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Tragédia

RJ: operação será encerrada quando todos os corpos forem encontrados

Cerca de 95% do entulho já foi retirado do local do acidente. Ruas serão abertas às 6h desta segunda-feira | EFE
Cerca de 95% do entulho já foi retirado do local do acidente. Ruas serão abertas às 6h desta segunda-feira (Foto: EFE)
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O Instituto Médico-Legal do Rio recebeu na noite de sábado (28) partes de corpos encontradas por bombeiros no depósito de entulho retirado do desabamento dos três prédios na Avenida Treze de Maio, centro da cidade. Durante o dia, os bombeiros haviam iniciado a busca por despojos na área - para onde são levados os escombros -, localizada na Rodovia Washington Luís, em Duque de Caxias, Baixada Fluminense, a 30 km do local do acidente.

As autoridades só vão encerrar a operação "quando estiver esgotada toda e qualquer possibilidade de encontrar os corpos", detalhou uma fonte da Defesa Civil. Dezessete corpos foram encontrados e cinco pessoas seguem desaparecidas.

Segundo o IML, só por meio de exames será possível saber se os restos mortais são de uma ou mais pessoas. Ainda há cinco desaparecidos, mas restam poucos pontos no local do acidente onde podem ser encontradas vítimas. Até ontem, 17 corpos haviam sido achados. O secretário estadual de Defesa Civil, o coronel Sérgio Simões, admitiu a possibilidade de que mais vítimas tenham sido levadas por engano pelas escavadeiras ao depósito na Baixada. Na sexta-feira, um corpo foi encontrado ali.

"Eu não descarto a possibilidade (de haver outras vítimas nesse local)", disse Simões. "Em uma operação desse porte, essa possibilidade tem de ser considerada." O coronel afirmou também que o reconhecimento de algumas vítimas só poderá ser feito a partir de exames de DNA.

Simões lamentou as denúncias de desvio de bens sob os escombros. Ele, porém, não confirmou o roubo dos pertences.

Mesmo assim, quatro funcionários da concessionária Porto Novo que aparecem em fotos publicadas pelo jornal "Folha de S. Paulo" revirando os entulhos dos prédios que desabaram no Centro serão demitidos. O anúncio foi feito após uma reunião na tarde de sábado entre o prefeito Eduardo Paes, a delegada geral da Polícia Civil, Marta Rocha, Sérgio Simões, e diversos secretários municipais. Foi informado também que a segurança na área onde os entulhos estão sendo levados, na Zona Portuária, será reforçada, e que a Polícia Civil vai investigar as denúncias.

Cerca de 95% do entulho já foi retirado do local do acidente, de acordo com estimativas de Simões.

A área dos desabamentos amanheceu neste domingo cercada por tapumes colocados pela prefeitura para isolar a região. Quase não há mais escombros no local, e a expectativa é que a rotina comece a voltar ao normal a partir das 6h de segunda-feira, quando a Avenida Almirante Barroso será totalmente liberada ao tráfego de veículos.

A Avenida Treze de Maio também será liberada aos pedestres, e a Rua Senador Dantas voltará à mão de origem, do Passeio à Avenida Chile. Segundo o Centro de Operações, permanecem interditados pela Defesa Civil o prédio de número 6 da Avenida Almirante Barroso e o anexo do Theatro Municipal.

Buscas

O último corpo foi encontrado às 2h05 da madrugada de sábado (28). A vítima foi retirada do local onde funcionava o fosso dos elevadores do prédio de 20 andares. Após bombearem a maior parte da água que ficou acumulada naquela parte dos escombros, os bombeiros localizaram o corpo.

O 16º cadáver, bem dilacerado, foi encontrado mais cedo, bem no início da madrugada do sábado, sob o entulho que se acumulou próximo ao prédio anexo ao Theatro Municipal. A expectativa é de que os trabalhos de busca dos bombeiros terminem neste domingo, 29.

Reforma

Apontada como uma das possíveis causas do desabamento de três prédios no centro do Rio de Janeiro, na noite de quarta-feira (25), a obra iniciada oito dias antes da tragédia no nono andar do Edifício Liberdade, pela empresa Tecnologia Organizacional (TO), não tinha laudo de um engenheiro.

