Os índios da reserva Raposa Serra do Sol, em Roraima, prometem resistir caso o Supremo Tribunal Federal (STF) reveja a demarcação da área, homologada em 2005 por decreto pelo presidente Luiz Inácio da Silva. O STF decide nesta quarta-feira (27) a validade da demarcação.
"Vamos resistir até o último índio", afirmou ao G1 o tuxaua (líder indígena) Eusébio de Lima Marques, da etnia macuxi, que é ligado ao Conselho Indígena de Roraima (CIR). "Enquanto tiver um índio vivo, vamos perturbar."
Marques disse que os índios não vão desistir da terra. "Não vamos abrir mão. Ela nos pertence", afirmou. Desde a semana passada, índios da reserva têm se reunido na vila indígena de Surumu, à espera da decisão do STF.
Segundo o tuxaua Dejacir Melquior da Silva, a reserva tem quase 19 mil indígenas espalhados em 194 aldeias ou vilas. "O povo está se mobilizando, vindo de várias áreas do estado, somando forças", disse.
STF
Para o tuxaua, a questão de Raposa Serra do Sol pode ter reflexos sobre áreas de conflito em outras regiões do Brasil. "Nossa briga não é só pela Raposa Serra do Sol, não só em Roraima, mas em todo o Brasil. Mexe com todo o povo indígena", declarou.
A idéia é compartilhada pelos ministros do STF, que já declararam que a decisão deve servir de marco para a questão indígena no país, norteando decisões sobre outras áreas de conflito.
Silva disse que está confiante em uma decisão do STF favorável aos índios, apesar de dizer que "a Justiça nunca foi favorável ao índio". "Se ela apoiasse os índios, eles [os fazendeiros] já tinham saído [da reserva]" declarou.
Segundo ele, desde os anos 1980, 21 indígenas foram assassinados e, apesar de todos os supostos assassinos terem sido denunciados, nunca ninguém foi preso. "Nós sempre seguimos a lei do branco, a Constituição, mas quando a lei é para benefício do índio ela não vale? A lei está escrita."
De acordo com ele, não é possível fazer demarcação da reserva por "ilhas", como querem os produtores, porque a região não tem uma geografia homogênea. "Tem área com campos, com mata, com serras, com água. Não dá para dividir assim", disse.
Para o tuxaua, se os fazendeiros deixarem a reserva, os índios poderão produzir. "Nós temos 36 mil cabeças de gado na Raposa, temos cavalos, porcos, galinhas. Se eles saírem, nós temos como trabalhar", disse Silva.
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