O ministro-chefe da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), Roberto Mangabeira Unger, defendeu hoje a revisão da política indigenista brasileira, que, segundo ele, é ao mesmo tempo magnânima e cruel em relação aos índios, que acabam expostos à desintegração social. Também coordenador do Plano Amazônia Sustentável (PAS), Unger disse que os índios devem poder escolher se vão permanecer ou não nas suas culturas originais e que, para isso, devem ter oportunidades educativas e econômicas.

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Em palestra na Coordenação dos Programas de Pós-graduação de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ), Unger atacou a visão da antropologia que, de acordo com ele, encara a história não como história de indivíduos, mas de culturas a serem preservadas. "Reservamos uma parte grande do nosso território nacional aos indígenas", disse o ministro, no debate "Amazônia: a Floresta em Pé para Quem?".

"E é bom que o façamos. É 21% da Amazônia. Mas, paradoxalmente, ao reservar essas terras aos indígenas, costumamos negar-lhes as oportunidades econômicas e educativas. Os indígenas não são crianças. Não devem ser títeres das nossas fantasias ideológicas. Os indígenas devem poder escolher se vão se manter nas suas culturas tradicionais ou se vão se rebelar contra elas. E para poder escolher precisam ter os instrumentos da oportunidade educativa e econômica", afirmou.

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Para Unger, a grande questão nacional hoje é repensar a política indigenista. "Para que não permaneçamos nessa combinação perversa e paradoxal da magnanimidade e da crueldade que é o que temos hoje", disse. Unger afirmou que os brasileiros "de alguma forma" delegaram grande parte da política indigenista "à tradição intelectual dominante, a antropologia cultural", que é "uma heresia dentro da nossa civilização ocidental".