Ivone Calderari e os filhos Isabel e João Antônio: acordos familiares e dias melhores em casa. 
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Os pais foram de um extremo a outro na educação dos filhos. Se há cinco ou seis décadas as crianças não tinham vez nem voz nas famílias, hoje muitas ocupam o lugar central, o que traz consequências graves para a vida dos pequenos.

A permissividade sem freios leva ao que alguns pesquisadores chamam de “infantocracia”. Funciona assim: quando os pais não exercem a autoridade, a criança entra em competição pelo poder de decisão na casa. Ao conquistar essa autoridade, o filho torna-se um tirano, em busca somente do próprio bem-estar.

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Crianças que antes de dormir obrigam a mãe ou o pai a contar e recontar histórias uma infinidade de vezes; fazem birra por qualquer desejo frustrado; determinam onde a família vai almoçar no fim de semana; pedem coisas sem limite; querem a atenção dos pais o tempo inteiro e não dão sossego nem quando eles estão no banheiro. Todas essas situações podem sinalizar que os filhos precisam de mais limites.

Marcos Meier, mestre em Educação, consultor educacional e palestrante, afirma que os pais não devem ter medo de exercer a autoridade. “Leve 20 crianças ao alto de uma montanha, à beira de um precipício, e diga a elas para que brinquem à vontade com uma bola. Elas vão ficar com medo, sem vontade de brincar. Mas se você colocar um limite, uma grade resistente que as proteja, elas vão se divertir à vontade”, compara, ao explicar a importância das regras em casa.

Melhor caminho é sempre o do meio

Embora defendam a volta de limites e regras claras para as crianças, os profissionais ouvidos pela reportagem ressaltam que o excesso de rigor das gerações passadas também é prejudicial, pois afeta a autoestima e criatividade do filho, além de sua capacidade de tomar decisões. “Quem cresceu em regimes excessivamente autoritários tem dificuldade de

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Satisfazer grande parte das vontades da criança pode, paradoxalmente, trazer insatisfações, não só na vida adulta, mas no próprio presente, explica a psicóloga Maria Tereza Maldonado, autora de 40 livros sobre relações familiares, desenvolvimento pessoal e gestão de conflitos.

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“Quanto mais a criança tem, mais ela quer, e o que ela tem deixa de ser importante. Ela passa a focalizar naquilo que ainda não tem. Também se torna desagradável, com dificuldade de contato com outras crianças, pois só vai querer brincar do que deseja e não terá flexibilidade para fazer acordos”, alerta.

Criança egocêntrica, adulto egoísta

A criança pequena é regida pela lei do desejo, pelo princípio do “eu quero e quero agora”. Cabe aos pais colocar limites para evitar que o egocentrismo natural da primeira infância se transforme em egoísmo e imaturidade emocional no futuro. Segundo a psicóloga Maria Tereza Maldonado, a criança que cresce com a impressão de que está sempre no comando terá dificuldade de adaptação no trabalho. Ela será o jovem que não aceita hierarquia nem suporta quando não é promovido na velocidade com que gostaria ou ao receber uma tarefa de que não gosta. Para a psicóloga Lélia Cristina de Melo, diretora de formação da Escola do Bosque Mananciais, os pais não devem colocar barreiras na vida dos filhos, mas é recomendável que imponham alguns obstáculos, para que os filhos valorizem o que têm e contribuam com as outras pessoas. “Os filhos passam muitos anos recebendo dos pais e são pouco estimulados a contribuir com os membros da família. Há casas com duas empregadas, em que o adolescente não precisa fazer nada. Os pais podem dizer que ele vai organizar o próprio quarto, levar o lixo para fora ou ajudar na limpeza da casa no fim de semana”, sugere.

Mãe diz que o clima em casa melhorou

Na hora de brincar, o filho de 5 anos de Ivone Maria Titton Calderari Patrão, 35 anos, tirava do armário todos os brinquedos. A casa ficava uma bagunça e a mãe, estressada. Hoje o guarda-roupa tem chave. João Antônio escolhe um único brinquedo e precisa guardá-lo antes de apanhar outro. A estratégia para ajudá-lo a criar o hábito da ordem foi adota

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Fazer tudo o que a criança pede também prejudica os estudos, pois para aprender é fundamental tolerar frustrações. Para Maria Tereza, só quando o filho suporta bem a decepção de não conseguir resolver um problema de matemática ou tocar um instrumento é que vai seguir adiante e praticar até obter sucesso. Além disso, filhos que não se acostumaram a rotinas terão dificuldade para cumprir hábitos fundamentais para sedimentar o conhecimento.

“Existe um ciclo de aprendizagem, que inclui assistir a aulas, fazer lição de casa e dormir bem. Mas os pais precisam colocar regras para a criança fazer as tarefas da escola e dormir no horário. É preciso dormir oito horas contínuas para que o cérebro libere substâncias que fazem a fixação dos conteúdos”, afirma Meier.

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Leitura de apoio

Listamos alguns livros para ajudar as famílias a evitareM a “infantocracia”

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Dicas

Veja como é possível agir em situações nas quais a criança demonstra querer “tomar o poder”

1. Chega a hora de dormir e o filho exige que os pais leiam e releiam histórias e mais histórias.

Diga que você está cansado e que precisa descansar. Dessa forma, ensina à criança que ela será atendida, mas que a disponibilidade não é ilimitada.

2. Pais estão conversando e a criança pede atenção.

Diga para a criança esperar a vez dela de falar.

3. Criança não deixa os pais assistirem a um programa de televisão e quer escolher o canal.

Negocie. Diga que depois de terminar o seu programa ela poderá ver o desenho. Se depois que você assistir o que quer o filho ainda estiver fazendo birra, diga que quem sai no prejuízo é ele, pois a televisão está liberada e ele, perdendo o desenho.

4. Filho quer novos brinquedos o tempo todo.

Dê brinquedos melhores e mais caros só na data do aniversário ou no Natal. Além disso, estimule a criança a dedicar tempo aos brinquedos que tem, a achar formas diferentes de brincar com o que há em casa. Nesse Dia das Crianças, uma dica é dar de presente um passeio em família.

5. Criança faz birra no supermercado por querer comprar muitas coisas.

Antes de saírem de casa, estabeleça um acordo com a criança. Diga: “Filho, temos essa quantidade de dinheiro para fazer todas as compras. Você vai poder escolher um único produto.”

Fontes: Lélia Cristina de Melo, Maria Tereza Maldonado e Marcos Meier.