Manifestantes voltam a enfrentar a polícia no Rio
Terminou em confusão a passeata contra o reajuste das passagens dos ônibus urbanos do município do Rio. A Polícia Militar (PM) acompanhou pacificamente toda a caminhada que saiu da Candelária e seguiu pela Avenida Rio Branco até a Cinelândia, onde os manifestantes fizeram uma rápida votação para saber se continuariam com o protesto. Como eles decidiram retornar para a Candelária, a PM resolveu agir com rigor para dispersar os participantes do ato.
Repórter é baleada no olho com bala de borracha em SP
Uma repórter do jornal Folha de S. Paulo foi baleada no olho com uma bala de borracha na noite desta quinta-feira (13) durante protesto contra o aumento da tarifa de ônibus em São Paulo. Segundo Giuliana Vallone, da TV Folha, ela estava em um estacionamento na Rua Augusta quando uma viatura da Rota se aproximou em baixa velocidade e um PM que estava no banco de trás atirou contra ela.
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A revolta contra a alta das tarifas de ônibus voltou a provocar protestos ontem em São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre, agravando o crescente clima de insatisfação da população com os custos do transporte público no país. Na capital paulista, a quarta manifestação voltou a levar pânico e violência ao centro da cidade. Mais de 130 pessoas foram presas.
Depois de cenas de vandalismo e depredações que marcaram os três primeiros atos, desta vez a reação violenta da Polícia Militar foi a principal marca. A PM endureceu a repressão, agredindo manifestantes e jornalistas, e deixando pedestres e motoristas encurralados por bombas de efeito moral e tiros de borracha. Em meio à confusão, motoristas chegaram a abandonar carros na via pública e lojas fecharam mais cedo com medo da manifestação.
Veja fotos do tumulto em São Paulo
Haddad diz que não vai baixar tarifa de ônibus
Mais de 100 pessoas, segundo a Polícia Civil, foram levados para 78º Distrito Policial para averiguação ao longo desta quinta-feira (13) durante o quarto protesto contra o aumento da tarifa de transporte público na capital paulista. A maioria foi detida pela Polícia Militar (PM) na região do centro enquanto se dirigia para o local do ato, o Theatro Municipal. Um repórter da revista Carta Capital foi detido e um fotógrafo do portal Terra, revistado.
De acordo com os policiais civis no local, muitos jovens foram levados para a delegacia por terem vinagre dentro das mochilas. Os agentes não souberam, no entanto, explicar porque o porte da substância foi considerado motivo para averiguação. Os manifestantes dizem que levam vinagre para se proteger do gás lacrimogêneo. Ainda segundo a Polícia Civil, as pessoas detidas estavam sendo todas liberadas e não havia registro de presos até as 20h30.
O estudante de geografia Tiago Gomes disse que ficou mais de quatro horas detido por ter vinagre na mochila. "O vinagre era para tentar me proteger do gás lacrimogêneo", disse o rapaz, que nos outros três protestos promovidos pelo Movimento Passe Livre (MPL) foi atingido pelas bombas com a substância lançadas pela polícia. Levado para a delegacia no final da tarde, ele só pode sair depois das 20h.
Morador do Capão Redondo, periferia da zona sul paulistana, Jhonilton Sousa disse à reportagem da Agência Brasil que foi abordado no Largo São Francisco por policiais militares. Ao revistarem a mochila do jovem de 22 anos encontraram um cartaz de cartolina contra o aumento das passagens e uma jaqueta do movimento punk, com o símbolo da anarquia. "Ai ele disse: a não, anarquia, não. E me levou preso", relatou o jovem, que ficou mais de três horas na delegacia.
A história é semelhante da contada pelo jornalista Marcel Buono, de 23 anos. Ao chegar na Estação Anhagabaú do metrô ele foi abordado por policiais. "Logo na saída tinha uma fileira de policiais fazendo revista", disse. Os PMs encontraram na mochila uma câmera de vídeo que o rapaz pretendia usar para filmar o protesto para um blog de cobertura colaborativa montado com amigos. Macel disse que os policiais foram truculentos na abordagem. "Colocaram dentro do ônibus [para levar para a delegacia] e tinha que sentar em cima da mão. Disseram que se tirasse a mão ia ser encarado como uma agressão", relatou o jovem, que também só foi liberado após as 20h.
A manifestação de hoje, que reuniu 5 mil pessoas, segundo a PM, foi o quarto desde o dia 6 contra o aumento das tarifas públicas, que passou de R$ 3 para R$ 3,20 na semana passada. Em todos houve confronto com a polícia e depredações feitas pelos manifestantes.