Segundo explicou na sexta-feira um dos sócios da empresa, Sergio Alves, o laudo teria sido solicitado pelo síndico, Paulo Renha, que recebeu da gerente Cristiane Azevedo cópia da planta da obra feita pela companhia no quarto pavimento do mesmo edifício. Cristiane não é engenheira. Renha, então, teria dado a autorização para a obra, aguardando a apresentação do laudo pelo engenheiro Paulo Brasil que, devido à doença da mãe dele, não pôde atender ao pedido naquele momento. O laudo seria apresentado esta semana. "Jamais houve omissão da empresa", disse Alves. A gerente está internada no Hospital Casa de Portugal, com ferimentos na cabeça.

Sem sobreviventes

O secretário estadual de Defesa Civil já tinha admitido na sexta-feira que não há mais esperança de que sejam encontrados sobreviventes do desabamento dos três edifícios no centro do Rio.

"Embora a cultura do Corpo de Bombeiros seja movida pela esperança, pela motivação, em razão do cenário que a gente está verificando e pelo tempo passado do acidente, eu preciso dizer que a gente não trabalha mais com a possibilidade de sobreviventes", disse Simões.

Balanço

Dos dezessete corpos retirados dos escombros dos prédios que desabaram no centro do Rio: seis mulheres, nove homens e dois sem identificação. O 13º corpo resgatado é de uma mulher e foi descoberto por funcionários da Limpeza Urbana, quando os entulhos estavam sendo transportados para um depósito.

Ao localizarem o 14º corpo, os bombeiros encontraram o subsolo do edifício Liberdade. Uma grande parede do prédio ficou em pé e só será demolida posteriormente, para que os trabalhos dos bombeiros não cessem, apesar do perigo de desmoronamento.

De acordo com os bombeiros, pelo menos quatro dos corpos encontrados estavam próximos a uma escada que provavelmente foi usada como rota de fuga.

Os parentes das vítimas que não conseguirem identificar os corpos e que não tenham como pagar pelo exame de DNA poderão acionar a Defensoria Pública para que o Estado banque essa identificação. A defensoria tem um setor específico para este tipo de serviço. Caso o corpo de algum desaparecido não seja encontrado pelas equipes de resgate, a defensoria pode entrar com ações na Justiça para que a morte seja reconhecida.

Segundo o subcomandante do Corpo de Bombeiros, coronel Ronaldo Alcântara, os objetos pessoais e documentos que estão sendo encontrados entre os escombros são entregues à Polícia Militar. Ele disse que também já foram recolhidos quatro cofres que pertenceriam a empresas de contabilidade e que tiveram que ser tirados com guinchos, além de sete caixas eletrônicos da agência bancária do Itaú que funcionava no térreo de um dos prédios que caíram.

"Todos os objetos encontrados estão sendo entregues à Polícia Militar e os entulhos estão sendo levados para canteiros de obras da prefeitura na zona portuária".

Os desabamentos ocorreram na quarta (25), por volta das 20h30, e atingiram três prédios antigos da região central do Rio. Um grupo de 80 homens do Corpo de Bombeiros, com o apoio da Polícia Militar e da Defesa Civil, trabalharam na área. Vários bombeiros têm experiência em situações de risco e chegaram a ajudar durante os resgates no Haiti, quando houve o terremoto de 12 de janeiro de 2010.

Após os desabamentos, um vazio se abriu no centro da cidade. No local agora só há escombros e poeira. O governador do estado, Sergio Cabral, decretou luto de três dias em homenagem à memória das vítimas da tragédia.

Feridos

Dos seis feridos, apenas Cristiane do Carmo, de 28 anos, continua internada. Ela chegou a ser operada no Hospital Souza Aguiar e foi transferida para a Casa de Portugal, no Rio Comprido. Ela passa bem, mas está em observação já que sofreu politraumatismo e uma severa laceração no couro cabeludo. Outras quatro pessoas foram hospitalizadas no Souza Aguiar, entre elas, Marcelo Antonio Moreira, zelador de um dos prédios, e Francisco Rodrigo da Costa, operário que trabalhava dentro de outro prédio que caiu e foi resgatado no elevador. O Hospital estadual Getúlio Vargas, na Penha, atendeu durante a noite de quarta-feira uma paciente de 48 anos, que chegou por conta própria contando que caiu após os desabamentos. Ela apresentava escoriações superficiais e também recebeu alta.

