Depois do temporal, veio o reencontro
Curitiba e Ilhota - Famílias divididas pelo deslizamento de terra que tornou o Morro do Baú uma das regiões mais perigosas do Vale do Itajaí puderam se reencontrar ontem. No total, 135 pessoas que estavam no abrigo de Gaspar foram levadas para a cidade natal, Ilhota, onde reencontraram familiares e amigos que não viam há quase uma semana.
Para moradores, explosão em duto causou deslizamento
Moradores do Morro do Baú, em Ilhota, culpam uma suposta explosão do gasoduto por deslizamentos ocorridos na região. Eles dizem ter visto um clarão na região por onde passa a tubulação, um local de difícil acesso na encosta do morro na região de Gaspar, entre os municípios de Luiz Alves e Blumenau. O Morro do Baú foi uma das áreas mais atingidas pelos deslizamentos dos últimos dias.
O Centro de Informações de Recursos Ambientais e de Hidrometeorologia de Santa Catarina (Ciram) emitiu aviso de alerta máximo para as regiões da Grande Florianópolis, Vale do Itajaí e Litoral Norte temendo novos deslizamentos de terra na noite de ontem. Os riscos aumentaram pela possibilidade de pancadas de chuva de até 20 milímetros nas localidades. Os municípios que podem sofrer as piores consequências são Ilhota, Luiz Alves e o entorno de Blumenau. Ontem, o número oficial de mortos na tragédia das enchentes subiu para 116, com mais duas mortes registradas em Luiz Alves.
De acordo com a meteorologista Laura Rodrigues, do Ciram, uma frente fria de baixa intensidade atravessa o estado na altura do litoral. No início da noite de ontem, fazia 30 graus na região. O calor repentino auxilia na formação das precipitações popularmente chamadas de "chuvas de verão". "O calor favorece as pancadas de chuva. Algumas chuvas começaram a ocorrer nesta tarde no estado em regiões que sofreram menos com as enchentes e deslizamentos. A situação vai se repetir na parte norte do estado", explica Laura.
A continuidade das chuvas, mesmo que de menor intensidade, dificulta o trabalho de resgate e aumenta as probabilidades de deslizamento. "As precipitações podem superar as previsões. Em alguns lugares, a situação está muito crítica. Qualquer chuvinha complica tudo", afirma a meteorologista.
Fatores
Professor do curso de Engenharia Civil da Pontifícia Universidade Católica (PUCPR), Luiz Russo Neto esclarece que deslizamentos de terra podem ocorrer tanto em novos pontos quanto em locais que já sofreram com o evento. Conforme Russo Neto, existem dois fatores que deflagram os desmoronamentos: "O primeiro é a intensidade da chuva. Quanto mais chover, maior a probabilidade. O segundo é o equilíbrio dos morros. Quando se mexe nas encostas, há possibilidades de deslizamento", explica.
O professor Irani dos Santos, do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Paraná (UFPR), afirma que a "cicatriz" aberta por um escorregamento pode resultar em nova ocorrência. "Não será na mesma quantidade, nem com a mesma força. Mas pode ocorrer", diz. Santos esclarece que o solo é formado 50% por minerais e 50% por poros. Quando chove, dependendo da intensidade, esses vazios são tomados pela água. "Isso aumenta o peso do solo, também responsável pelos deslizamentos", diz.
Remoção
As equipes da Defesa Civil e do Corpo de Bombeiros resolveram impedir moradores do Vale do Itajaí de voltar definitivamente para as casas atingidas em regiões sob risco de mais deslizamentos. Funcionários da prefeitura e voluntários cadastram todas as residências danificadas pelas enchentes no município para mapeamento completo das necessidades dos atingidos. Quem resistir, será retirado à força. A Defesa Civil de Itajaí informou que pelo menos 35 famílias estavam em moradias de extremo risco, na zona rural de Limoeiro.
Em Luiz Alves, uma das regiões do Vale do Itajaí mais afetadas, um morador foi preso após se recusar a deixar sua casa em uma área de extremo risco de deslizamentos. Adelino Bachmann, 48, tirou um facão e ameaçou os bombeiros. Foi tirado à força do local e obrigado a passar a noite na delegacia.
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