Um grupo de motoristas que utilizam no Brasil o aplicativo de carona paga da multinacional norte-americana Uber mobiliza uma paralisação de 24 horas, desde as 5h desta segunda-feira (28), para protestar contra a redução de 15% na tarifa, aplicada no ano passado. A expectativa é de que o protesto reúna profissionais de São Paulo - onde se espera a maior adesão -, Rio, Belo Horizonte, Goiânia, Porto Alegre, Brasília, Recife, Campinas e também de Curitiba.
Curitiba: taxistas impedem a passagem de motorista de Uber
Leia a matéria completaSegundo a assessoria de imprensa da multinacional, ainda não há como prever o impacto da paralisação. Assim como nas demais capitais, na capital paranaense - onde o aplicativo começou a operar há dez dias - ainda não é possível saber quantos motoristas podem ter aderido ao ato uma vez que quem presta serviço pelo Uber não é obrigado a seguir carga horária rígida. Ou seja, neste momento, aplicativo desconectado pode significar apenas que o motorista não está disponível porque irá começar a trabalhar mais tarde ou não irá trabalhar no dia.
Contudo, os organizadores estimam que 2 mil motoristas devem desligar o aplicativo - segundo a Uber, há 10 mil parceiros no País. Eles se queixam do crescente número de novos colaboradores, o que, aliado à queda na tarifa, estaria causando prejuízo. Motoristas pedem que o valor seja reajustado em 35%.
Curitiba multa seis motoristas do Uber em 10 dias
Leia a matéria completaEm Curitiba, não houve paralisação, segundo motoristas do Uber consultados pela reportagem. Em parte porque, ao contrário das cidades mais antigas, não houve redução da tarifa na capital paranaense, já que o serviço só começou a operar no último dia 18 de fevereiro.
Além disso, os motoristas curitibanos desfrutam de algumas vantagens oferecidas pela empresa, explica Rodrigo Dória, um dos primeiros parceiros do Uber na cidade. Há um valor mínimo por hora paga, para quem trabalha do período das 9h ao meio-dia. Se o motorista fica online e faz menos de R$ 32, o aplicativo complementa. “Para nós ainda está bom, nas outras capitais não tem mais, por isso as reivindicações”.
São Paulo
Na capital paulista, parte do manifestantes se organiza para estacionar os veículos, a partir das 8h, na Praça Charles Miller, na zona oeste, na frente do Estádio do Pacaembu, mesmo local onde taxistas já fizeram atos contra a regulamentação da Uber. Outro grupo deve se reunir no Parque Villa-Lobos, na zona oeste.
Organizado por meio do WhatsApp, o movimento pede diálogo com a Uber. Na última semana, o aplicativo suspendeu motoristas temporariamente. O Estado apurou que a empresa fez uma varredura para coibir suspeitas de fraude, mas, oficialmente, ela nega o desligamento definitivo. Os motoristas, porém, afirmam que a Uber expulsa profissionais que organizam protestos.
Por medo de represália, a maioria dos motoristas ouvidos pela reportagem e que vão aderir à paralisação não quis se identificar. Ricardo (nome fictício), cadastrado como Uber Black, diz que, com a redução de 15% na tarifa e o reajuste de 6% na gasolina, o rendimento caiu significativamente. “Perdemos muito mais do que calculávamos. Estamos praticamente pagando para dirigir.” Segundo ele, o faturamento diário era de R$ 500. “Hoje, não faço R$ 300.”
Para ele, o protesto não vai pesar no bolso da Uber, mas servirá para chamar a atenção. “Acho impossível a empresa rever os valores, até porque isso começou lá fora e ela não voltou atrás. Tentamos conversar, mas fomos ignorados, então, vamos chamar atenção da mídia e do público.”
Nelson Bazolli, presidente da Associação dos Motoristas Parceiros das Regiões Urbanas (Amparu) e um dos organizadores do ato, confirma que a correção da tarifa já foi pedida à empresa, que teria ignorado os apelos por conversa. “A relação desequilibrou por causa da questão tarifária. Com menos lucro, o motorista tem menos dinheiro para comprar, por exemplo, água e balas, ou para manter o ar-condicionado ligado. Vai cair a qualidade do serviço.”
Lamento
Motorista da Uber X há dois meses, Mariana (nome fictício) entrou para a empresa para complementar a renda de comerciante, mas demonstra arrependimento. “Era para ser mais uma fonte de renda, mas está me atrapalhando.” A colaboradora diz que trabalha 17 horas diárias para receber R$ 300. “Quando entrei, ligava o aplicativo em casa e já tinha corrida. Trabalhava seis horas por dia e batia minha meta. Agora, chego a ficar uma hora esperando.”
Em nota, a empresa afirma que a estratégia de reduzir preços tem como resultado o aumento da demanda por carros. “Com isso, os motoristas parceiros farão ainda mais viagens, chegando até a ganhar mais.” Ainda de acordo com a Uber, embora tenha havido redução de tarifa, “os motoristas continuam ganhando a mesma porcentagem (80% para UberBlack e 75% para UberX) do valor pago pelos usuários”.
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