A perícia de local, feita pelo Instituto de Criminalística (IC), encontrou quatro projéteis cravados no solo do terreno onde Ricardo Geffer foi morto em Rio Branco do Sul, na Região Metropolitana de Curitiba (RMC). Para o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), isso é um indício forte de que ele foi executado pelos suspeitos presos na semana passada durante operação Aquiles. O chefe da Divisão de Crimes Contra o Patrimônio da Polícia Civil, delegado Rubens Recalcatti, outros quatro investigadores, e Mauro Sidnei do Rosário estão entre os presos e são acusados de executarem a vítima.
Defesa alega que laudo não pode ser analisado isoladamente
O advogado de defesa dos policiais, Cláudio Dalledone Júnior, afirmou que a análise do exame de local não pode ser feita de maneira isolada. Segundo ele, o Gaeco está interpretando o documento da maneira como quer e não como os fatos aconteceram.
“Todo exame técnico-pericial tem que ser analisado de acordo com o conjunto de todos os exames. Novamente o Gaeco tenta fazer uma análise buscando uma conclusão em um exame isolado, feito de maneira unilateral por eles, sabe-se lá de que maneira e com quem participando”, afirmou o advogado.
Além disso, ele desacreditou o laudo de Reprodução Simulada dos Fatos. “Esse laudo precisa, em sua essência, da participação dos acusados. Em não existindo ou o mero convite, ela é imprestável”. A defesa aguarda para esta tarde o resultado do habeas corpus impetrado na quinta-feira (15).
A reportagem da Gazeta do Povo teve acesso ao laudo com exclusividade. O documento é chamado de Laudo de Reprodução Simulada de Local do Crime, já que também envolve a reconstituição dos fatos. Essa perícia ficou pronta na última sexta-feira (16) e foi solicitada porque os oito tiros (seis no corpo e dois na cabeça) que mataram Geffer transpassaram o corpo dele, mas ainda não haviam sido encontrados.
Confira os índicios do Gaeco e os argumentos da defesa dos policiais
O perito do IC relatou que encontrou três projéteis de calibre ponto 40 e um que pode ser calibre 38 Special ou 357 Magnum no local do crime. Os outros quatro ainda não foram localizados. “Tais projéteis [os encontrados] apresentavam pouco grau de deformação e encontravam-se com aderências incrustadas no solo com suas ligas metálicas oxidadas, inclusive em seus sulcos de raiamento, indicando que os mesmos ali foram deflagrados há um certo período de tempo”, descreveu o perito no texto. Os chamados sulcos são as marcas em torno da bala que dão estabilidade a ela no momento do tiro.
De acordo com o coordenador do Gaeco de Curitiba, Denílson Soares de Almeida, as balas encontradas sugerem que Geffer estava deitado quando recebeu os tiros. Além disso, como a balas teriam transpassado o corpo, os disparos podem ter sido feitos a uma distância pequena, pouco mais de 50 centímetros já que não há queimadura na pele em torno da marca de queimadura de entrada do projétil, chamada de “tatuagem” por peritos.
No entanto, todos os projeteis encontrados passarão por exame de confronto balístico com as armas apreendidas com os policiais investigados e com as armas encontradas com Geffer, para confirmar a autoria.
“Numa situação de confronto normal, as pessoas estão distantes e estão em pé. Os disparos são paralelos ao chão e pode até ter angulações, mas não assim. Mas, os projeteis foram encontrados no local indicado pelas testemunhas de onde teria ocorrido a execução. Os tiros estavam 30 centímetros de profundidade dentro do solo. Indicam que os disparos aconteceram em direção ao solo e em direção à vítima”, explicou o promotor.
Dois momentos
A perícia foi feita em dois momentos. O primeiro ocorreu no dia 30 de setembro, com uma reconstituição. Neste dia, as testemunhas foram ao local ao lado dos peritos e promotores. Eles demonstraram todos os fatos conforme seus testemunhos. Os tiros na cabeça, segundo as testemunhas, foram disparados na viatura quando os policiais já levavam Geffer embora. Os policiais teriam parado o carro e disparado.
Antes, quando a vítima estava dominada, ainda segundo as testemunhas, os policiais teriam disparado seis vezes. Destes, quatro projéteis foram encontrados no dia oito de outubro, em um segundo momento. De acordo com a perícia, apesar das chuvas, o local estava intacto sem interferência humana. Foram usados até detectores de metal para encontrar os projéteis. Também foram localizados estojos de balas deflagradas.
Os índícios de crime, segundo o Gaeco
- Cinco testemunhas apontam que Ricardo Geffer estava dominado pelos policiais quando foi morto. Uma delas viu Mauro Sidnei do Rosário, o único acusado que não é policial, atirar após o delegado Rubens Recalcatti chutar Geffer;
- Todos os oito tiros transpassaram o corpo, o que significa que os disparam aconteceram com certa proximidade, o que motivou a pesquisa no solo;
- Um dos tiros acertou a parte superior do crânio. Para o Gaeco, é improvável o tiro acertasse essa parte da cabeça de Geffer durante um confronto com a polícia.
- Três tiros acertaram a genitália da vítima, o que demonstraria uma rixa pessoal entre um dos suspeitos e Ricardo Geffer;
- Todos os policiais envolvidos não estavam lotados em Rio Branco do Sul, portanto, não deveriam estar investigando o homicídio do ex-prefeito daquela cidade, João da Brascal.
Argumentos da defesa:
- Todas as testemunhas têm vínculo com Ricardo Geffer. Seriam parentes e amigos dele;
- Laudo de exumação não comprova que Geffer estava algemado;
- Houve confronto. Teriam sido encontradas armas calibre ponto 40 com Geffer;
- Geffer estava em posição de ataque e as lesões no rosto dele foram produzidas em um momento de queda;
- Há uma análise precipitada de laudos de forma isolada, o que distorceria a interpretação dos fatos.
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