que teria levado o suspeito de matar o cartunista Glauco Vilas Boas e seu filho Raoni, é considerado "vítima e testemunha" pela polícia, segundo seu advogado, Cássio Paulette. Iasi deixou a delegacia seccional de Osasco neste domingo (14) após prestar depoimento durante quase cinco horas.
De acordo com o advogado, o jovem teria sido rendido pelo estudante Carlos Eduardo Sundfeld, conhecido como Cadu e suspeito de ter matado Glauco e seu filho. Cadu teria obrigado Felipe a levá-lo até a casa das vítimas, em Osasco, na Grande São Paulo. Ele teria ligado momentos antes para o jovem e o convidado para se encontrarem, "um programa normal de jovens, sair para conversar e beber" na noite de sexta-feira (12), segundo Paulette.
"Felipe recebeu um telefonema de noite e se encontraram. Cadu entrou no veículo, apontou uma arma e o obrigou a levá-lo até a residência das vítimas", contou Paulette. Felipe Iasi se apresentou à polícia de Osasco, na tarde deste domingo (14).
Paulette confirmou que Cadu teria rendido a enteada de Glauco e, assim, atraído toda a família. O advogado nega que Felipe tenha ajudado o suspeito na fuga após o duplo homicídio.
"Assim que Raoni chegou, a discussão foi retomada, Felipe viu uma oportunidade e fugiu. Ele só ficou sabendo do homicídio no dia seguinte", contou Paulette. Segundo o advogado, o jovem repetia que era "Jesus Cristo na Terra" e falava "coisas desconexas". "Parece alguém vítima de um surto psicótico ou uso abusivo de drogas (...) Tudo leva a crer que ele teria usado drogas", disse.
Ainda de acordo com o advogado, Felipe não chamou a polícia porque estava extremamente assustado. Ele teria ido para a casa, com medo de estar sendo perseguido.
Paulette informou ainda que Cadu e Felipe se conheceram há menos de dois meses e que seu cliente não sabia quem era Glauco. Felipe teria presenciado a coronhada que Cadu deu na viúva de Glauco, Bia, o soco dado no cartunista e o início da discussão com Raoni. Cadu teria mantido toda a família de Glauco e o próprio Felipe sob a mira de um revólver durante todo o tempo.
"O carro não foi usado na fuga. As imagens da câmera de segurança da casa dele [Felipe] e os horários podem comprovar isso", disse o advogado. O carro de Felipe Iasi foi apreendido pela polícia o veículo, um Gol cinza escuro. Segundo testemunhas, o carro foi usado na fuga de Cadu.
Paulette não respondeu se seu cliente seria usuário de drogas. "Na minha época, bebia-se. Hoje, fuma-se maconha. Não me aprece que ele [Felipe] faça nada que exceda à conduta normal de um jovem", afirmou.
Segurança reforçada
Na manhã deste domingo, a polícia reforçou a segurança na casa onde mora a viúva de Glauco, conhecida como Bia. A medida foi tomada após a viúva ter recebido um telefonema de Carlos Eduardo. A informação foi confirmada pelo delegado Archimedes Cassão Veras Júnior, do Setor de Investigações Gerais (SIG) da Delegacia Seccional de Osasco, que apura o caso.
A residência de Bia fica em Osasco, na Grande São Paulo. Foi lá que seu marido e seu enteado foram mortos. Membros da Igreja Céu de Maria, com sede dentro da casa e da qual Glauco foi fundador, afirmaram ao G1 que temem a volta do assassino ao local. Ele está foragido desde a madrugada de sexta-feira (12).
Ao telefone, Cadu teria dito palavras desconexas e teria pedido "perdão" a viúva. Segundo a jornalista Nancy Antonia Corrente, vizinha e integrante da seita religiosa da qual Glauco era fundador, Bia entrou em estado de choque após a ligação e pretendia deixar a casa.
"Cadu fez uma ligação, não sei se ele ia se desculpar ou não, mas a Bia não suportou. Ela entrou em estado de choque e decidiu que pegaria a filha e sairia da casa onde morava com o Glauco aqui em Osasco. Soube que iria para casa de parentes", disse Nancy ao G1.
Fechou o cerco
A Polícia Federal e a Interpol também foram avisadas para fecharem o cerco em aeroportos, fronteiras e até em outros países contra uma possível fuga de Cadu.
"Já avisamos todas as polícias, Polícia Federal, Interpol, polícias civis no Brasil, polícias militares. Nosso objetivo é fechar o cerco em busca do suspeito. Evitar que ele tente fugir", disse Veras Júnior. "De qualquer modo, ainda trabalhamos com a hipótese de o suspeito estar escondido em algum lugar em São Paulo."
"A expectativa nossa é pela apresentação ou localização do suspeito. A família do Carlos Eduardo [Sandfeld Nunes] está colaborando. Na sexta, ouvimos o pai e o avô dele, acompanhados de um advogado da família. Segundo os parentes do rapaz, eles não sabem do seu paradeiro", disse o delegado.
IML
Para tentar localizar Nunes, a polícia também está percorrendo diversos hospitais e IMLs (Institutos Médicos Legais) em Osasco e na Grande São Paulo. "Trabalhamos, ainda, com a possibilidade de ele ter tentado se matar ou mesmo se suicidado. Afinal de contas, ante do estudante atirar no cartunista e no filho dele, ele teria dito que era 'Jesus' e que queria 'morrer'", relata o delegado.
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