Os quatro homens que estão presos, sob suspeita inicial de envolvimento na morte da adolescente Tayná Adriane da Silva, de 14 anos, disseram em depoimento que um quinto suspeito chegou a ser detido pelos policiais, mas que teria sido liberado antes de sequer ser ouvido oficialmente pelas autoridades. A denúncia é investigada pela Polícia Civil, que também tenta desvendar quem matou a jovem e se a menina foi violentada antes de ser assassinada. A garota foi encontrada morta em 28 de junho, ao lado de um parque de diversões em Colombo, na região metropolitana, três dias depois de ter desaparecido.
O depoimento dos quatro funcionários do parque que estão detidos foi tomado no último fim de semana por policiais civis, supervisionados pela Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp). Eles revelaram que, quando foram detidos por uma equipe da delegacia do Alto Maracanã, de Colombo, outro funcionário do parque também foi levado ao distrito policial. Entretanto, este quinto suspeito foi liberado antes que prestasse depoimento oficialmente às autoridades.
A partir de então, os quatro funcionários foram apontados como responsáveis pela morte de Tayná. Eles relatam terem sido seguidamente torturados em quatro unidades diferentes: nas delegacias do Alto Maracanã, de Campo Largo e de Araucária, além da Casa de Custódia, em Piraquara. A tortura teria incluído surras em pau-de-arara, choques elétricos e até empalamento. Eles afirmaram que confessaram o crime por não terem suportado as sessões de tortura.
À reportagem da Gazeta do Povo, a Sesp informou que não irá se pronunciar no momento sobre a suposta liberação do suposto quinto elemento, que teria sido ouvido e liberado na Delegacia do Alto Maracanã.
As investigações
As investigações começaram sob responsabilidade do delegado Silvan Rodney Pereira, delegacia do Alto Maracanã. Mas, após uma série de divergências, o delegado Fábio Amaro, da delegacia de Pinhais, assumiu o caso. O inquérito foi concluído e os quatro suspeitos foram indiciados por homicídio, estupro e vilipêndio (necrofilia).
Silvan Pereira e o superior dele, o delegado Agenor Salgado Filho, chefe da Divisão Metropolitana, foram afastados temporariamente das funções policiais.
Pouco depois, vieram à tona as denúncias de que os quatro presos teriam sido torturados para confessar o crime. A Sesp determinou que a Polícia Civil refizesse as investigações. O delegado Guilherme Rangel foi designado para o caso, com acompanhamento do assessor especial da Secretaria, Rafael Vianna.
Na tarde desta segunda-feira (15), o delegado-geral Marcus Vinicius Michelotto, chefe da Polícia Civil, designou um novo responsável pela delegacia do Alto Maracanã. De acordo com nota divulgada pela assessoria de imprensa da corporação, o distrito passa a ser comandado pelo delegado Iacri Meneghel Abarca, que estava lotado na Delegacia de Castro. Com ele assumirão também 12 investigadores, dois escrivães e dois estagiários.
Os policiais do Centro de Operações Policiais Especiais (Cope), que intervinham na delegacia, voltam a suas atividades normais.
Pedido de liberdade
O promotor Paulo Sergio Markowicz de Lima, um dos membros do Ministério Público do Paraná (MP-PR) que atua no caso, explicou que o órgão protocolou, no domingo (14), um pedido de liberdade em caráter de urgência, com o objetivo de libertar os quatro presos. Desta forma, em 24 horas o juiz deve analisar a solicitação. O processo foi encaminhado à juíza responsável pelo caso, Aline Passos, que deveria recebê-lo assim que o expediente abrisse, ao meio-dia.
No entendimento do MP-PR, a manutenção da prisão de um suspeito só pode ser feita se há elementos que certifiquem a autoria do crime. No caso da morte de Tayná, além de os acusados alegarem a confissão do crime sob tortura, as provas periciais não os incriminam diretamente. "Nós resolvemos ter essa cautela e pedir a liberação deles nesse momento", afirma.
Os quatro suspeitos podem, inclusive, entrar para um programa de proteção de testemunhas. Isso ocorre porque, apesar de ainda não terem sido descartados como suspeitos no caso de homicídio, foram vítimas de tortura e relataram ter recebido ameaças nesse processo. Nesse caso, o MP-PR deve decidir ainda nessa tarde se eles receberão um apoio especial após serem soltos.
Entenda o caso
A adolescente Tayná Adriane da Silva, de 14 anos, desapareceu no dia 25 de junho quando voltava da casa de uma amiga, nas proximidades de um parque de diversões, em Colombo, na Região Metropolitana de Curitiba. O corpo da menina foi encontrado no dia 28 de junho. Três dos quatro suspeitos, presos no dia anterior, confessaram ter estuprado e matado Tayná. Um deles não teria participado diretamente do crime. No mesmo dia, o parque de diversões foi depredado e incendiado por moradores da região.
No dia 2 de julho, a perita do Instituto de Criminalística, Jussara Joeckel, afirmou que a adolescente poderia não ter sido violentada, contrariando a tese inicial das investigações. Mesmo com as contradições, a Polícia Civil finaliza o inquérito no dia 5 de julho com a conclusão de que os quatro suspeitos estupraram e estrangularam a adolescente. Porém, no dia 9 de julho o resultado de exame de DNA indicou que o sêmen encontrado na calcinha da garota não é compatível com o material genético de nenhum dos quatro acusados.
Este laudo gerou uma mudança no comando da investigação policial do crime, que já contava, desde a conclusão do inquérito pela delegacia do Alto Maracanã, em Colombo, com a participação do Ministério Público. O laudo também motivou uma visita da Comissão de Direitos Humanos da OAB-PR aos suspeitos, que relatavam que foram torturados pela polícia para confessar os crimes.
Na sexta-feira (12), o MP afirmou que os indícios coletados relacionam os suspeitos presos ao crime. Mas, neste domingo, o promotor Paulo de Lima se manifestou em sentido contrário, afirmando que as provas presentes no inquérito não sustentam uma denúncia e pedindo a soltura dos suspeitos pelo crime. Nesse meio tempo, no sábado, o até então advogado de defesa dos suspeitos presos, Roberto Rolim de Moura Junior, foi destituído, sendo substituído por Andrey Salmazo Poubel.
Nesta segunda-feira (15), o ex-defensor afirmou que foi hostilizado durante o depoimento de seus então clientes na Sesp.
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