A Secretaria da Segurança Pública do Paraná (Sesp) confirmou, neste domingo (14), que irá determinar ao delegado-geral de Polícia Civil, Marcus Vinícius Michelotto, e à Corregedoria da corporação para que seja pedida a prisão temporária dos policiais envolvidos na tortura dos quatro homens que foram inicialmente apontados como suspeitos de matar e estuprar a adolescente Tayná Adriane da Silva, em Colombo, na Região Metropolitana de Curitiba.
Segundo a assessoria da Sesp, os envolvidos na suposta tortura foram identificados em depoimento dado pelos homens, que começou na noite de sábado (13) e terminou apenas na manhã deste domingo, por volta das 7 horas, na sede da secretaria, no Centro Cívico, em Curitiba.
Segundo o programa Fantástico, da Rede Globo, os promotores que atuam no caso apontam que os homens identificaram, por fotos, 10 policiais civis, um militar, um guarda municipal, um preso e um delegado que teriam praticado a tortura. No entanto, a Sesp não confirma esses dados, nem se os policiais pertencem todos à Delegacia de Alto Maracanã, em Colombo, onde o crime começou a ser investigado e onde foi obtida a confissão dos crimes.
Pedido de soltura
Após ouvir os quatro presos, o Ministério Público do Paraná (MP-PR) resolveu pedir, em caráter de urgência, a liberdade provisória deles, alegando que já foram interrogados repetidamente durante o inquérito policial e cederam material genético para análise e comparação com as evidências. A promotoria defende que, até o momento, eles não demonstraram sinais de que praticariam outros crimes, caso sejam soltos.
Também neste domingo, a Sesp determinou uma intervenção do Centro de Operações Policiais Especiais (Cope) na Delegacia do Alto Maracanã, em Colombo, um dos locais onde os homens presos dizem terem sido torturados para confessar os crimes, dos quais alegam inocência.
Segundo o delegado titular do Cope, Amarildo José Antunes, a decisão de intervir na delegacia foi tomada "em virtude da gravidade dos fatos e para garantir transparência, licitude e agilidade nas investigações".
Com a determinação, uma equipe de oito policiais do Cope assume a guarda do prédio e dos presos. Segundo o delegado, a operação deve durar cerca de três dias, período em que o Cope deve realizar também a transferência de 12 presos que estão na delegacia para um local ainda não determinado.
Destituição de advogado
Ainda na noite de sábado, os quatro homens presos destituíram o advogado Roberto Rolim de Moura Júnior como seu defensor. A destituição ocorreu após Rolim interromper os depoimentos que os seus clientes prestavam na Sesp. O advogado alegou que não havia sido comunicado do procedimento e que os quatro deveriam permanecer em silêncio.
Segundo o promotor Paulo de Lima, um dos acusados disse, então, que gostaria de dar sua versão mesmo assim, e desconstituiu Rolim da condição de seu representante legal, sendo seguido no pedido pelos demais. Estavam presentes no depoimento os delegados Guilherme Rangel, responsável pelo caso; Rafael Vianna, assessor civil da Sesp-PR e delegado designado para acompanhar as investigações, além do promotor e de membros da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-PR).
Segundo o promotor, o advogado não foi encontrado para que fosse comunicado da tomada de depoimento dos quatro acusados. Quando soube do evento, Rolim se dirigiu à secretaria e interrompeu o procedimento. O dono do parque onde os rapazes trabalhavam e seu advogado também chegaram ao local.
Neste domingo (14), a OAB-PR divulgou uma nota oficial afirmando que dois de seus membros acompanharam os depoimentos dos suspeitos e ressaltando que eles "transcorreram em clima de absoluta tranquilidade e de respeito aos seus direitos e garantias constitucionais, sem nenhuma forma de pressão ou coação de parte das autoridades ali presentes".
"Os acusados manifestaram de forma livre o direito de renunciar ao advogado Roberto Rolim de Moura Júnior e constituíram como seu advogado Andrey Salmazo Poubel que também companhou a íntegra das oitivas. Já o advogado Aryon Jakson Schwinden, embora alegando ser também advogado dos quatro rapazes, não foi reconhecido por nenhum deles como tal", completou a entidade, que também afirmou que continua acompanhando tanto as investigações do assassinato da adolescente quanto o da tortura que teria sido imposta aos quatro homens apontados inicialmente como suspeitos pelo homicídio.
Entenda o caso
A adolescente Tayná Adriane da Silva, de 14 anos, desapareceu no dia 25 de junho quando voltava da casa de uma amiga, nas proximidades de um parque de diversões, em Colombo, na Região Metropolitana de Curitiba. O corpo da menina foi encontrado no dia 28 de junho. Três dos quatro suspeitos, presos no dia anterior, confessaram ter estuprado e matado Tayná. Um deles não teria participado diretamente do crime. No mesmo dia, o parque de diversões foi depredado e incendiado por moradores da região.
No dia 2 de julho, a perita do Instituto de Criminalística, Jussara Joeckel, afirmou que a adolescente poderia não ter sido violentada, contrariando a tese inicial das investigações. Mesmo com as contradições, a Polícia Civil finaliza o inquérito no dia 5 de julho com a conclusão de que os quatro suspeitos estupraram e estrangularam a adolescente. Porém, no dia 9 de julho o resultado de exame de DNA indicou que o sêmen encontrado na calcinha da garota não é compatível com o material genético de nenhum dos quatro acusados.
Este laudo gerou uma mudança no comando da investigação policial do crime, que já contava, desde a conclusão do inquérito pela delegacia do Alto Maracanã, em Colombo, com a participação do Ministério Público. O laudo também motivou uma visita da Comissão de Direitos Humanos da OAB-PR aos suspeitos, que relatavam que foram torturados pela polícia para confessar os crimes.
Na sexta-feira (12), o MP afirmou que os indícios coletados relacionam os suspeitos presos ao crime. Mas, neste domingo, o promotor Paulo de Lima se manifestou em sentido contrário, afirmando que as provas presentes no inquérito não sustentam uma acusação.