Para os indígenas ligados Sociedade de Defesa dos Índios Unidos de Roraima (Sodiu-RR), a manutenção dos grandes produtores de arroz na Terra Indígena Raposa Serra do Sol vai impedir o isolamento das comunidades e garantir progresso e desenvolvimento para a região. Com base nesse argumento, a entidade espera que o Supremo Tribunal Federal (STF) decida na quarta-feira (27) pela ilegalidade da demarcação contínua.

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"A grande maioria dos moradores da Raposa quer o progresso. Quem quer voltar a viver isolado, como antigamente, andando de tanguinha, com cocar na cabeça? Isso está ultrapassado", apontou um dos integrantes do grupo, o macuxi Natal Altair.

Ao contrário do Conselho Indígena de Roraima (CIR), a Sodiu apóia a permanência dos rizicultores na reserva e defende a demarcação da Terra Indígena em ilhas, e não de forma contínua. Altair nega a influência de fazendeiros ou políticos. Segundo ele, a Sodiu tem uma relação harmônica com os grandes produtores de arroz.

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Na tarde de desta terça-feira (26), por exemplo, o presidente da entidade, Sílvio da Silva, negociava com os arrozeiros um ônibus para levar os indíos ligados ao grupo que querem acompanhar o julgamento do STF ao distrito de Surumu dentro da reserva área de maior tensão entre fazendeiros e indígenas favoráveis a demarcação contínua.

"Defendemos a demarcação em ilhas porque resguarda direitos de pessoas que estão lá há anos, com suas propriedades tituladas. Haverá justiça, porque permanecerão lá os não-índios que contribuíram para resguardar a nossa soberania nacional. Essa miscigenação índio e não-índio não representa mal algum, pelo contrário, representa o que nós consideramos progresso; nada puro, com homogeneidade é bom", avaliou Altair.

Moradora da Raposa Serra do Sol, a agricultora macuxi Deolinda Pereira reclama que nas áreas da reserva em que os brancos não vivem mais, as estradas foram abandonadas. "A gente não quer ficar isolado. Queremos morar junto com todos os brasileiros. Quem defende a saída dos brancos age morando na cidade, não sabe o sofrimento de quem vive na Raposa. Se as fazendas saírem vamos perder nossos empregos", aponta.

Altair fez duras críticas ao CIR, que, segundo ele, é influenciado por interesses de organizações estrangeiras e questionou os números apresentados pelo conselho que apontam a existência de 18 mil indígenas na área.

"Há manipulação, não é dado do IBGE [Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística] nem de nenhuma fonte confiável. Há interesse do CIR de que eles tenham maioria a favor. Mas não têm A grande maioria na Raposa quer usufruir das vantagens que há na cidade, como internet e televisão, querem estar inseridos no processo de desenvolvimento", avaliou.

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Questionado sobre as acusações de degradação ambiental promovida pelos rizicultores na área, Altair disse que as críticas são falácias, com interesse político. Ele ainda comparou a tensão na Raposa Serra do Sol ao recente conflito entre a Rússia e a Geórgia na região separatista da Ossétia do Sul.

"Tememos algo parecido aqui. Por isso torcemos para que o STF decida pela descontinuidade da demarcação para que Raposa seja um solo verde e amarelo, para que a gente possa exercer nosso direito de ir e vir, sem obstáculos, sem barreiras do CIR. Estamos otimistas."

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