Tremores gerados pela explosão na fábrica Explopar, em Bocaiúva do Sul, na Região Metropolitana de Curitiba (RMC), no último sábado (8), foram sentidos até na cidade de Canela, no Rio Grande do Sul, a 490 quilômetros de distância em linha reta, segundo o Centro de Sismologia da Universidade de São Paulo (USP). O registro da explosão aconteceu exatamente às 15h25’43’’ e em dois minutos alcançou a estação. Os primeiros sinais chegaram nas estações de Pitanga, no Paraná, e Fartura, em São Paulo. As ondas no solo se movimentaram a 10 km/s.
“O evento foi sentido num raio de 200 km a 400 km de distância. Nós ficamos em dúvida no começo, mas consultamos as defesas civis municipais e constatamos que o impacto foi oriundo da explosão. Os horários indicam isso”, explica José Roberto Barbosa, técnico do Centro de Sismologia da USP. “As ondas foram sentidas também em Londrina e Francisco Beltrão. E tivemos relatos de pessoas que ligaram relatando o tremor em Paranaguá e na Ilha do Mel”.
Outro lado
A Explopar, responsável pela fábrica de dinamite, se manifestou na segunda-feira (10) por meio de nota e disse que a explosão foi um ato criminoso.
“ A Explopar recorrerá da decisão que manteve a prisão cautelar do Sr. Milton Lino Silva. A empresa reafirma que foi vítima de ato criminoso praticado por terceira pessoa e, independentemente da certeza de que a empresa e o Sr. Milton não cometeram nenhum crime, continuará no propósito de buscar mecanismos para reparar os danos sofridos por outras vítimas dos efeitos da explosão”, diz a nota.
O Centro de Sismologia tem 100 estações no país e não registra eventos desse caráter porque as causas não foram naturais. Segundo Barbosa, quando um terremoto de ao menos magnitude 5 na Escala de Richter atinge o Japão, o Brasil recebe as informações em menos de 20 minutos, dada a velocidade do impacto.
Segundo a Defesa Civil estadual, até as 9h desta segunda-feira (10), na última atualização de dados, nove pessoas estavam desabrigadas em decorrência das explosões. Elas são de apenas duas famílias e estão abrigadas em uma igreja.
Outras 200 pessoas ficaram desalojadas - estão temporariamente na casa de amigos ou familiares e ainda não retornaram para casa -, 80 casas foram danificadas e 30 pessoas ficaram feridas. Um balanço completo será divulgado ainda nesta segunda-feira pelas equipes que trabalham no local.
Segundo o Cabo Binhara, do plantão da Defesa Civil, o total dos prejuízos ainda está sendo calculado, mas até o momento a cidade não decretou nível de emergência para agilizar os atendimentos.
De acordo com o delegado responsável pelo caso, Mario Sergio Bradock, restam na empresa 60 toneladas de explosivos. A Defesa Civil, os investigadores e peritos estudam como retirá-las do local sem causar um acidente. Bradock informou que essas dinamites estão expostas e sujeitas a qualquer mudança de vento e pressão. “Os trabalhos de retirada desse material já começaram. Estamos tentando melhorar o acesso. Vamos tentar tirar tudo hoje. O que não for possível retirar, vamos detonar no local mesmo”.
A estimativa é que os danos ambientais cheguem a 50 mil metros quadrados de área impactada – incluindo áreas de Preservação Permanente e muitos animais. A Polícia Ambiental, vinculada à Polícia Militar (PM), já esteve no local fazendo seus levantamentos e vai repassar os dados para o Instituto Ambiental do Paraná (IAP) e o Ministério Público (MP).
Investigações
O dono da empresa, Milton Lino da Silva, de 61 anos, preso por danos ao patrimônio público e privado, crime ambiental e lesão corporal, continua detido. Bradock informou que também vai pedir o bloqueio dos bens do empresário para ajuizar reparação às vítimas.
“Vamos solicitar ainda pela manhã. Vamos pedir ao Poder Judiciário o bloqueio de bens. Os danos materiais foram muito grandes. As pessoas da região são humildes, não têm de onde tirar o dinheiro para recuperar as casas”, afirma o delegado.
A defesa do empresário já se manifestou ao juiz requerendo a soltura. “É uma empresa sólida, com todas as licenças ambientais e alvarás válidos. Já informamos e registramos a todas as partes que, independente de responsabilidade ou não, fato criminoso ou não, a empresa vai auxiliar as pessoas de todas as formas para tentar minimizar os danos”, afirma Caio Fortes de Matheus, responsável pela defesa do dono da Explopar.
Segundo o advogado, duas testemunhas já prestaram esclarecimentos a favor da empresa. Uma delas teria visto fumaça saindo do barracão da empresa e ouviu o estrondo de um pneu estourando.
“Essa testemunha chamou o marido e eles viram o pneu traseiro de um caminhão que estava parado há dias na empresa pegando fogo. O incêndio tomou maiores proporções e eles fugiram da explosão. Não há outra hipótese senão alguém ter colocado fogo no caminhão. Ele não teria entrado em autocombustão”, acrescentou Matheus.
Segurança e omissão do Estado
O delegado, no entanto, aponta também outra linha de investigação, a que recai sobre os padrões de segurança da empresa. Conforme Bradock, a empresa foi furtada há pouco mais de um mês. No crime, 105 quilos de dinamite foram levados do local, que, segundo apontou o delegado, “não tinha segurança nenhuma”.
“Simplesmente entraram e levaram o material. O Exército colocou algumas prerrogativas para a empresa cumprir, com prazo definido. Mas pelo jeito isso não foi cumprido. Há 20 anos a empresa lida com explosivos e não tinha pensado na segurança?”, questiona Bradock. Para ele, pode ter havido omissão do Estado na formação das vilas ao redor da empresa.
“Quando a empresa chegou, não tinha a vila ao redor (Vila Angélica, no bairro Aterradinho). Ou o Estado errou em deixar as pessoas construírem casa na região ou errou em não cancelar a licença da empresa, para que ela se mudasse para mais longe. Era visto que daria problema. E deu no que deu”.
O advogado do dono da empresa não soube informar se essa orientação do Exército previa multa, mas disse que a empresa já vinha se adaptando. “As recomendações foram administrativas. Nada a ver com o Certificado de Registro, emitido pelo Exército. Eu peguei na mão orçamentos das empresas de câmera de segurança. As recomendações estavam sendo cumpridas dentro do prazo. Tanto a empresa não estava fora da lei que o Exército, na vistoria, não embargou ou fechou a companhia”. Ainda segundo o advogado, todas as licenças estavam em dia.
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