"Eu não sei como meu filho morreu. É tudo o que eu quero saber. Eu estou preso e até agora não sei como o meu filho morreu". Foi desta maneira que Nilson Moacir Oliveira Cordeiro, assessor parlamentar, 31 anos, em entrevista exclusiva (clique no link no final do texto para ouvir), falou sobre a morte de seu filho de sete dias, ocorrida no início do mês em Curitiba. Cordeiro e a mulher, Any Paula Facolin, secretária de 29 anos, são os principais suspeitos do crime e estão detidos desde o dia 13 deste mês. Cordeiro está preso no Complexo Médico Penal de Piraquara e Any está na Penitenciária Estadual de Piraquara Feminina, ambos em celas individuais.

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Segundo Cordeiro, Any teve uma gestação normal, e "assim como 99% dos casos a criança não foi planejada, mas muito desejada", disse. O filho, L.G.C, nasceu no dia 30 de junho depois de um parto difícil, complicado e demorado, realizado na Maternidade Mater Dei, na capital paranaense. De acordo com o relato do pai, o bebê nasceu com hidrocele (acúmulo de água no saquinho da criança, que o próprio organismo absorve. Segundo os médicos, o diagnóstico é bastante normal em recém-nascidos não precisando fazer uso de medicamentos). Além da hidrocele, Cordeiro disse que notou que a bundinha do bebê estava um pouco mais dura que o normal, mas "mesmo assim os médicos deram alta para o meu filho".

Bebê chorou mais de 15 horas"O que eu achei estranho foi que o bebê chorou desde a hora que nasceu até as seis horas do dia seguinte, mais de 15 horas sem parar. Mas, depois disso, estava tudo bem", relatou. Segundo o pai, cerca de 15 pessoas, a maioria da família, visitaram o recém-nascido em casa e por duas ou três ocasiões o bebê ficou sem a presença dos pais. Perguntado sobre a possibilidade de ter acontecido algo nessas oportunidades, o pai afastou a idéia. "A criança ficou sozinha por poucas vezes, quando a minha mulher estava no banho, por exemplo, mas estavam em casa pessoas da nossa confiança, que não poderiam fazer qualquer mal para a criança, pelo contrário", disse.

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Na quarta-feira (6), na parte da tarde a mãe foi dar banho no bebê, e por telefone disse a Cordeiro que estava preocupada porque o bebê estava com o saquinho um pouco mais inchado do que já estava, com uma coloração mais avermelhada e que tinha visto duas manchinas escuras entre o saquinho e o ânus. "Por telefone eu não tinha como saber o que era. Somente à noite quando eu fui trocar a roupinha dele é que eu pude ver. O saquinho dele tava bem grande, a bundinha dele tava mais dura, e tinha umas manchinas pequenas, que eu não sabia o que era", contou. Diante dos sintomas, o casal resolveu levar o filho à Maternidade Mater Dei.

Ao chegar, na noite de quarta-feira, Cordeiro falou que a doutora Simone Vítor, que estava de plantão, foi quem deu o primeiro atendimento ao filho. "Ela disse que não sabia diagnosticar o que era e falou que ia internar meu filho para fazer alguns exames. Perguntei sobre a possibilidade de uma infecção e ela respondeu que poderia ser, mas não saberia ao certo. No dia seguinte, ela disse que meu filho tinha passado bem à noite e falou que pesquisou na internet a possibilidade de uma infecção desencadeada pela hidrocele. Ela disse que era possível, mas não era comum. Além disso, ela disse que existem casos de uma infecção causada pela hidrocele", contou o pai.

Versões diferentesA versão do pai é diferente da apresentada pelo médico e pediatra Luvercy Rodrigues Filho, chefe do setor de Neonatal da Maternidade, que afirma que a criança já chegou à Mater Dei com a lesão no ânus. "Os pais trouxeram o bebê, que foi avaliado por uma doutora que estava de plantão. Foi um atendimento normal. Como ela diagnosticou uma lesão perineal (na região do ânus), ela internou a criança e me telefonou. Eu atendi o bebê na manhã de quinta-feira", relata o médico. Perguntado sobre a versão do pediatra, o pai do bebê disse que o filho tinha apenas duas manchinhas próximas ao ânus e o saquinho inchado.

O laudo, feito pelo Instituto Médico Legal, concluiu que a lesão resultou em morte por infecção generalizada, pós-lesão anal. Ainda segundo o laudo, "a lesão, pelas características, pode ter sido causada por pênis humano, por um ou mais dedos ou ainda instrumentos com as mesmas características". O pai da criança diz que não acredita que o filho tenha sido abusado sexualmente.

Sobre alguns materiais usados em práticas sadomasoquistas, encontrados pela polícia no apartamento do casal, os advogados de defesa impediram que os jornalistas fizessem perguntas a esse respeito.

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Os médicos e pediatras Luvercy Rodrigues Filho e Simone Vítor foram procurados pela reportagem. Rodrigues Filho disse que não iria se pronunciar sobre as falas do pai do bebê e que tudo o que sabia já informou à Justiça. A médica não foi achada para comentar a entrevista.

Ouça a entrevista completa com o pai do bebê Nilson Moacir Oliveira Cordeiro