Começa nesta quarta-feira (25) a primeira audiência de instrução do caso da médica Virgínia Soares de Souza, acusada de antecipar mortes na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Evangélico, em Curitiba. Entre o primeiro dia da audiência e quinta-feira (25), deverão ser ouvidas 19 pessoas selecionadas pelo Ministério Público do Paraná (MP-PR) para deporem contra a médica.
Duas testemunhas que não residem na cidade serão ouvidas por carta precatória, informou o advogado de defesa da intensivista Elias Mattar Assad, que vai acompanhar as sessões junto à acusada. Entre os depoentes, três são médicos. Em ambos os dias a audiência começa às 13h30, no plenário do Tribunal do Júri, em Curitiba.
O Ministério Público do Paraná, que ofereceu a denúncia à Justiça, não havia confirmado as informações até às 18 horas desta terça. O Tribunal do Júri informou apenas o horário inicial e o local da audiência.
Os depoimentos colhidos nas audiências de instrução vão ajudar a Justiça a definir se o caso deve ou não ir a júri popular.
Defesa
De acordo com Assad, 63 testemunhas estão previstas para depor na audiência de defesa da médica, que ainda não tem data para ocorrer. Mesmo que já exista uma pré-seleção de pessoas, o número exato de testemunhos prestados dependerá das sessões desta semana, pois algumas pessoas selecionadas poderão ser descartadas, informou Assad. "Amanhã [quarta] é dia de mostrar a base em que ela [Virgínia] fez isso ou fez aquilo. Para a acusada é um dia bom", declarou Assad.
O advogado acredita que a audiência de instrução de defesa do caso será marcada apenas para o próximo ano.
Relembre o caso
Em fevereiro deste ano, a médica Virgínia Soares de Souza foi presa durante uma operação realizada pelo Núcleo de Repressão aos Crimes Contra a Saúde (Nucrisa) para apurar mortes suspeitas de pacientes que passaram pela Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Evangélico de Curitiba. Na época, a médica chefiava a unidade.
A investigação feita pelo núcleo levou em conta as circunstâncias de sete óbitos registrados no local. Um policial infiltrado como enfermeiro na UTI geral do estabelecimento ajudou a colher provas para a concretização do inquérito, que foi encaminhado ao Ministério Público do Paraná no início de março.
Após análise do inquérito, o MP-PR denunciou criminalmente à Justiça oito pessoas envolvidas no caso. Seis deles, funcionários do Hospital Evangélico, foram denunciados por homicídio duplamente qualificado (por motivo torpe e sem chances de defesa às vítimas) e formação de quadrilha. Segundo o órgão, os acusados abreviaram a vida dos pacientes com o objetivo de abrir novas vagas no centro médico.
Primeira a ser presa nas investigações, a médica intensivista Virgínia Helena Soares de Souza é acusada de coautoria em todas as sete mortes. Os outros médicos denunciados são Maria Israela Cortez Boccato, Edison Anselmo da Silva Júnior e Anderson de Freitas. Também são acusadas as enfermeiras Patrícia Cristina de Goveia Ribeiro e Lais da Rosa Groff. De acordo com o MP-PR, cada um deles participou de pelo menos uma das mortes ocorridas na UTI do Evangélico.
Outras duas pessoas, que também trabalhavam na instituição de saúde, foram denunciadas apenas pelo crime de quadrilha: a fisioterapeuta Carmencita Emília Minozzo e o enfermeiro Claudinei Machado Nunes. O processo será distribuído a uma das varas do Tribunal do Júri que avalia se aceita ou não a denúncia criminal.
O MP-PR atribui ao grupo sete mortes, ocorridas entre 2006 e janeiro deste ano. Segundo o órgão acusador, os profissionais da saúde acusados agiam como se tivessem o poder de decretar a morte das vítimas, além de escolherem quais pacientes teriam o direito a permanecer vivos no centro médico.
A denúncia foi aceita pela Justiça paranaense na mesma semana em que foi oferecida pelo MP-PR.
Prisão
A intensivista foi detida temporariamente no início das investigações. Uma semana depois, a Justiça converteu a prisão em preventiva. Porém, um pedido de liberdade feito pelo advogado dela foi acatado pelo TJ-PR, que a libertou depois de ela estar pouco mais de um mês na prisão.
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