Obras no interior do edifício seriam ilegais

No Edifício Liberdade, no número 44 da Avenida Treze de Maio, que foi o primeiro a ruir, estavam sendo realizadas duas reformas de grande porte no terceiro e no nono andares, mas nenhuma delas tinha registro no Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Rio (Crea-RJ). A última obra de que se tem notícia por ali é de 2008.

"São obras irregulares, com certeza", disse o presidente da Comissão de Análise e Prevenção de Acidentes do Crea, o engenheiro Luiz Antonio Cosenza. "Já entramos em contato com a empresa para que informe quem eram os engenheiros responsáveis e que obras eram essas."

Os dois andares em questão eram ocupados pela empresa TO Tecnologia Organizacional. Sem o conhecimento de órgãos técnicos, a empresa só poderia fazer discretas intervenções. Não é o que estaria acontecendo. Há relatos de que quase todas as paredes de um dos andares haviam sido retiradas, o que pode ter sido crucial para o abalo estrutural.

Porém, o advogado da TO, Jorge Willians Soares, garante que os serviços executados se limitavam à troca de carpetes antigos e à pintura de paredes. Ele prometeu entregar documentos comprovando sua versão na 5ª DP (Gomes Freire), onde já foi aberto um inquérito. O delegado Alcides Alves de Moura já ouviu o depoimento de seis pessoas, entre testemunhas e donos de imóveis no Edifício Liberdade.

O operário Alexandro da Silva Fonseca, de 31 anos, que sobreviveu ao desmoronamento, confirmou, nesta sexta-feira (27), que foram retiradas paredes de alvenaria no 9º andar do prédio. Ele afirmou, no entanto, que a obra não alterou a estrutura do prédio (vigas, lajes e pilares). Fonseca não soube dizer se havia um engenheiro responsável pela reforma, no prédio de 20 andares.

"Acho que a obra não provocou o desmoronamento do prédio, porque nós não mexemos em nenhuma contenção [estrutura]", ressaltou. O operário afirmou que a reforma que ocorre há duas semanas e meia serviu apenas para remover algumas paredes com a finalidade de trocar dois banheiros de lugar.

Os trabalhos de investigação sobre o desabamento dos prédios terão o acompanhamento de quatro arquitetos do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Rio de Janeiro (CAU-RJ). Eles vão atuar conjuntamente com as equipes da prefeitura e demais órgãos envolvidos na perícia sobre as causas do acidente.

Theatro Municipal

A Polícia Federal abriu um inquérito para apurar os danos ao Theatro Municipal depois do desabamento dos prédios. Ontem, quatro peritos do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e dois agentes da PF fizeram uma vistoria no local. Os danos foram considerados superficiais: algumas janelas parcialmente ficaram quebradas, pequenos pedaços de reboco caíram e foram detectados problemas no maquinário do palco, por causa da poeira. Os responsáveis pelo desabamento podem ser indiciados por crime contra o patrimônio da União.

Histórias interrompidas pela tragédia no Centro do Rio

"Mamãe, cadê você, mamãe?", perguntava na quinta-feira no Facebook a pequena Catharina, filha da auxiliar financeira Kelly Meneses. Por volta das 3h também de quinta-feira, o professor de biologia Flávio Porrozzi teria atendido uma ligação da namorada no celular e dito "Oi, meu amor". A ligação caiu e ele não atendeu mais.

O advogado Franklin Machado falava com a mulher, por telefone, quando a conversa foi subitamente interrompida. Desde então, parentes não têm mais notícias dele. Conheça as histórias de uma tragédia que deixa muito mais do que escombros.

Prejuízos

O Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ) vai suspender os prazos processuais das causas dos advogados que trabalhavam e mantinham escritórios nos três prédios que desabaram. Grande parte das mais de 60 salas funcionava como escritório de advocacia.

Em nota, o TJRJ explica que quer evitar mais prejuízos aos profissionais da área, além da perda de documentos e outros pertences. A medida também vale para os advogados que comprovarem que têm escritórios nas áreas interditadas próximas ao local do desastre. Nesse caso, a suspensão de prazos vale apenas para o período em que a interdição continuar, o que, segundo o TJRJ, não pode durar mais do que 30 dias.

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