Os três policiais paranaenses do grupo Tigre (Tático Integrado Grupo de Repressão Especial), que participaram de uma ação no Rio Grande do Sul na semana passada, acharam que o sargento da Brigada Militar gaúcha Ariel da Silva estava fazendo a segurança dos sequestradores. A informação foi obtida no depoimento dos policiais ao delegado da corregedoria da Polícia Civil gaúcha, Paulo Rogério Grillo, nesta terça-feira (27).
Segundo o jornal Zero Hora, o delegado informou, em entrevista coletiva, que os investigadores disseram que ficaram por duas horas fazendo um levantamento sobre o possível local onde estaria um dos integrantes da quadrilha acusada de sequestrar dois agricultores paranaenses.
A desconfiança dos investigadores com relação ao sargento ficou mais forte quando ele ultrapassou o veículo descaracterizado da polícia do Paraná, fez meia volta e retornou por trás da viatura. Nesse momento, o sargento sacou a arma contra os policiais que efetuaram os disparos em direção ao policial gaúcho, segundo a versão dos paranaenses. O autor dos disparos foi um investigador identificado apenas como Alex que tem 11 anos de experiência. Ele assumiu que atirou e disse que achou o sargento era bandido. Segundo Alex, os disparos dele e do sargento ocorreram praticamente ao mesmo tempo.
Os três investigadores devem permanecer presos no Grupamento de Operações Especiais da Polícia Civil do Rio Grande do Sul, onde há celas especiais para policiais. Eles pediram para voltar a Curitiba para receberem a visita das famílias na passagem do ano e se comprometeram em retornar a Porto Alegre após o feriado, mas por enquanto devem permanecer na capital gaúcha. Eles deverão ficar presos pelo menos até a reconstituição da morte na semana que vem, que deve ocorrer na próxima terça-feira (3).
Dois dos policiais já haviam prestado depoimento até as 18h desta terça-feira (27) no Palácio da Polícia Civil, em Porto Alegre. O agente que ainda não havia prestado depoimento será ouvido ainda nesta terça-feira.
Os três agentes estão na capital gaúcha desde segunda-feira (26). Em nota divulgada nesta segunda-feira, a Secretaria de Segurança Pública do Paraná (Sesp) ressaltou que a partir desta data, "toda a responsabilidade sobre a integridade física e moral dos referidos policiais passa a ser do governo do Rio Grande do Sul". A Procuradoria Geral do Estado do Paraná vai acompanhar o caso. O órgão ainda reafirma o propósito de colaborar com as investigações para elucidar o caso e reitera a "irrestrita confiança na Polícia Civil do Estado e, de forma enfática, sua admiração e respeito pelo trabalho desenvolvido há muitos anos pelo Grupo TIGRE, que o tornou referência nacional no combate às ações criminosas de sequestro e cárcere privado".
Operação
A operação do grupo Tigre, a unidade de elite antissequestro da Polícia Civil do Paraná, acabou de forma trágica nesta quarta-feira em Gravataí, no Rio Grande do Sul. Os policiais paranaenses foram ao estado gaúcho resgatar duas vítimas de sequestro sem avisar as autoridades locais, como determina o Código de Processo Penal, e mataram um sargento da Brigada Militar numa suposta troca de tiros. Ao saber dos motivos da investida da polícia paranaense, dois delegados gaúchos estouraram o cativeiro e acabaram matando uma das vítimas, o agricultor paranaense Lírio Persch.
A operação pode ter iniciado um problema no relacionamento entre os dois estados. O governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, chamou a ação de irresponsável e ilegal, segundo o jornal Zero Hora. O comandante do 17.º Batalhão da Brigada Militar, tenente-coronel Dirceu Lopes, considerou a ação paranaense desastrosa. O chefe da Polícia Civil gaúcha, Ranolfo Vieira Junior, deve pedir esclarecimentos ao delegado geral do Paraná, Marcus Vinicius Michelotto. "Foi uma ação clandestina", afirmou. Este foi o primeiro sequestro investigado pelo Tigre que resultou na morte da vítima.
No começo da tarde de quarta-feira, a Justiça gaúcha decretou a prisão temporária dos três policiais do grupo Tigre que participaram da ação que resultou na morte do sargento Ariel da Silva, de 40 anos. Os três se apresentaram durante a tarde na Corregedoria da Polícia Civil em Curitiba. Michelotto lamentou a prisão e considerou precipitada a decisão da Justiça gaúcha.
Prisão e morte
O sargento Ariel estava de moto e teria sido atingido por cinco disparos, quatro no estômago e um no pescoço, na Avenida Planaltina, por volta de 1h30 da manhã de ontem. De acordo com o comandante da Brigada Militar, a viatura do grupo Tigre estava parada de modo transversal na via, o que levou à abordagem do sargento. Lopes acredita que os disparos efetuados pelo sargento teriam sido feitos após ele ter sido atingido. Segundo ele, os locais onde ficaram as marcas dos tiros apontam que ele já estaria deitado quando revidou.
Já para a Polícia Civil do Paraná, os policiais do Tigre relataram que estavam sendo seguidos por um homem em uma motocicleta. Em um semáforo, ele abordou o veículo dos policiais. Houve troca de tiros e o homem morreu no confronto. A troca de tiros ocorreu no bairro Morada do Vale, bem longe da casa onde ocorria o sequestro, no centro de Gravataí.
No pedido de prisão, o promotor de Justiça André Luís Dal Molin Flores critica a ação do grupo Tigre. "Pelo histórico da ocorrência policial e gravidade do fato, há sérios indícios de que os policiais civis do Paraná não possuíam autorização para estar na cidade, não apresentaram argumentos convincentes sobre o episódio, e, possivelmente, tenham deturpado a seu favor os acontecimentos", justifica.
Sequestrados
O fazendeiro e empresário Osmar José Finkler e Lírio Persch estavam sob o poder dos sequestradores desde terça-feira. Após o incidente com o sargento, os policiais gaúchos começaram a trabalhar no caso de sequestro também. Dois delegados de Gravataí foram ao local após receber a informação dos policiais paranaenses.
Quando chegaram a casa, que fica atrás da Câmara de Vereadores da cidade, um Corsa branco saía da garagem com os sequestradores e as vítimas. O delegado Leonel Carivali disse, em coletiva no Rio Grande do Sul, segundo o jornal Zero Hora, que gritou se identificando como policial. Naquele momento, os criminosos saíram do carro disparando contra os policiais. No revide, os policiais gaúchos acertaram as costas de Lírio.
Os sequestradores João Rodrigues Ferreira, Claudemir dos Santos e Márcio Lourival foram presos após a troca de tiros. Lourival é paranaense. Os três têm passagens pela polícia. O Corsa tinha placa de Campo Largo.
Há desconfiança de que não tenha tido tiroteio e de que só a polícia atirou. Pelos indícios de imprudência e precipitação, os delegados Roland Short e Leonel Carivali serão chamados a darem explicações sobre o caso.
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