A força tática usou bombas de gás e balas de borracha para tentar impedir os manifestantes de subirem a Rua da Consolação. O ato saiu da frente do Theatro Municipal e passou pela Praça da República. Os policiais negociavam com representantes do Movimento Passe Livre para que a manifestação se encerrasse na Praça Roosevelt, mas, durante a negociação, os manifestantes simplesmente continuaram com o protesto e seguiram adiante.
Após a repressão, grupos menores passaram a espalhar lixo pelas ruas e atear fogo, fazendo barricadas nas ruas, a exemplo do que foi feito nos outros atos. Desde o começo da manifestação, a polícia acompanhou o ato com grande contingente e prendendo diversas pessoas. Às 22h, a Cavalaria e a Força Tática ainda disparavam gás lacrimogêneo para dispersar os manifestantes que chegaram a região das avenidas Paulista e Doutor Arnaldo.Ambas avenidas foram fechadas. Nas ruas, os transeuntes tentavam se proteger dos efeitos da munição química.
Durante o tumulto, alguns motoristas que ficaram parados na rua Caio Prado, na região central de São Paulo, por conta do confronto entre manifestantes e policiais militares, decidiram trancar e abandonar os carros na via, e fugiram a pé da confusão.
As pessoas começaram a se concentrar por volta das 16h desta quinta, quando já havia grande quantidade de policiais, inclusive fechando o viaduto do Chá, onde fica a Prefeitura de São Paulo, e revistando e interrogando pessoas. Antes mesmo do início da passeata, já havia 30 pessoas detidas. Um grupo chegou a cercar e pichar um ônibus na frente do edifício Itália. Os passageiros tiveram que descer.
Bombas
Bombas de gás lacrimogêneo foram lançadas pela polícia para dentro do campus de Engenharia da PUC-SP, entre a rua Marquês de Paranaguá e a Caio Prado, no centro de São Paulo. "Eles agem como fascistas. Atiraram bomba dentro da faculdade. Estava trabalhando e vários professores estavam dando aula quando subiu uma fumação que sufocou as pessoas. Acertaram bombas em quem nem estava na manifestação", disse um aluno de engenharia da PUC que também trabalha na universidade - ele não quis se identificar.
O major Lidio Costa Junior, do Policiamento de Trânsito da PM chegou a dizer que o protesto contra aumento da tarifa em São Paulo tinha fugido do controle: "Não nos responsabilizamos mais pelo que vai acontecer", afirmou durante o tumulto.
Os manifestantes montaram barricadas de fogo na Consolação e na Rua Rego Freitas. Eles jogam pedras e rojões contra a PM. Na rua Caio Prado, o grupo gritava em coro: "Augusta, Augusta", para onde deveriam se dirigir.
Jornalista
A Secretaria de Segurança Pública informou que o jornalista da Carta Capital Piero Locatelli, detido pela PM, vai ser liberado do 78º DP (Jardins). Segundo a secretaria, ele foi preso porque estava com vinagre na bolsa - o produto seria usado para neutralizar o efeito de bombas de gás lacrimogêneo. A secretaria informou que um segundo jornalista também foi preso por ter "tentado evitar uma prisão".
Integrantes da Juventude do PT compareceram com bandeiras ao ato e foram hostilizados pela multidão. Segundo Erick Bouzano, presidente do Diretório Municipal da Juventude do PT, só a Executiva Estadual sinalizou apoio ao protesto. "Achamos importante participar", disse.
Haddad diz que não vai baixar tarifa de ônibus
O prefeito Fernando Haddad (PT) disse que não reduzirá a tarifa de ônibus na cidade de São Paulo. Ele reafirmou que o aumento de R$ 3 para R$ 3,20 ficou abaixo da inflação e que cumpriu compromisso de sua campanha.
Haddad acompanhou o ato do seu gabinete e disse que esperaria um balanço para opinar sobre o protesto de hoje. O prefeito se disse favorável a manifestações desde que ocorressem de modo pacífico.
O secretário da Segurança Pública de São Paulo, Fernando Grella Vieira, lamentou os episódios envolvendo agressões de policiais militares a manifestantes e jornalistas. Ele determinou a abertura imediata de investigações, pela Corregedoria da PM, "para apurar rigorosamente os fatos".
Ministro
O ministro José Eduardo Cardozo (Justiça) disse ontem que o governo federal está "à disposição" para cooperar "no que for necessário" com o governo de São Paulo na contenção da série de protestos dos últimos dias na capital paulista."O governo federal está à disposição para aquilo que for necessário e for solicitado pelo governo do Estado de São Paulo ou por qualquer governo que acredite que nós possamos lutar nessa área", disse Cardozo.
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