Sete testemunhas foram ouvidas no primeiro dia da audiência de instrução do caso da médica Virgínia Soares de Souza, acusada de antecipar mortes de pacientes na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Evangélico, em Curitiba. Os esclarecimentos começaram a ser prestados no início da tarde de quarta-feira (25) e seguiram até por volta das 4 horas da madrugada desta quinta.
O testemunho mais esperado foi o de Mário Lobato da Costa, representante do Ministério da Saúde na sindicância que apura eventuais irregularidades na unidade. Ele entrou no plenário do tribunal entre o fim da noite e o início da madrugada.
A defesa da médica Virgínia, conduzida pelo advogado Elias Mattar Assad, informou à imprensa que Costa teria dito, durante seu depoimento, que a leitura dos prontuários não permite concluir se houve antecipação nas mortes investigadas no Hospital.
A reportagem tentou entrar em contato com o médico auditor para confirmar a declaração. O Ministério da Saúde disse, no entanto, que Costa informou que não vai falar sobre o caso, já que o processo corre em segredo de justiça.
Assad disse ainda que dois médicos do Instituto Médico Legal (IML)que também foram ouvidos confirmaram a causa da morte das supostas vítimas conforme a descrição do laudo inicial, assinado por Virgínia. Assim, os profissionais teriam dito que não houve antecipação de morte.
Segundo informações obtidas pela reportagem, a audiência de quarta-feira foi lenta devido à série de perguntas técnicas e também ao grande número de envolvidos nos questionamentos: ao todo, são seis advogados de defesa, que também contam com uma equipe de assistentes. Quatro promotores estão envolvidos no caso.
Nesta quinta (26), mais oito testemunhas serão ouvidas. Duas delas deveriam ter prestado depoimento no primeiro dia da audiência, mas por causa da extensão das falas anteriores tiveram de voltar ao tribunal. Outros dois depoimentos do dia serão feitos por meio de cartas precatórias.
No início desta tarde, familiares das supostas vítimas iniciaram um protesto em frente ao Tribunal do Júri. Eles portam faixas com dizeres que pedem justiça no caso. Às 18 horas, a sessão continuava no depoimento da segunda testemunha do dia. A terceira pessoa a ser ouvida no dia entrou na sala de audiência por volta das 18h15.
Audiências
Nesta primeira etapa, estão sendo colhidos os depoimentos de testemunhas selecionadas pelo Ministério Público do Paraná (MP-PR), que atua na acusação da médica e de mais sete envolvidos no caso. No total, 19 pessoas foram convocadas pelo órgão.
Após as declarações das testemunhas do MP-PR, ainda serão obtidos os depoimentos das testemunhas dos demais acusados. Em entrevista à Gazeta do Povo na terça-feira (24), Assad disse que não há uma data definida para o início das demais audiências.
O advogado informou que 63 testemunhas estão previstas para depor na audiência de defesa da médica. Mesmo que já exista uma pré-seleção de pessoas, o número exato de testemunhos prestados dependerá das sessões desta semana, pois algumas pessoas selecionadas poderão ser descartadas.
Os depoimentos colhidos nas audiências de instrução vão ajudar a Justiça a definir se o caso deve ou não ir a júri popular.
Relembre o caso
Em fevereiro deste ano, a médica Virgínia Soares de Souza foi presa durante uma operação realizada pelo Núcleo de Repressão aos Crimes Contra a Saúde (Nucrisa) para apurar mortes suspeitas de pacientes que passaram pela Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Evangélico de Curitiba. Na época, a médica chefiava a unidade.
A investigação feita pelo núcleo levou em conta as circunstâncias de sete óbitos registrados no local. Um policial infiltrado como enfermeiro na UTI geral do estabelecimento ajudou a colher provas para a concretização do inquérito, que foi encaminhado ao Ministério Público do Paraná no início de março.
Após análise do inquérito, o MP-PR denunciou criminalmente à Justiça oito pessoas envolvidas no caso. Seis deles, funcionários do Hospital Evangélico, foram denunciados por homicídio duplamente qualificado (por motivo torpe e sem chances de defesa às vítimas) e formação de quadrilha. Segundo o órgão, os acusados abreviaram a vida dos pacientes com o objetivo de abrir novas vagas no centro médico.
Primeira a ser presa nas investigações, a médica intensivista Virgínia Helena Soares de Souza é acusada de coautoria em todas as sete mortes. Os outros médicos denunciados são Maria Israela Cortez Boccato, Edison Anselmo da Silva Júnior e Anderson de Freitas. Também são acusadas as enfermeiras Patrícia Cristina de Goveia Ribeiro e Lais da Rosa Groff. De acordo com o MP-PR, cada um deles participou de pelo menos uma das mortes ocorridas na UTI do Evangélico.
Outras duas pessoas, que também trabalhavam na instituição de saúde, foram denunciadas apenas pelo crime de quadrilha: a fisioterapeuta Carmencita Emília Minozzo e o enfermeiro Claudinei Machado Nunes. O processo será distribuído a uma das varas do Tribunal do Júri que avalia se aceita ou não a denúncia criminal.
O MP-PR atribui ao grupo sete mortes, ocorridas entre 2006 e janeiro deste ano. Segundo o órgão acusador, os profissionais da saúde acusados agiam como se tivessem o poder de decretar a morte das vítimas, além de escolherem quais pacientes teriam o direito a permanecer vivos no centro médico.
A denúncia foi aceita pela Justiça paranaense na mesma semana em que foi oferecida pelo MP-PR.
Prisão
A intensivista foi detida temporariamente no início das investigações. Uma semana depois, a Justiça converteu a prisão em preventiva. Porém, um pedido de liberdade feito pelo advogado dela foi acatado pelo TJ-PR, que a libertou depois de ela estar pouco mais de um mês na prisão.
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